A 36ª Bienal de São Paulo será composta de forma preponderante por artistas da América Latina e África.
Ao todo, 120 artistas apresentarão trabalhos no parque Ibirapuera e outros cinco na Mansão do Povo, região medial da cidade. Dos 125 participantes, 28% são africanos, 25% são sul-americanos e 16% são asiáticos, grupo que está empatado com os europeus em termos de representação.
Entre os nomes de origem europeia, a reportagem incluiu dois artistas de Guadalupe, ilhéu caribenha que faz secção da França, e um artista nascido na Turquia, país localizado entre a Ásia e a Europa
A prevalência de artistas de países emergentes dialoga com um movimento mais grande. Nos últimos anos, museus, galerias e exposições ao volta do mundo têm feito esforços em direção ao aumento da inconstância racial, sexual e geográfica. Foi o que aconteceu, por exemplo, na edição de 2023 da Bienal, quando o evento foi constituído, majoritariamente, por artistas não brancos.
A última edição da Bienal de Veneza, a mais prestigiada do mundo, também fez acenos à inclusão. O evento escolheu uma vez que curador Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp que se tornou o primeiro latino-americano a ocupar o missão em mais de um século. Sob o título “Foreigners Everywhere”, a mostra deu destaque a migrantes, expatriados e refugiados, posicionando no meio quem ocupava as margens do giro artístico.
Embora os sul-americanos e africanos predominem nesta edição da Bienal de São Paulo, a curadoria diz que a seleção não foi feita com isso em mente. “Eu não pensei em artistas de partes sub-representadas do mundo, e sim nos nomes mais brilhantes do mundo”, diz Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador universal desta edição e diretor do Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. “Não é a Bienal dos artistas sub-representados.”
É uma asseveração alinhada com aquilo que ele já havia dito em outubro do ano pretérito, quando o noção da exposição foi anunciado. Sob o título “Nem Todo Viandante Anda Estradas – Da Humanidade uma vez que Prática”, a edição pretende imaginar novas formas de humanidade, pautadas no encontro e no diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais. À idade, o curador disse que não iria transformar raça e gênero em mercadoria.
Desta vez, reafirmou esse pensamento e acrescentou que não escolheu os artistas por quinhão. “Não se trata de tentar somente preencher certas lacunas históricas, mas sim de olhar para o mundo de forma realista e ver quem está fazendo o quê e uma vez que”, diz ele. “Se houver mais mulheres ou mais pessoas de uma região, é porque essas pessoas estão fazendo um bom trabalho.”
Um dos destaques da seleção é a nigeriana Otobong Nkanga, artista que já participou da Bienal de Veneza e da Documenta de Kassel —as duas exposições de arte mais importantes do mundo.
Aliás, ela tem obras em acervos de instituições uma vez que o Museu de Arte Moderna de Novidade York, o MoMA, Centre Pompidou, em Paris, e o Tate Modern, em Londres.
Em sua prática artística, Nkanga recorre a instalações, fotografias e esculturas para pensar a relação do ser humano com o meio envolvente.
A natureza, inclusive, é um dos eixos centrais desta edição. Evidência disso é a metodologia usada para a seleção dos artistas. Cada um dos membros da equipe curatorial escolheu uma ave, uma vez que trinta-réis-ártico e gavião-de-cauda-vermelha. Depois, os curadores estudaram o fluxo migratório delas, selecionando artistas usando uma vez que referência as regiões que os pássaros atravessam.
A chuva é outro elemento importante, e inspirou o projeto arquitetônico. Assinado por Gisele de Paula e Tiago Guimarães, o espaço expositivo deve trazer a tortuosidade dos rios para o pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera.
Movimentos fluviais, aliás, são a base do trabalho de Rebeca Carapiá, uma das 30 artistas brasileiras selecionadas. No ano pretérito, ela criou sobre um lago de Inhotim uma estátua inspirada nas marcas de chuva da Serra da Capivara, sítio arqueológico do Piauí.
“O serpentear das águas é uma vez que o movimento da vida”, diz Ndikung, o curador. “A chuva passou a valer subdivisão, mas o Atlântico não separa a África da América. Ele, na verdade, une esses dois continentes.”
A teoria de encontro estará presente em uma obra do colombiano Oscar Murillo feita de forma coletiva durante uma ação na avenida Paulista, em abril.
A celebração da coletividade pode ser vista também nas telas de Heitor dos Prazeres, artista que pintou o Brasil do samba, do carnaval e da negritude. Para o curador, as obras do carioca dialogam com a proposta curatorial deste ano, que é imaginar novas formas de humanidade.
“Se nos engajamos em um projeto que pensa nas múltiplas facetas da humanidade, é preciso olhar para a vida cotidiana”, diz Ndikung. “Apesar de todos os problemas, uma vez que o racismo, as pessoas nas telas de Heitor estão dançando e fazendo música. É um pintor que nos mostra a poética e a política da venustidade.”
Colaborou Davi Galantier Krasilchik