Brumadinho Tem Mais De 23 Mil Acordos De Indenização Fechados

Brumadinho tem mais de 23 mil acordos de indenização fechados

Brasil

Mais de 23 milénio atingidos pelo rompimento da barragem da Vale na Mina Regato do Feijoeiro, em Brumadinho, em Minas Gerais, fecharam acordos de indenização com a mineradora. Os dados são das instituições de Justiça e foram apresentados na última sexta-feira (19), quando o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) organizou uma prestação pública de contas. No evento, foi feito um balanço dos três anos de implementação do convénio de reparação.

Nesta quinta-feira (25), a tragédia completará cinco anos. O rompimento da barragem causou 270 mortes e gerou grande devastação ambiental, além de destruir comunidades. Familiares dos mortos contabilizam 272 vítimas, levando em conta que duas mulheres estavam grávidas. Um convénio para a reparação foi firmado dois anos depois, em 4 de fevereiro de 2021. Ele trata dos danos coletivos. Foram previstos investimentos socioeconômicos, ações de recuperação socioambiental, ações voltadas para prometer a segurança hídrica, melhorias dos serviços públicos e obras de mobilidade urbana, entre outras.

As partes optaram por manter as discussões das indenizações individuais em paralelo nas negociações judiciais e extrajudiciais que estavam em curso. Em secção dessas tratativas, os atingidos foram acompanhados pela Defensoria Pública de Minas Gerais. Em abril de 2019, a instituição assinou com a Vale um termo de compromisso definindo os procedimentos que viabilizaram as negociações individuais.

De convénio com a Defensoria Pública, por meio do termo de compromisso, foram gerados até dezembro 20.806 acordos que movimentaram R$ 1,3 bilhão. A esses números, se somam as indenizações trabalhistas. Isso porque mais de 90% dos funcionários que morreram estavam trabalhando no multíplice minerário e eram empregados da Vale ou das empresas terceirizadas que prestavam serviço na Mina Regato do Feijoeiro.

Brumadinho (MG), 23/01/2024 - Parque Cachoeira, bairro rural de Brumadinho. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Brumadinho (MG), 23/01/2024 - Parque Cachoeira, bairro rural de Brumadinho. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Parque Cascata, bairro rústico de Brumadinho. Foto: Tânia Rêgo/Escritório Brasil

Em julho de 2019, a mineradora e o Ministério Público do Trabalho (MPT) assinaram um convénio para o pagamento das indenizações aos familiares dos trabalhadores que morreram e aos empregados sobreviventes. Desde portanto, foram selados 2.509 acordos que movimentaram R$ 1,2 bilhão.

Em nota, a mineradora afirma que, desde 2019, mais de 15,4 milénio pessoas fecharam acordos de indenização. “A Vale reafirma seu profundo reverência às famílias impactadas pelo rompimento da barragem e segue comprometida com a reparação de Brumadinho, priorizando as pessoas, as comunidades impactadas e o meio envolvente”, acrescenta o texto.

A divergência entre os números apresentados pela Vale e os divulgados pela Defensoria Pública e pelo MPT pode se dar porque alguns atingidos têm recta a mais de um convénio, porquê, por exemplo, no caso daqueles que perderam parentes e sofreram outros impactos. Mas também há divergência nas cifras envolvidas. A Vale alega ter talhado ao todo R$ 3,5 bilhões em indenizações.

Sem negociação

Para a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), esse processo indenizatório foi atropelado. A entidade considera que não houve negociação. Era admitir a oferta ou recusar.

“Até teve uma escuta, mas não havia espaço para argumentos. E foi tudo muito em cima do sucedido. A gente ainda estava com 197 pessoas não encontradas, em meio ao caos, e as reuniões sobre as indenizações já tinham começado”, diz a engenheira social Josiane Melo, que integra a diretoria da Avabrum, e faz duras críticas ao convénio. Ela perdeu sua mana Eliane Melo, que estava pejada de cinco meses.

Josiane se recorda que havia um temor relacionado com um cláusula da reforma trabalhista. Aprovada em 2017 por meio da Lei Federalista 13.467 e sancionada pelo portanto presidente Michel Temer, ela definia que o pagamento supremo para indenização por danos morais em caso de acidente de trabalho deveria ser de 50 vezes o valor do salário do empregado.

Brumadinho (MG), 22/01/2024 - A familiar de vítima e membra da AVABRUM, Joseane Melo, participa do seminário
Brumadinho (MG), 22/01/2024 - A familiar de vítima e membra da AVABRUM, Joseane Melo, participa do seminário

Josiane Melo participa do seminário “5 Anos Sem Justiça – Rompimento Barragem da Vale em Brumadinho – 272 mortes”, na Câmara Municipal de Brumadinho. Foto: Tânia Rêgo/Escritório Brasil – Tânia Rêgo/Escritório Brasil

Dessa forma, os parentes de uma vítima que tivesse um salário de R$ 3 milénio, por exemplo, não poderiam receber juntos mais do que R$ 150 milénio. Exclusivamente no ano pretérito, o Supremo Tribunal Federalista (STF) considerou ilícito essa limitação. Assim, na idade, porquê os valores definidos entre Vale e MPT era superiores aos previstos na lei, havia pouca esperança em conseguir melhores condições.

“Falavam muito dessa questão do limite. Usou-se dessa possibilidade”, diz Josiane. A engenheira social avalia que as famílias ficaram acuadas. Ela, no entanto, não gosta de falar do tema. “A vida não tem reparação. Não há valor que compre uma vida. A vida não volta detrás, portanto pra gente nós somos os mais miseráveis. Nós perdemos aquilo que a gente tinha de mais privativo que é o convívio com os nossos entes familiares, a construção dos nossos sonhos e da nossa família”, acrescenta.

Houve, porém, atingidos que preferiram buscar a indenização de forma individual, recorrendo a advogados particulares. Isso ocorreu tanto na Justiça do Trabalho porquê na Justiça geral. Em alguns casos, porém, a expectativa de obter cifras mais elevadas acabou sendo frustrada já que os juízes utilizaram porquê referência os termos firmados pela Vale com o MPT e com a Defensoria Pública. Ou seja, percorreram um outro caminho, mais demorado, para obter resultados semelhantes.

Mas houve exceções. Em setembro de 2019, por exemplo, a mineradora foi condenada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a remunerar R$ 11,8 milhões de indenização por danos morais a quatro familiares que perderam entes queridos na tragédia. As vítimas estavam hospedadas na Pousada Novidade Estância, que foi soterrada pela limo de rejeitos.

Uma das críticas da Avabrum envolve a discrepância entre os recursos destinados às indenizações e aqueles anualmente aprovados para distribuição de lucros e dividendos. Somente no último ano, a Vale pagou muro de R$ 28,9 bilhões em proventos aos seus acionistas.

Liquidação coletiva

Em março do ano pretérito, uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) chegou a estabelecer um novo substância para o processo indenizatório. O juiz Murilo Silvio de Abreu acolheu pedido do MPMG e concordou com a possibilidade de liquidação coletiva. Dessa forma, os atingidos, caso quisessem, poderiam pleitear suas indenizações de forma conjunta. No momento, porém, a decisão está revogada.

Essa era uma demanda antiga de algumas entidades que representam as vítimas. Elas avaliam que, na negociação individual, o atingido se encontra numa posição mais vulnerável diante da mineradora.

A decisão foi tomada pelo juiz Murilo Silvio na mesma ação em que a Vale foi condenada em 2019, de forma genérica, a reparar todos os danos da tragédia, incluindo aí os individuais, sejam eles patrimoniais (porquê danos materiais e lucros cessantes) e extrapatrimoniais (porquê danos morais e estéticos).

 

Brumadinho (MG), 23/01/2024 - Local onde funcionava a mina Córrego do Feijão da Vale do Rio Doce e estações de busca de vítimas do rompimento da barragem. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Brumadinho (MG), 23/01/2024 - Local onde funcionava a mina Córrego do Feijão da Vale do Rio Doce e estações de busca de vítimas do rompimento da barragem. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Lugar onde funcionava a mina Regato do Feijoeiro da Vale do Rio Gulodice e estações de procura de vítimas do rompimento da barragem. Foto: Tânia Rêgo/Escritório Brasil

Com a lanço de liquidação coletiva instaurada, se iniciaria a tempo de definição de parâmetros para identificar as pessoas que têm recta à indenização, muito porquê os valores dessas indenizações. Para tanto, os atingidos poderiam narrar com os levantamentos das assessorias técnicas que eles escolheram para auxiliá-los. Algumas delas já possuem uma matriz de danos, por meio do qual podem calcular em um processo coletivo as indenizações de cada um.

Também havia sido fixado pelo juiz a inversão do ônus da prova. Ou seja, se o atingido alegar que sofreu um dano não reconhecido pela Vale, caberá à mineradora provar que o dano não ocorreu. A decisão nomeava ainda porquê perita a Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG). Caberia a ela prestar auxílio ao raciocínio na hora de arbitrar os valores indenizatórios.

Em setembro, porém, Murilo reconheceu que tomou a decisão sem intimar a Vale para se manifestar e se retratou. Ele abriu prazo de 10 dias para que a mineradora apresentasse seu posicionamento. A decisão anterior foi revogada. A Vale argumentou que a tempo de liquidação não pode ser iniciada porque há estudos periciais ainda em curso, os quais serão suficientes para identificar todos os danos individuais e valorá-los. Também defendeu a liquidação de forma individual porquê meio mais adequado.

Transferência de renda

No mês seguinte ao rompimento da barragem, a Justiça mineira determinou que a Vale iniciasse o pagamento de um auxílio emergencial mensal aos atingidos. O valor fixado era de um salário mínimo por adulto, a metade dessa quantia por juvenil e um quarto para cada petiz. Inicialmente, faziam jus ao mercê todos os moradores de Brumadinho, sem eminência. Nos demais municípios atingidos, o auxílio foi facultado a pessoas que residem até um quilômetro de intervalo da calha do Rio Paraopeba.

Ainda no término de 2019, ocorreu uma mudança. O critério para entrada ao mercê foi mantido, mas o valor foi reduzido pela metade para quem não residisse em comunidades diretamente afetadas pelo rejeito.

Brumadinho (MG), 22/01/2024 - Seminário
Brumadinho (MG), 22/01/2024 - Seminário

Seminário “5 Anos Sem Justiça – Rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho – 272 mortes”, movimentou a Câmara Municipal de Brumadinho. Foto: Tânia Rêgo/Escritório Brasil

A redução dos valores aumentou a insatisfação das comunidades atingidas que já faziam outras críticas relacionadas com a implementação do auxílio: se queixavam do critério geográfico e também do poder de decisão que se encontrava nas mãos da Vale. Era a mineradora que avaliava se cada atingido tinha ou não recta ao repasse.

O convénio firmado em 2021 buscou atender algumas reivindicações. Foi criado um programa de transferência de renda sob gestão da Instauração Getúlio Vargas (FGV), em substituição ao auxílio emergencial mensal. Ou por outra, foram reservados R$ 4,4 bilhões dos R$ 37,68 bilhões a serem aportados pela Vale conforme firmado no convénio.

Pedidos negados

A FGV teria autonomia inclusive para reavaliar todos os pedidos anteriormente negados pela mineradora. Tantos os auxílios mensais que haviam sido pagos pela Vale, porquê os repasses feitos através do programa instituído pelo convénio não se confundem com as indenizações individuais. O primeiro procura asseverar as condições de vida e o segundo é uma reparação pelos danos causados.

O programa teve início em novembro de 2021. Embora tenha sido estruturado para resistir quatro anos se encerrando em outubro de 2025, ele deverá ser implementado por mais tempo. De convénio com a FGV, os R$ 4,4 bilhões destinados ao programa foram empregados em um fundo e os rendimentos já proporcionaram um acréscimo patrimonial significativo. Dessa forma, ele poderá prosseguir pelo menos até abril de 2026.

Atualmente, o repasse médio é de R$ 648 por pessoa. Alguns atingidos recebem valores diferenciados, porquê aqueles que são familiares dos mortos e os que viviam ou ainda vivem na chamada zona quente, onde estão os bairros mais impactados. Segundo dados da FGV, há 132.094 beneficiados, muro de 17 milénio a mais na conferência com os dados de seis meses detrás.

Fonte EBC

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