Biólogos Minimizam Sofrimento De Fauna Ameaçada Pelo Fogo No Pantanal

Biólogos minimizam sofrimento de fauna ameaçada pelo fogo no Pantanal

Brasil

Quatro anos posteriormente os devastadores incêndios que incineraram muro de 30% do Pantanal brasiliano, o queimada volta a ameaçar as espécies animais que vivem na região, considerada um santuário da biodiversidade e um patrimônio procedente da humanidade. Enquanto brigadistas, bombeiros, militares e voluntários tentam extinguir as chamas as chamas, biólogos, veterinários e outros profissionais se dedicam a minimizar o sofrimento bicho

“O queimada é um fator estressante para a biodiversidade. Devemos ter muito zelo, pois é difícil prever por quanto tempo mais toda essa opulência em termos de fauna e flora resistirá até começarmos a perder irremediavelmente espécies para esses incêndios intensos, que têm queimado repetidas vezes as mesmas áreas”, disse à Sucursal Brasil o biólogo Wener Hugo Arruda Mulato, do Instituto Varão Pantaneiro (IHP), organização não governamental (ONG) que desde 2002 atua na conservação e preservação do Pantanal.

Corumbá (MS), 01/07/2024 - Brigadista observa acampamento montado na  na Base do Prevfogo/Ibama. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Corumbá (MS), 01/07/2024 - Brigadista observa acampamento montado na  na Base do Prevfogo/Ibama. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Brigadista observa acampamento montado na na Base do Prevfogo/Ibama. Foto – Marcelo Camargo/Sucursal Brasil

O instituto é uma das organizações da sociedade social que integram o Grupo de Resgate Técnico Bicho Concentrado Pantanal (Gretap), junto a representantes de órgãos, entidades e instituições sul-mato-grossenses e federais, uma vez que o Instituto Brasiliano do Meio Envolvente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O grupo foi instituído em abril de 2021, na esteira dos incêndios que se seguiram à grande seca de 2019 e 2020, a mais severa registrada em 50 anos. Cabe ao Gretap monitorar, determinar, resgatar e dar assistência a animais afetados por  eventuais desastres ambientais no Mato Grosso do Sul. Pela experiência de seus integrantes, em maio deste ano, segmento do grupo viajou ao Rio Grande do Sul, onde participou do resgate e atendimento a animais domésticos e silvestres atingidos pelas recentes enchentes no estado.

Estudo que pesquisadores brasileiros publicaram em dezembro de 2021, no periódico Scientific Reports, estima que, em 2020, os incêndios pantaneiros mataram, diretamente, muro de 17 milhões de animais vertebrados.

A mortalidade foi maior entre as pequenas serpentes (os especialistas estimam que 9,4 milhões delas morreram) e pequenos roedores (3,3 milhões). Aproximadamente 1,5 milhão de aves morreram queimadas, intoxicadas ou, posteriormente, de míngua. As chamas ou suas consequências também tiraram a vida de 458 milénio primatas, 237 milénio jacarés e 220 milénio tamanduás.

Ainda é cedo para proferir se a tragédia se repetirá nascente ano, em dimensões semelhantes. Mas, autoridades já reconhecem que o número de focos de incêndio registrados no bioma ao longo do primeiro semestre deste ano é o maior para o período dos últimos 26 anos, superando inclusive o resultado de 2020.

Mapbiomas

Outrossim, de pacto com a rede Mapbiomas, em junho deste ano foi registrada a maior média de superfície queimada para o mesmo mês desde 2012. A marca superou a média histórica de setembro, mês em que os focos de calor tendem a intensificar, dada a persistência do clima sedento.

“Cá, em Mato Grosso do Sul, nosso trabalho se intensificou muito nos últimos tempos, principalmente no último mês”, afirmou Mulato.

“Estamos frequentemente indo às áreas pantaneiras atingidas pelos incêndios. Verificamos o envolvente, e vemos se os animais estão retornam às áreas debilitados, ou se as espécies que lá permanecem têm refúgios para obter os recursos necessários à sobrevivência. Temos observado muitas carcaças de répteis, pequenos roedores e anfíbios, mas ainda estamos começando o processo de narração”, disse Mulato. Ele destacou a velocidade com que o queimada tem se espalhado pela vegetação, que nesta era do ano costuma estar bastante seca.

“O Pantanal não é para amadores. É preciso saber muito a superfície, saber uma vez que se formam os corredores de propagação do queimada. O queimada é terrífico. A velocidade com que ele avança e o tamanho da superfície atingida são impressionantes. Combater às chamas e proteger a fauna é um trabalho difícil.”

Segundo Mulato, antes de ir a campo, os agentes precisam fazer um diagnóstico preparatório da superfície, usando drones e ferramentas de geoprocessamento.

“Temos que esperar entre 48 horas e 72 horas a partir do término das chamas para podermos mudar uma equipe para determinado lugar, sob risco de deixar as pessoas em risco”, acrescentou Mulato, destacando os riscos da atividade.

“Daí a sensação de conforto que sinto quando localizamos um bicho que, apesar de tudo, não precisa de resgate, que basta o monitorarmos e, se preciso, suplementar a alimento até que a vegetação se recomponha.”

No término do mês pretérito, o fotógrafo da Sucursal Brasil, Marcelo Camargo, passou dias acompanhando brigadistas combatendo as chamas. Camargo testemunhou e registrou o sofrimento bicho e a devastação da vegetação pantaneira. Na manhã do dia 30, enquanto se deslocavam, de helicóptero, para uma superfície de difícil chegada, as equipes avistaram um tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, pousado na despensa de uma grande árvore, em meio a uma superfície ainda fumegante. Olhando mais atentamente, perceberam que o bicho parecia estar protegendo seus ovos, em um ninho construído entre os galhos mais altos.  

Corumbá (MS), 01/07/2024 - Após a chegada de mais equipamentos e reforços vindos de várias partes do País, brigadistas se preparam na Base do Prevfogo/Ibama para mais um dia de combates. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Corumbá (MS), 01/07/2024 - Após a chegada de mais equipamentos e reforços vindos de várias partes do País, brigadistas se preparam na Base do Prevfogo/Ibama para mais um dia de combates. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 Posteriormente a chegada de mais equipamentos e reforços vindos de várias partes do País, brigadistas se preparam na Base do Prevfogo/Ibama para mais um dia de combates. Foto: – Marcelo Camargo/Sucursal Brasil

“Seria o primeiro dia de atuação da equipe de brigadistas quilombolas da comunidade Kalunga, de Cavalcante [GO], na região. Estávamos a caminho de uma superfície de mata fechada com um grande número de focos de incêndio, sobre 50 quilômetros de Corumbá [MS]. Durante o trajectória, o piloto do helicóptero avistou o tuiuiú e identificou o ninho, no elevado da árvore, com ao menos três ovos dentro. Ainda havia um foco de incêndio ao volta da árvore, que estava expelindo fumaça. Os pilotos sobrevoaram o sítio para marcar as coordenadas [de geolocalização], para que os brigadistas tentassem acessar o sítio em outro momento. Eu portanto consegui registrar minhas primeiras imagens”, contou Camargo ao retornar a Brasília.

“Seguimos para nosso tramontana, a partir de onde os brigadistas tiveram que transfixar caminho em meio à mata fechada. Foram muro de duas horas só para conseguirmos chegar ao foco do incêndio. E posteriormente muitas horas, no horário combinado para o helicóptero nos resgatar, não tínhamos conseguido chegar nem perto do sítio onde avistamos o tuiuiú. Durante o voo de volta a Corumbá, eu ainda fiz mais umas fotos. Havia ao menos um pássaro, aparentemente guardando o ninho. Outras pessoas, em outras aeronaves, disseram ter visto dois pássaros adultos, um par, mas isso eu não presenciei. Na manhã seguinte, o piloto do primeiro helicóptero que passou pelo sítio já não encontrou a árvore de pé. Mais tarde, quando consegui lugar em uma aeroplano, consegui identificar segmento da árvore caída no pavimento e o ninho, aparentemente queimado, próximo”, relatou o fotógrafo da Sucursal Brasil.

Uma família de bugios teve um pouco mais de sorte. Ou muito mais sorte, considerando que, apesar de expulsos de seu quadrilha e com dificuldades para encontrar víveres, não sofreram qualquer ferimento e estão recebendo ajuda dos membros do Gretap, conforme contou o biólogo do Instituto do Varão Pantaneiro.

“Recebemos o chamado de uma senhora, ribeirinha, que achava que a fêmea tinha sofrido queimaduras e precisava de cuidados. Ao chegarmos à superfície, na região de Baía do Forte, na margem direita do Rio Paraguai, sobre duas horas de viagem de navio a partir de Corumbá, encontramos um quadrilha de bugios e macacos-da-noite. Só na segunda tentativa localizamos, isolada, a fêmea que procurávamos. Ela não tinha queimaduras. Era seu filhote, recém-nascido, bastante magro e debilitado, que estava se segurando nela. Além da fêmea com seu filhote, havia um viril. Provavelmente, os três foram expulsos de seu grupo devido à escassez de recursos. Nestes casos, nossa estratégia é monitorar os animais. Administramos um pouco de frutas, um aporte nutricional essencial, e instalamos câmeras na superfície para podermos observar se o quadrilha vai concordar os víveres”, concluiu  Wener Hugo Arruda Mulato.

Devastação

Coordenadora operacional do Grupo de Resgate Técnico Bicho Concentrado Pantanal (Gretap), a bióloga e veterinária Paula Helena Santa Rita reforça que as consequências de mais uma temporada de queimada sem controle estão sendo “devastadoras” para os animais.

“Para a fauna, as consequências são as piores possíveis. Vão da morte direta de animais, por incineração e inalação de fumaça e sujeira, a mortes posteriores, por falta de víveres e outras questões, podendo, inclusive, no limite, interferir na questão da reprodução das espécies, caso haja a perda de um número significativo de indivíduos”, explicou Paula.

“Alguns fatores, uma vez que a própria ação humana, se somaram e tivemos a antecipação [ocorrência] do queimada. Nós [do Gretap] estamos monitorando a situação, principalmente em locais por onde o queimada já passou, e fazendo o aporte nutricional essencial quando necessário. Também deslocamos alguns animais que encontramos próximos a áreas de queimada”, concluiu a coordenadora do Gretap.

Fonte EBC

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