Brasil Não Trata Meio Ambiente Com Seriedade, Diz Promotor

Brasil não trata meio ambiente com seriedade, diz promotor

Brasil

A Associação de Membros do Ministério Público do Meio Envolvente (Abrampa) promove, entre os dias 24 e 26 de abril, em Belém, no Pará, a 22ª edição do Congresso Brasiliano do Ministério Público de Meio Envolvente. O tema é “Amazônia e Mudanças Climáticas: uma atuação socioambiental estratégica e integrada”. Mais de 30 especialistas vão discutir os desafios e as soluções para mourejar com os impactos das mudanças climáticas.

Brasília 20/04/2024 Promotor, Alexandre Gaio, que falou sobre os  principais problemas relacionados à preservação do meio ambiente. Foto Arquivo Pessoal
Brasília 20/04/2024 Promotor, Alexandre Gaio, que falou sobre os  principais problemas relacionados à preservação do meio ambiente. Foto Arquivo Pessoal

Promotor Alexandre Gaio defende ações efetivas de resguardo do meio envolvente e da Amazônia. Foto registro pessoal

A Filial Brasil entrevistou o presidente da Abrampa, Alexandre Gaio. Ele falou sobre os principais problemas relacionados à preservação do meio envolvente, em peculiar, os que envolvem a atuação dos Ministérios Públicos estaduais e federalista. O promotor destacou a falta de seriedade com que o país ainda lida com questões ambientais, o propagação do violação organizado, a falta de proteção com ativistas e comunidades tradicionais, assim porquê os riscos de que os desmatamentos em curso nos principais biomas do Brasil se tornem irreversíveis.

Filial Brasil: O Congresso Brasiliano do Ministério Público de Meio Envolvente vai reunir dezenas de especialistas para debates e palestras. Sendo um setor que demanda ações urgentes, porquê esse encontro pode resultar em medidas práticas e efetivas de proteção do meio envolvente no Brasil?
Alexandre Gaio: Os congressos da Abrampa tradicionalmente buscam palestrantes de várias instituições, que têm uma atuação prática nas temáticas discutidas. Não se trata somente de trazer diagnósticos, mas também proposições do que precisa ser feito para o enfrentamento dos problemas levantados. Nossos convidados são escolhidos pela atuação destacada para que possam servir de exemplo e referência, e os conhecimentos serem replicados nas mais variadas regiões do Brasil.

Também temos participado, seja a partir dos procuradores ou das instituições de forma ativa de Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP). A Abrampa foi nas duas últimas e vai estar presente na próxima. É um processo contínuo de debate e discussão, de convencimento em relação a prioridades e de enfrentamento às mudanças climáticas. Temos defendido nossos pontos de vista. É um espaço para discutir questões jurídicas e qual deve ser a política de Estado para enfrentar os problemas climáticos.

Filial Brasil: Hoje é verosímil expor que o país enfrenta uma série de desafios ambientais. Um, que parece ter cada vez mais ramificações nacionais, é a criminalidade ambiental organizada. Porquê mourejar com essas redes ilícitas complexas?
Alexandre Gaio: Esse tema precisa de muita atenção não só dos Ministérios Públicos, mas das demais instituições públicas do Poder Judiciário e da própria sociedade. A gente sabe que há crimes ambientais em todo o Brasil. E eles são constantes, ocorrem rotineiramente, merecem uma atenção destacada dos órgãos do sistema judiciário. Envolvem grupos especializados, associados com outros ilícitos. Atuam no desmatamento, na dinâmica ilícito do transacção da madeira, entre outras coisas. Há organizações que tratam do desmatamento ligado à grilagem de terras públicas. Outras que são especializadas no tráfico de animais silvestres. Essas situações merecem atuação também especializada dos órgãos de fiscalização, dos Ministérios públicos e do Poder Judiciário. Caso contrário, não teremos uma resposta proporcional a esse tipo de violação, que envolve complexidades, necessita de aprofundamento de investigações e técnicas diferenciadas. Primeiro, precisamos de disposição dos Ministérios Públicos, dos órgãos de Segurança Pública e dos órgãos de fiscalização, mormente de fiscalização ambiental. E todos esses órgãos devem dispor de recursos humanos, de planejamento, de capacitação e de uma atuação articulada e integrada entre eles. Há uma série de elementos necessários para que esse enfrentamento ocorra de modo efetivo. Dentre esses elementos a gente pode referir a implementação de grupos de atuação especializada na resguardo de Meio Envolvente. A gente tem buscado estimular, junto com o Juízo Pátrio do Ministério Público, os Ministérios Públicos estaduais a formarem esses grupos. Que tenham equipes técnicas com uso de tecnologia, com integração com os órgãos de segurança pública e com órgãos de fiscalização ambiental. Isso tudo vai permitir uma atuação minimamente à profundidade das organizações que trabalham na criminalidade ambiental.

Filial Brasil: O país é divulgado negativamente pelo número supino de perseguições e assassinatos de ativistas. No que estamos falhando e porquê melhorar a proteção de lideranças e de instituições que atuam em resguardo do meio envolvente?
Alexandre Gaio: Primeiro, precisamos de recepção e tratamento mais adequados para esses casos de agressões, ameaças e violências contra ativistas, lideranças de organizações ambientais, de povos indígenas e populações tradicionais. Um protocolo ou uma prioridade de atuação em relação a esses casos, porque são atores importantes, que muitas vezes são desestimulados a continuar a luta por desculpa dessas violências. E quando não há respostas efetivas rápidas a crimes praticados contra os ativistas fica uma sensação de impunidade e de que não haverá resposta estatal à profundidade. Em segundo lugar, existe a questão do oração, de porquê se maneja o oração ambientalista pela mídia, poder público, sociedade social. Há ainda um menosprezo em relação aos argumentos ambientais. A taxa ambiental não é tratada com a seriedade que deveria ser tratada, a ponto de se conscientizar e se convencer a sociedade brasileira de que crimes ambientais são fatos de sisudez. Que eles afetam toda a comunidade, a qualidade de vida universal e a própria possibilidade de as gerações futuras usufruírem de um meio minimamente equilibrado.

Filial Brasil: Em relação às questões sociais, ainda estamos muito aquém do que deveríamos na proteção de comunidades tradicionais. Que inclusive são reconhecidas porquê protetoras do meio envolvente. O que pode ser feito nesse sentido?
Alexandre Gaio: As populações tradicionais são fundamentais para o combate ao desmatamento, à grilagem e às queimadas. São fundamentais para a resguardo da biodiversidade. E têm sido vítimas de pressão de grileiros e de proprietários de terras, que querem expandir suas fronteiras agrícolas. E muitas vezes há violações de direitos dessas populações. É preciso ouvir a voz delas e entender suas dinâmicas. O Estado deve proteger e facilitar os que trazem essas demandas. Atuar fortemente na resposta a essas violações de direitos, prometer a consulta prévia e livre às informações de qualquer atividade, obra ou empreendimento que possa afetar diretos ou modos de vida tradicionais desses povos. Há uma série de medidas, iniciativas e atuações indispensáveis para a resguardo dessas comunidades e desses povos. Também vale sobresair as discussões que faremos sobre o tema das desigualdades socioambientais. A questão do racismo ambiental, porquê as decisões de governança, decisões de políticas públicas, são diferentes quando é para atender, por exemplo, grandes empreendimentos e quando é para atender populações socialmente vulneráveis. E porquê essas populações são atingidas com muito mais frequência do que aquelas mais favorecidas do ponto de vista econômico.

Filial Brasil: Recentemente, o dirigente do clima da Organização das Nações Unidas disse, enfaticamente, que a humanidade tem dois anos para tentar salvar o planeta. Uma frase poderoso, que alerta para a sisudez da proteção ao meio envolvente. Porquê estamos contribuindo no Brasil para salvar o planeta? Estamos avançando muito ou construindo um horizonte sombrio?
Alexandre Gaio: Os desafios são atuais e constantes. O Brasil tem demonstrado esforços, desde o ano pretérito até abril desse ano, para a redução do desmatamento da Amazônia. É necessário reconhecer esse esforço, mormente dos órgãos de fiscalização, dos integrantes do Ministério do Meio Envolvente no governo federalista. E também a participação de alguns estados e municípios. É um progresso importante, mas há muito a ser feito. A situação é muito delicada, muito preocupante. Primeiro, porque o índice de grilagem de terras públicas na Amazônia ainda é muito supino. Houve redução do desmatamento, mas ele continua acontecendo. Em outros biomas, o desmatamento continua com índices muito elevados, exemplo do selado. E a gente continua com muitas dificuldades de estabelecer atuações integradas, planejadas, articuladas e constantes nesse combate ao desmatamento. Ele é a principal desculpa de emissão de gases do efeito estufa, considerando a mudança no uso do solo. Essa deve ser uma prioridade absoluta: que todas as instituições atuem no combate ao desmatamento ilícito. Há uma série de iniciativas que ainda precisam ser concatenadas com a fiscalização do desmatamento. Por exemplo, a interrupção dos financiamentos feitos por instituições financeiras. A capacidade de rastrear os produtos, um pouco que não funciona de modo adequado. A masmorra econômica do mancheia, da madeira.

Além da questão do desmatamento, estamos a passos muito lentos em relação à questão climática. Quando se fala em geração de vigor, por exemplo, a transição energética é muito lenta. A matriz de impactos climáticos não é observada nos grandes licenciamentos ambientais. A Abrampa tem um trabalho sobre isso, produziu uma matriz de impactos climáticos e disponibilizou para todos os estados e todos os Ministérios Públicos para fazer o convencimento dos órgãos ambientais. Para que os MPs estaduais convençam os órgãos ambientais de que é necessário se observar condicionantes e pressupostos relacionados às mudanças climáticas nos grandes licenciamentos.

Os desafios são muito grandes. E não tem zero para ser comemorado. Pelo contrário. Há grandes porções territoriais da Amazônia que já não conseguem resgatar mais as suas funções ecológicas. Ou seja, entraram em um processo de irreversibilidade, que já afeta o regime hídrico não só da Amazônia, mas de outras regiões brasileiras. O selado, logo, que abrange e dá origem a maior secção das bacias hidrográficas brasileiras, tem índices de desmatamento galopantes, que precisam de uma resposta imediata. Isso, sob pena também de irreversibilidade. O cenário não é positivo e a gente precisa ter uma atuação mais efetiva do poder público e da sociedade para freá-lo. Precisamos satisfazer as metas que nos obrigamos a satisfazer internacionalmente pelo Combinação de Paris. Estamos muito longe de conseguir isso.

 

Fonte EBC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *