Bolsonaro Discutiu Minuta De Golpe Que Previa Prender Moraes, Diz

Bolsonaro discutiu minuta de golpe que previa prender Moraes, diz PF

Brasil

Na decisão em que autorizou a Operação Tempus Veritatis, deflagrada nesta quinta-feira (8) pela Polícia Federalista (PF), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federalista (STF), destaca trecho de relatório policial segundo o qual o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu de um assessor direto uma minuta de decreto “para executar um golpe de Estado”. 

Em outros pontos, o relatório, citado de forma direta por Moraes, aponta reuniões entre militares de subida patente, da ativa e da suplente, que teriam o objetivo de debater aspectos operacionais do golpe. A PF também indica encontros, no Palácio da Alvorada, com a participação de Bolsonaro, que teriam entre os temas em discussão a adesão de militares a um projecto de golpe. 

A PF aponta, ao todo, seis núcleos, que atuaram na tentativa de golpe de Estado e de ataque ao Estado Democrático de Recta: o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; o de incitação ao golpe entre militares; o de atuação jurídica; o de coordenação de ações de suporte operacional; o de lucidez paralela, e o de oficiais de subida patente que legitimavam todas as ações. 

Mandados

Nesta quinta-feira, a PF cumpriu, ao todo, 48 mandados judiciais, quatro deles de prisão. Entre os investigados estão o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno; o ex-ministro da Morada Social general Braga Netto e o ex-ministro da Resguardo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Também foram mira da operação o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres e o ex-assessor privativo da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, que foi recluso em diligência no Paraná. Outro mira é o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, presidente do partido. Uma medida de procura e mortificação foi cumprida na sede da legenda em Brasília. O dirigente partidário foi recluso, em Brasília, por porte ilícito de arma.

Todas as medidas autorizadas por Moraes foram avalizadas pelo procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, que em parecer frisou que os envolvidos, conforme sistematizado pela PF, “visavam, na prática, a reversão do resultado das eleições presidenciais de 2022, de modo a impedir a posse do candidato eleito e, assim, manter o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro no poder”. 

Minuta golpista

A minuta de decreto “para executar um golpe de Estado”, foi entregue ao ex-presidente em 2022 pelo logo assessor da Presidência para Assuntos Internacionais Filipe Martins, que foi recluso preventivamente nesta quinta-feira, e pelo legista Amauri Feres Saad, assinalado uma vez que mentor intelectual do documento. 

O texto, segundo o relatório da PF, almejava a prisão dos ministros do Supremo  Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e também a prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 

O documento previa ainda a realização de novas eleições, diante do que seriam indícios de fraude nas urnas eletrônicas. 

A PF afirma que Bolsonaro teria pedido alterações no documento, para tirar os nomes de Mendes e de Pacheco. Em oferecido momento, a PF afirma que Moraes “foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados à tentativa de Golpe de Estado e Anulação do Estado Democrático de Recta, estavam em realização”.

Nas investigações, a PF menciona que Martins embarcou para os Estados Unidos junto com Bolsonaro em 30 de dezembro de 2022, no avião presidencial, sem passar por procedimentos migratórios. Ele também teria retornado ao país, meses depois, sem registros, “o que pode indicar que tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações criminais”, diz o relatório policial. 

Reunião 

Um dos eventos cruciais para as investigações, conforme aponta a PF, foi uma reunião convocada por Bolsonaro com a subida cúpula do governo federalista e realizada em 5 de julho de 2022. No encontro, o logo presidente teria cobrado aos presentes que se valessem de seus cargos para disseminar informações falsas sobre supostas fraudes nas eleições. 

Um vídeo com a gravação da reunião foi encontrado em um dos computadores do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que fechou negócio de colaboração premiada com a PF, depois ter sido recluso preventivamente nas investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. 

“Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada!”, teria insistido Bolsonaro na ocasião. 

Qualquer tempo depois, o general Augusto Heleno, logo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), menciona uma “viradela de mesa” em relação às eleições. “Não vai ter revisão do VAR. Logo, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse, segundo relatório da PF. 

A partir dessa reunião, teria se oferecido uma sequência de eventos para o planejamento do golpe, descritos em mensagens extraídas de celulares de Mauro Cid e nas quais o ajudante de ordens assume a tarefa de coordenação na disseminação de ataques à Justiça Eleitoral. 

Passada a eleição, com a roteiro de Bolsonaro, teria se iniciado a período de planejamento de uma ação mais efetiva de tropas do Tropa. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, por exemplo, teria organizado reunião em 28 de novembro, em Brasília, com oficiais que aderiram ao golpe para um planejamento operacional. 

Em seguida, Correia Neto envia a Cid minuta de documento chamado “Epístola ao Comandante do Tropa de Oficiais Superiores da Ativa do Tropa Brasílio”, que teria sido redigido na reunião e com o objetivo de pressionar o logo comandante do Tropa, general Freire Gomes, a aderir ao movimento golpista. 

Correia Neto foi recluso preventivamente nesta quinta-feira, por ordem de Moraes. 

A Escritório Brasil tenta contato com as defesas das pessoas mencionadas na reportagem.

Fonte EBC

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