“Forever” é um desses álbuns que às vezes aparecem na história do rock trazendo uma trouxa emotiva que supera o ato de exclusivamente deslindar se as canções são boas ou não. Jon Bon Jovi chega ao décimo sexto disco de sua orquestra (além de dois lançamentos solo) num momento difícil. Acabou de passar por uma cirurgia nas cordas vocais que talvez, exclusivamente talvez, possa permitir que ele continue sua curso no palco.
Assim, aos 62 anos, ele grava um punhado de canções que contemplam praticamente um pouco de tudo que ele já fez. O face é um dos maiores desse chamado rock de estádio, para levantar multidões, e as 12 faixas do álbum não deixam o ouvinte olvidar disso um momento sequer. Vindo de New Jersey, na costa leste norte-americana, Bon Jovi chegou a uma popularidade que engoliu as bandas da costa oeste que surgiram na mesma quadra, uma vez que Mötley Crüe, Poison e outras menos cotadas.
Se a turnê não vier por imposição dos problemas médicos, é difícil deixar de pensar que o trabalho de “Forever” ficará incompleto. Porque poucos nomes no rock são tão talentosos uma vez que Jon Bon Jovi para ortografar canções que conseguem incendiar as plateias. Nesta última leva, pelo menos meia dúzia de faixas têm esse potencial.
“Living Proof”, com o pedal de guitarra wah-wah que marca alguns de seus hits, parece ter saído dos álbuns multiplatinados nos anos 1980. Fica na galeria de maiores momentos do grupo, mais ou menos ali entre “Livin’ on a Prayer” e “You Give Love a Bad Name”. Mas, que fique simples, o novo álbum não é nostálgico. Mais do que a procura por um pouco que ficou para trás, serve uma vez que um mostruário do que é fazer rock na visão de Jon Bon Jovi.
As pontes das novas canções com antigos sucessos que moram na memória afetiva de gerações são até óbvias demais. Para quem tem uma vez que favorita “Blaze of Glory”, a típica melodia de caubói está potente em “Waves”. Se a preferência do idoso fã recair em baladas emocionantes uma vez que “I’ll Be There for You”, é melhor encetar a ouvir o novo disco por “I Wrote You a Song”.
A temática romântica que acompanha Jon Bon Jovi desde os primeiros shows em botecos de New Jersey continua dando o rumo das letras, mas há uma evidente maturidade na hora de falar de quem se patroa. As duas músicas que abrem a audição do álbum, “Legendary” (primeiro single) e “We Made It Look Easy”, dedicadas a sua mulher, falam mais de um companheirismo carinhoso numa longa jornada do que paixão juvenil fulminante.
É curioso que talvez a enunciação de paixão mais explícita e intensa que aparece na novidade safra de canções não é dirigida a uma mulher. “My First Guitar” é dedicada à primeira guitarra comprada pelo juvenil Jon Bon Jovi, há quase 50 anos. Uma melodia tão afetuosa que bastaria trocar nos versos a vocábulo “guitarra” por “paixão” para que ela entrasse no repertório dos apaixonados.
“Forever” não é um disco impecável porque às vezes ele derrapa mal-parecido nesse romantismo exacerbado. Duas faixas poderiam tranquilamente ser eliminadas numa versão mais enxuta do álbum: “Living in Paradise”, esta pretensiosa e sem foco, e “Kiss the Bride”, quase um constrangedor momento Roberto Carlos do roqueiro americano. Roberto Carlos na temporada medíocre, diga-se.
Mas é quando o rock acelera que o DNA de Bon Jovi fica escancarado. “The People’s House”, com sua introdução pesada e pegajosa, faz o fã sentir saudade de ver o grupo ao vivo. Mas o grande destaque do álbum é mesmo “Walls of Jericho”, que já nasceu uma vez que hino para estádios. Traz o refrão mais cantável de todo o material. Entra sem pedir licença em qualquer disco de “greatest hits” da orquestra.
Uma pergunta que provavelmente passa pela cabeça dos fãs é se o problema nas cordas vocais teria prejudicado o cantor na gravação desse álbum. Qualquer avaliação pode ser um tanto sem sentido, já que os recursos dos estúdios hoje em dia podem melhorar a voz de qualquer um a níveis impressionantes. Ele tem pronunciado que evitou essa muleta vocal. Na verdade, a voz de Bon Jovi parece menos grave em “Forever”, o que não traz incômodo qualquer. Exclusivamente um pormenor que ganha relevância por suas condições de saúde. Mas é impossível pregar qualquer julgamento.
É evidente que ele trocou a fúria juvenil por um exposição lírico e sonoro mais maduro. Assim, é sintomático que o álbum se encerre com “Hollow Man”, que parece extraída de qualquer disco recente de Bruce Springsteen. Musicalmente, e não exclusivamente nesta melodia, Bon Jovi está cada vez mais próximo do vizinho mais famoso em New Jersey – eles moram a poucos quilômetros de intervalo um do outro. Uma boa influência.