Quando Laura Pigossi se jogou no saibro da quadra 14, festejando o ponto que valeu sua primeira classificação para a chave principal do Franco da França –que terá início neste domingo (26)–, o tênis do Brasil também teve motivos para festejar. Com seis representantes, quatro no masculino e dois no feminino, o país terá sua maior participação em 36 anos no tradicional torneio, realizado no multíplice de Roland Garros.
Quatro dos seis sobreviveram ao “qualifying”, o difícil torneio classificatório que oferece as últimas vagas nas chaves masculina e feminina: além de Pigossi (119ª do ranking feminino), Thiago Monteiro (84º do ranking masculino), Felipe Meligeni Alves (136º) e Gustavo Heide (174º). Eles se juntam a Bia Haddad (14ª do mundo) e Thiago Wild (58º), que já estavam com lugar reservado graças à posição no ranking.
“A gente vem realmente mudando o nosso tênis”, disse Pigossi à Folha, minutos em seguida o triunfo. “Está com muito mais visibilidade, depois da medalha olímpica, depois do Grand Slam da Lu e do Rafa, da semifinal da Bia cá. Um puxa o outro, né?”
Laura se referia à medalha de bronze dela própria e de Luisa Stefani, nas duplas, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021; ao título de Stefani e Rafael Matos em duplas mistas no Franco da Austrália, em 2023; e à semifinal de Bia Haddad em Roland Garros, no ano pretérito.
A última vez que o Brasil teve tantos representantes no simples francesismo foi em 1988: três no masculino (Cássio Motta, Luiz Mattar e Marcelo Hennemann) e quatro no feminino (Gisele Miró, Luciana Corsato, Niège Dias e Patrícia Medrado). Desde portanto, apesar de ótimos resultados esporádicos, porquê os três títulos de Gustavo Kuerten (1997, 2000 e 2001), o Brasil perdeu espaço. No feminino, chegou a permanecer mais de 20 anos fora da chave principal, de 1991 a 2013.
O sorteio da primeira rodada, porém, colocou adversários difíceis diante da maioria. Meligeni enfrentará o norueguês Casper Ruud, sétimo do mundo e vice-campeão em Paris no ano pretérito. Wild terá que lutar contra a torcida sítio e o veterano francesismo Gael Monfils (38º do ranking). Heide enfrentará o prateado Sebastián Baez (20º); Pigossi, a ucraniana Marta Kostyuk (20ª); e Monteiro, o sérvio Miomir Kecmanovic (55º).
Somente Bia Haddad pegará uma adversária de ranking pior, a italiana Elisabetta Cocciaretto (52ª). A brasileira, que completará 28 anos na próxima quinta-feira (30), entra com status de candidata a ir longe, depois da boa campanha de 2023. Neste ano, seu melhor resultado foi chegar às quartas de final do WTA 1.000 de Madri, no início do mês. Perdeu para a mesma carrasco da semifinal de Roland Garros no ano pretérito, a polonesa Iga Swiatek, número um do mundo, em três sets (4/6, 6/0 e 6/2).
Questionada pela reportagem sobre as chances de Bia, Swiatek foi só elogiosa. “Sempre que jogamos, é duro. Em Madri, deu para ver quanto ela gosta de jogar no saibro. A semifinal do ano pretérito também foi intensa. E, fora da quadra, ela é dessas pessoas que deixam o vestiário mais bacana”, afirmou.
O incentivo recíproco, segundo os jogadores brasileiros, é uma nascente extra de robustez. Já classificado para seu primeiro Grand Slam, Gustavo Heide foi ver à partida em que Thiago Monteiro garantiu sua vaga, uma vitória em sets diretos (6/4 e 6/2) sobre o espanhol Daniel Rincón. Monteiro também tinha ido ver a um dos jogos de Heide.
“Temos o grupo de WhatsApp da Davis [competição entre equipes nacionais]. A gente manda mensagem e se encontra cá mesmo”, contou Felipe Meligeni. “Todo o mundo é companheiro, muito próximo, querendo o muito um do outro. É logo que a gente vai para a frente.”
Para Meligeni, de 26 anos, a primeira classificação para a chave principal de Roland Garros representou uma emoção privativo, por um motivo familiar. Seu tio Fernando figurou dez vezes na chave principal parisiense, entre 1993 e 2002, incluindo uma semifinal em 1999. Ele deve chegar a Paris na quinta-feira e mandou uma mensagem ao sobrinho: “Se vira aí, que eu quero te ver jogar”.
O número de brasileiros poderia ter sido até maior, se a mais recente revelação do tênis pátrio, o carioca João Fonseca, de 17 anos, tivesse conseguido classificação. Atual 231º do mundo, ele ficou perto do ranking necessário para uma vaga no “qualifying” de Roland Garros –ele deve disputar um lugar na chave principal do próximo Grand Slam, o torneio de Wimbledon, em Londres, no mês que vem.
Além dos seis na chave de simples, o Brasil terá outros representantes na chave de duplas, cuja lista completa de inscritos ainda não havia sido anunciada até a noite de sexta-feira (24). Aos 40 anos, Marcelo Melo, ex-número um do mundo, jogará ao lado de Rafael Matos. Outros brasileiros, porquê Fernando Romboli e Ingrid Martins, devem jogar em parceria com tenistas de outros países.