'branca de neve' é filme com crise de identidade, diz

‘Branca de Neve’ é filme com crise de identidade, diz BBC – 20/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Remakes em live-action de desenhos animados da Disney geralmente não recebem uma recepção calorosa por segmento da sátira e do público, mas nenhum deles enfrentou tanta hostilidade quanto o novo Branca de Neve e os Sete Anões.

Estaríamos sofrendo de fadiga de princesas da Disney? Talvez, mas há mais coisa envolvida.

Um dos fatores é que o original de 1937 foi o primeiro longa-metragem de animação de Walt Disney e, embora partes dele tenham envelhecido mal, ainda se sustenta porquê uma obra-prima delicada e comovente. Refazer uma animação reverenciada e clássica em live-action é tão sensato quanto refilmar “Cantando na Chuva” porquê um figura entusiasmado.

Outro ponto é que “Branca de Neve”, porquê se labareda oficialmente o filme da Disney, foi criticado por todos os lados do espectro político: foi sentenciado por ser progressista demais —”uma princesa da Disney conhecida por sua pele branca sendo interpretada por uma atriz de progénie colombiana? Porquê ousam?”—, e também por não ser progressista o suficiente —”Anões caricatos em pleno século 21? Porquê ousam?”.

Some-se a isso as declarações das estrelas Rachel Zegler e Gal Gadot sobre a guerra Israel-Gaza, e temos a tempestade perfeita de má publicidade.

A boa notícia para o estúdio é que o filme em si não é um completo sinistro. Não é o pior dos remakes da Disney —essa honra fica com “Pinóquio”, fracasso de Robert Zemeckis lançado direto no streaming—, e embora também não seja o melhor, é sem incerteza o mais fascinante.

O que torna “Branca de Neve” tão único é que parece que alguns produtores quiseram fazer uma homenagem clássica a um raconto de fadas feudal, enquanto outros quiseram produzir uma releitura revisionista, quase marxista.

Em vez de escolherem um caminho, os produtores aparentemente decidiram fazer as duas versões ao mesmo tempo, e o resultado é uma mistura desconcertante de dois filmes diferentes.

Nas primeiras cenas, vemos a versão subversiva. Em uma sequência de brecha longa demais, ouvimos que Branca de Neve (Zegler) não recebeu esse nome por pretexto da cor da pele, porquê na história tradicional, mas por pretexto da nevasca que caía quando nasceu.

Não fica totalmente evidente por que o rei e a rainha decidiram nomear a filha em homenagem ao clima, mas considerando que ela poderia se invocar “Garoa” ou “Vento Poderoso”, talvez deva se considerar com sorte.

A exposição continua com discursos e canções sobre os tempos em que os pais bondosos de Branca de Neve governavam “um reino dos livres e justos”, onde “a repleção da terreno pertencia a todos que a cultivavam”. É o mais próximo que um filme de princesa da Disney já chegou de parafrasear o Manifesto Comunista.

Essas ideias radicais continuam em seguida a morte da mãe de Branca de Neve e o himeneu do rei com uma mulher que se tornará a Rainha Má (Gadot).

Ela alerta seus súditos sobre “uma terrível prenúncio além do reino do sul” e logo explora seus medos para se apossar das riquezas do reino. Com isso, “Branca de Neve” se torna um dos filmes mais francamente políticos do ano —da Disney ou não.

E isso tudo antes mesmo de Branca de Neve saber seu interesse amoroso, Jonathan, papel de Andrew Burnap, que não é mais um príncipe, mas sim o líder de um grupo de ladrões no estilo Robin Hood.

Posteriormente manifestar a Branca de Neve para “parar de pensar e principiar a agir”, ela canta “Waiting on a Wish”, uma cantiga sobre agir em vez de exclusivamente esperar que as coisas melhorem.

É uma resposta contundente aos primeiros contos de fadas da Disney, e deixa o público surpreso com a ousadia do diretor Marc Webb e da roteirista Erin Cressida Wilson. Quanto às pessoas que acharam o trailer “progressista demais”? Esperem até ver o filme.

Mas mal Branca de Neve foge de sua madrasta homicida e se esconde na floresta, sua história se transforma, de repente, em uma recriação leal —embora robótica— do figura de 1937.

A floresta parece uma atração da Disneylândia, com flores artificialmente coloridas e bichinhos de olhos grandes; Zegler se parece com uma funcionária de parque temático, com o vestido de mangas bufantes clássico da personagem; e os anões em CGI ({sigla} para “computer-generated imagery”, imagens geradas por computador) parecem fantoches animalescos dos personagens originais.

Optar por usar esses avatares digitais estranhamente fotorrealistas, em vez de atores de verdade, foi o maior erro de Webb. Ainda assim, essa segmento do filme funciona muito o bastante porquê uma homenagem ao figura.

Zegler, Gadot e seus colegas entregam atuações competentes, e embora “Branca de Neve” nunca alcance o charme ligeiro e cintilante do original, o mesmo pode ser dito de todos os outros remakes da Disney.

Depois, o filme volta ao drama revolucionário. Branca de Neve encontra a gangue de rebeldes de Jonathan, e os dois desenvolvem uma dinâmica divertida ao estilo Princesa Leia / Han Solo enquanto cantam “Princess Problems”, a música mais cativante do novo repertório.

Isso significa que “Branca de Neve” da Disney agora conta não com um, mas dois grupos de habitantes da floresta.

Tudo indica que uma versão do roteiro apostava em um grupo de rebeldes humanos, e outra mantinha os anões tradicionais que dividem uma colmado —e os produtores simplesmente decidiram manter os dois. Um erro bizarro.

Por que apresentar os sete anões se eles não têm nenhum papel relevante? Por que introduzir uma mina mágica de pedras preciosas se ela não é usada na história? Webb teria feito melhor mantendo exclusivamente a gangue de Jonathan e cortando os anões – e não só porque eles são grotescos.

Os problemas de “dupla personalidade” do filme não desaparecem.

Metade dele se passa em uma terreno sombria e decadente, onde Branca de Neve quer liderar uma revolta camponesa e restaurar uma utopia socialista; a outra metade se desenrola em um reino imaginoso, satisfeito e cromatizado, habitado por aristocratas belos e bondosos.

Em certos momentos, os personagens entoam baladas dramáticas de autoempoderamento compostas por Benj Pasek e Justin Paul, os mesmos de “O Rei do Show”; em outros, cantam as melodias alegres de 1937 de Frank Churchill e Larry Morey.

Talvez devêssemos valorizar o custo-benefício: o estúdio está, na prática, nos dando dois filmes pelo preço de um. Mas os produtores deveriam ter escolhido um caminho e seguido por ele.

Porquê está, “Branca de Neve” da Disney oscila entre duas estéticas e duas épocas, sem nunca lucrar ritmo. A história é confusa, o tom é incoerente e o ritmo, irregular. Isso não faz do filme um sinistro.

De certa forma, essa crise de identidade é o que o torna interessante. Mas essa produção desconjuntada será mais apreciada por estudantes de cinema e política do que por crianças que esperam ser encantadas pela magia da Disney.

Nascente texto está disponível originalmente cá.

Folha

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