Bob Wolfenson Mostra A Moda Entre A Fábula E A

Bob Wolfenson mostra a moda entre a fábula e a melancolia – 06/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Fernanda Montenegro caminha na orla de Ipanema, postura relaxada, frase serena. Quem olha assim pode até descobrir que a retrato é despretensiosa, feita sem esforço, mas isso seria um ilusão. Para tomar o momento, Bob Wolfenson fez a atriz repetir a cena ao menos dez vezes, uma vez que se a sessão de fotos fosse o tentativa de uma peça, e ele, o diretor do espetáculo.

“Retrato de tendência é uma ficção e um manobra de dramatização teatral. Assim uma vez que uma peça, é preciso ensaiar dezenas de vezes. Por meio da tendência, eu construo histórias e fábulas”, diz Wolfenson, que comemora 70 anos neste domingo e agora expõe essas narrativas na mostra “Momento Construído”, na galeria Mario Cohen, na zona oeste da capital paulista.

O título da exposição, aliás, deixa evidente que a aparente espontaneidade dos ensaios de tendência é um resultado fabricado. “E quanto menos isso for perceptível, melhor”, diz ele, para quem a retrato é uma meia verdade. “Acho uma balela essa procura pela pureza. Ao fotografar, a gente faz seleções e exclusões. A câmera não consegue sofrear toda a verdade.”

A mostra traz 33 imagens de nomes uma vez que Gisele Bündchen, Vera Fischer e Alessandra Negrini feitas para revistas de tendência e para a Playboy. Embora sejam de diferentes períodos, a maioria delas têm em geral uma certa melancolia.

“Poucas imagens têm pessoas sorrindo”, diz Mario Cohen, curador da exposição. “Não é tristeza, mas um ar mais reflexivo. É um traço que está por trás de quase todo o trabalho, independentemente do que ele esteja fotografando.”

Exemplo disso é uma retrato feita para a revista Elle, em 2010. Na obra, a protótipo veste roupas que remetem aos anos 1950 e está encarando o próprio revérbero no espelho de um banheiro. O cenário é de grande venustidade estética, mas de enorme isolamento emocional.

“É quase uma vez que se não houvesse subterfúgio. É um momento de muita rarefação atmosférica”, diz Wolfenson.

Para fazer essa foto, o fotógrafo se inspirou no filme “As Horas”, de Stephen Daldry. Lançado em 2002, o longa entrelaça os dramas vividos por três mulheres, dentre elas Virginia Woolf, escritora inglesa que se suicidou aos 59 anos.

“Eu sou uma pessoa muito extrovertida, mas o meu trabalho carrega essa melancolia que provavelmente deve estar dentro de mim de alguma forma”, diz ele, acrescentando que as obras guardam vestígios de sua personalidade.

“Isso está presente em todo trabalho que é visceral e que você patroa fazer. Muitas vezes, eu estava sob encomenda de alguém, mas tinha um mantra na cabeça: ‘seja artista o tempo todo, mesmo que a retrato seja a de um parafuso.'”

Para o fotógrafo, esse vista mais autoral de sua produção fez com que as obras sobrevivessem à passagem dos anos.

“Se a retrato permanece é porque ela diz alguma coisa. É uma vez que se elas fossem a crônica de uma estação por mostrar os gostos e o comportamento desse período.”

Além de ser um revérbero de sua personalidade, as imagens espelham também a origem de Wolfenson. Nascido na capital paulista, o fotógrafo faz de espaços urbanos cenários recorrentes de seus ensaios.

Em uma das fotografias da exposição, vemos uma protótipo de salto cocuruto, collant preto e peruca loira na saída de um túnel de São Paulo. Em outra imagem, a fotografada desfila no meio do trânsito de Chiang Mai, na Tailândia, ao lado de quatro motocicletas. “O meu trabalho é de traje muito paulistano, urbano e cosmopolita.”

Em 2004, São Paulo esteve em evidência na exposição “Antifachada/Encadernação Dourada”, realizada no Museu de Arte Brasileira da Faap, a Instauração Armando Alvares Penteado.

Ao longo de nove meses, ele fotografou detalhes de edifícios da cidade, uma vez que o Viadutos, projetado por Artacho Jurado, e o Copan, de Oscar Niemeyer —retrato que se tornou paradigmática ao mostrar os fundos do prédio modernista.

“É uma imagem muito poderoso e reconhecível, tanto que é a retrato que eu mais vendi até hoje”, diz Wolfenson, que considera a exposição um divisor de águas em sua curso. Até aquele momento, ele era associado à segmento mercantil da retrato, e não tanto aos aspectos conceituais da profissão.

“‘Antifachadas’ foi tão pujante que a galeria Millan me convidou para ser membro e passei a frequentar um mundo em que eu não era aceito”, afirma o fotógrafo. “Isso não era dito para mim, mas você percebe quando faz segmento de um outro mundo.”

A partir daí, ele começou a desenvolver projetos mais conceituais em paralelo aos trabalhos voltados ao mercado. “Hoje em dia, não tenho mais essa dicotomia. Eu junto tudo.”

Ele também tem ministrado workshops, uma vez que o que realizará a partir de quarta-feira (11), no Peru. Durante uma semana, o fotógrafo irá compartilhar técnicas sobre o ofício aos alunos, que colocarão em prática o tirocínio registrando as paisagens do país andino. “É um convívio fotográfico, uma experiência que eu nunca tinha feito.”

Além das fotos de tendência, Wolfenson se notabilizou pelos retratos de grandes nomes da cultura brasileira, uma vez que João Cabral de Melo Neto, Pelé, Chico Buarque e Caetano Veloso. No retrato célebre do baiano, Caetano está com uma das sobrancelhas arqueadas em uma frase que pode ser tanto de espanto quanto de julgamento. É uma retrato que destoa das outras imagens públicas do artista.

“Eu não quero fazer um pouco placa branca. Nem sempre consigo, mas procuro imagens que não sejam controladas pela pessoa.” No entanto, esse é um processo que depende da interação com o fotografado. “O retrato obedece à natureza dos encontros. Você tem o seu roteiro, mas o outro é um sujeito ativo.”

A sessão de fotos, portanto, envolve mediar interesses pessoais, as demandas do fotografado e as exigências de quem encomendou a imagem. “É um campo de força com o qual eu preciso mourejar, mas talvez seja nessa tensão que esteja alguma coisa intrigante sobre o meu trabalho.”

Wolfenson começou na profissão com 16 anos fazendo retratos. Depois que se formou em ciências sociais pela Universidade de São Paulo, mudou-se para Novidade York, onde foi assistente do fotógrafo Bill King.

Ao voltar para o Brasil, conquistou espaço no mercado de tendência, mas não deixou de lado os retratos. Ele, porém, não se define uma vez que retratista por gostar de transitar entre várias vertentes.

“Nunca fui uma coisa só. Não me alinhei a correntes de retrato nem a ativismos fotográficos porque sempre fui muito independente”, diz Wolfenson. “Eu não poderia ser o profissional que sou hoje sem todos os outros fotógrafos que me habitam.”

Folha

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