O verdejante da Quinta da Boa Vista ganhou a companhia de novas cores em um carnaval para todas as faixas etárias. Assim uma vez que acontece todos os sábados, o parque localizado na zona setentrião do Rio de Janeiro foi o fado escolhido para o passeio de diversas famílias. Mas não é um término de semana generalidade: crianças, pais e avós caíram na folia com o Conjunto da Terreirada.
Junto a eles, jovens com fantasias coloridas formavam uma aglomeração para escoltar o encontro entre ritmos nordestinos e a tradição do carnaval carioca. A apresentação do Conjunto da Terreirada é repleta de signos e referências da cultura popular, em peculiar o Reisado de Congo do Cariri.
O reencontro de Isaque com sua mãe, depois um pequeno susto, comprovava a atmosfera acolhedora. Posteriormente o sumiço da menino em meio aos presentes, líderes do conjunto pediram que todos se assentassem. A mobilização permitiu que ela fosse rapidamente localizada, sob aplausos coletivos.
A originalidade das fantasias facilitava as brincadeiras entre desconhecidos. Um Vincent Van Gogh não cansava de tirar fotos com foliões que o abordavam sucessivamente. Vestindo uma das fantasias mais criativas, a diretora de arte visual Beatriz Moisés destacou que a atmosfera também é influenciada pelo conforto do espaço. Com uma grande nuvem na cabeça, ela teria dificuldades de se locomover em outros blocos que transitam por vias apertadas.
“Fiz muito de última hora. Estava trabalhando na montagem de um cenário e aproveitei materiais que estavam sobrando. Usei uma lanterna japonesa para montar a base de cabeça e acrilon por fora. E fiz essa chuvinha com pedrinhas. Primeiro surgiu a teoria de fazer a fantasia. Depois eu pensei em um conjunto que onde eu pudesse ir com ela. Um que coubesse ela. E uma vez que eu senhoril o Terreirada, foi a escolha certa. Não sei expressar o porquê, mas eu senhoril o Terreirada. Eu venho todo ano sim, acho lindo”, explicou.
Outros dois foliões também viram no Terreirada Cearense o conjunto ideal para exibiram suas fantasias originais. “A teoria era fazer alguma coisa que ligado às crianças, ligado à tranquilidade. Portanto a gente quis juntar bonecos, fitas, emojis. Uma mistura justamente para colocar a menino para fora nesse carnaval. Quando a gente terminou o figurino, a gente falou: ‘é a rosto de uma terreirada’. A gente vai se divertir bastante”, disse o agente de viagem, Leonardo Silva.
O conjunto surgiu em 2012 e, desde 2015, tem a formato de filarmónica, percussão e perna de pau. Anualmente, há duas grandes apresentações: uma celebração de carnaval e um arraial em junho, também na Quinta da Boa Vista. Ensaios e outros eventos menores também são realizados sem data fixa.
Segundo explicou à Dependência Brasil a produtora-executiva do conjunto, Juliana Costa, a filarmónica é composta por Deya Motta, Natascha Falcão, Thalita Duarte, Vitoria Rodrigues, Beto Lemos, Gabe Pontes e Eduardo Karranka. O desfile mobilizou ainda 200 componentes, divididos também entre a Flanco da Percussão e a Flanco dos Pernaltas.
Entre os participantes, estão alunos de oficinas de percussão e de perna de pau realizadas pelo conjunto. “A gente tem parceria com dois projetos. Um é a Liga do Muito. O outro é o Ser Muchacho Perna de Pau, que levam as crianças para a apresentação”, informou Juliana. Tapume de 15 crianças participam da oficina, entre 8 e 14 anos de idade, além de alguns pais e mães.
A Flanco de Percussão está sob responsabilidade pela maestrina Thais Bezerra, que também assina a direção músico dos enredos e apresentações do conjunto. Ela comanda uma oficina dois dias por semana. Nas aulas, ela trabalha a música uma vez que instrumento do brinquedo popular, explorando os folguedos e a variedade rítmica da cultura brasileira. São usados instrumentos variados uma vez que zabumba, alfaia, Caixa, xequerê, ganzá, triângulo e agogô.
Já a Flanco Pernalta se desdobra da oficina de perna de pau que, desde 2014, estrutura a linguagem performática das apresentações. As aulas são comandadas pela atriz, educadora e artista multilinguagem Raquel Potí, também responsável pela direção artística e cênica do conjunto. A oficina acontece nos jardins do Museu de Arte Moderna (MAM), na zona sul do Rio de Janeiro, aos sábados. Conforme divulga o conjunto, as aulas proporcionam aos alunos a oportunidade de “ver a si e o mundo a partir de um novo ponto de vista, potencializar potências, fortalecer comunidades, promover o desenvolvimento pessoal e coletivo, folgar e fazer arte”.
Bebida mineira
A bebida que se tornou febre no carnaval de Belo Horizonte nos últimos anos também marcou presença na Quinta da Boa Vista. Fabiano de Gonçalves Medeiros apostou na venda do xeque mate para buscar uma renda extra em meio à folia. “Está pegando muito, está fazendo sucesso cá. Tem uma curiosidade por motivo dos ingredientes. E culturalmente o mate é muito presente no Rio. As pessoas tomam na praia, nas lanchonetes”, disse.
Goiano, Fabiano é geólogo e está realizando sua pós-graduação no Rio de Janeiro. Uma das matérias do curso foi concluída em intercâmbio na Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. “Todo mundo lá é enamorado por essa bebida. Eu fiquei lá um mês. Está fazendo um sucesso merecido. Mas é uma bebida que tem que ter zelo. Porque o mate com guaraná e limão mascara o paladar do rum. Portanto você está tomando uma bebida refrescante, mas que tem mais de 8% de álcool. Na terceira ou quarta, já pode permanecer balançado”, conta.