O cineasta Cacá Diegues morreu na madrugada desta sexta-feira (14), aos 84 anos, no Rio de Janeiro, em seguida complicações de uma cirurgia na próstata. Diegues foi um dos expoentes do cinema novo e, em 2018, foi eleito um dos imortais da Liceu Brasileira de Letras.
Em mais de 20 filmes, Diegues contemplou as grandes questões sociais do Brasil, da miséria à questão racial e da modernização do país. Dirigiu filmes uma vez que “Os Herdeiros”, “Quando o Carnaval Chegar”, “Tieta do Áspero” e “Xica da Silva”.
Relembre alguns dos filmes clássicos do célebre cineasta:
‘Ganga Zumba’
Um dos primeiros longas de Cacá Diegues foi “Ganga Zumba”, filme de 1964 que conta a história de escravizados de um talento de cana-de-açúcar no Nordeste brasílico, que planejam uma fuga para o Quilombo dos Palmares.
Antônio Pitanga vive Ganga Zumba, e o elenco ainda conta com Lea Garcia, Eliezer Gomes e Cartola. O filme foi exibido em festivais internacionais uma vez que Cannes e San Sebastián.
‘Os Herdeiros’
Com Sérgio Cardoso, Odete Lara e participações especiais de Nara Leão e Caetano Veloso, o longa conta a saga de uma família brasileira, de 1930 a 1964.
Cardoso vive Jorge, um jornalista ávido que se moradia com a filha de um quinteiro de moca arruinado. Com o termo da Era Vargas, em 1946, ele volta à cidade e se transforma em um político poderoso de forma duvidosa, em seguida constantes traições. “A Grande Cidade”, de 1969, foi exibido nos festivais de Veneza e Novidade York no mesmo ano.
‘Joanna Francesa’
Neste filme de 1973 a atriz francesa Jeanne Moreau vive Joanna, cafetina e dona de um prostíbulo em São Paulo. Um de seus clientes convida-a para sua quinta de cana-de-açúcar e a personagem-título se apaixona pelos costumes do sítio, diferentes do mundo que havia publicado.
Joanna acaba assumindo a liderança da família de seu cliente, um alagoano enamorado por ela. Conta com música de Chico Buarque e Roberto Menescal.
‘Xica da Silva’
Considerado um de seus maiores sucessos populares, “Xica da Silva”, de 1976, narra a história da personagem histórica de mesmo nome, vivida por Zezé Motta.
Xica é uma escrava em meados do século 18 no Região Diamantino, onde estão as minas mais ricas do país. Um representante da grinalda portuguesa se apaixona por ela e satisfaz todos seus desejos, por mais extravagantes que sejam, tornando-a sua Rainha do Diamante.
O longa lhe rendeu o prêmio de melhor diretor e melhor filme, no Festival de Brasília, além de melhor filme e melhor direção no Prêmio Molière.
‘Chuvas de Verão’
Com Jofre Soares, Miriam Pires e Marieta Severo, “Chuvas de Verão”, de 1978, acompanha Afonso, que se aposenta e resolve aproveitar uma vida de ociosidade e tranquilidade. Mas logo no início se envolve com problemas de sua filha, de seus amigos e da sua comunidade.
Afonso logo aprende a viver novamente, mesmo em seguida a terceira idade. Até sua convívio com sua vizinha, Isaura, com quem convivia a tantos anos, se modifica, e os dois iniciam uma relação.
‘Bye Bye Brasil’
Um dos filmes mais aclamados do cineasta, lançado em 1979. A trama segue três artistas ambulantes que cruzam o Nordeste com uma comboio, fazendo espetáculos para quem encontram no caminho –camponeses, cortadores de cana e indígenas.
Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha (Príncipe Nabor) se juntam ao sanfoneiro Ciço, papel de Fábio Júnior, e sua mulher. A comboio atravessa a Amazônia até chegar a Brasília.
Além de receber o título de melhor filme do ano no Festival de Londres, o longa também rendeu a Cacá Diegues o prêmio de melhor diretor, no Festival de Havana.
‘Quilombo’
Em 1984, Cacá Diegues realizou um projeto macróbio com o qual sonhava: o homérico “Quilombo”, uma produção internacional comandada pela produtora francesa Gaumont.
A trama acompanha um grupo de escravos que se rebela em um talento, por volta de 1650, e fogem para integrar a pátria de ex-escravos Quilombo dos Palmares. Um deles é o príncipe africano Ganga Zumba, personagem de 1964 do diretor. Ele se torna líder de Palmares, mas seu herdeiro e afilhado, Zumbi, discorda de seus ideais na luta contra a vexação da Diadema portuguesa.
‘Tieta do Áspero’
Sônia Braga vive Tieta, jovem que foi expulsa pelo pai de Santana do Áspero, na Bahia, aos 17 anos. Ela se torna rica e famosa em São Paulo e, mais de 20 anos depois, retorna a sua cidade natal.
Tieta é recebida uma vez que uma verdadeira notoriedade em sua cidade, e sua família tenta ao supremo explorá-la. Mas ela volta a fomentar escândalo: se apaixona por seu sobrinho e a verdadeira origem de seu numerário é revelada.
Com Zezé Motta, Cláudia Abreu e Chico Anísio, o longa também tem músicas de Caetano Veloso. O longa foi inspirado no livro homônimo de Jorge Estremecido.
‘Orfeu’
Inspirado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinícius de Moraes, levante filme de 1999 teve roteiro escrito por Cacá Diegues em colaboração com Hermano Vianna, Hamilton Vaz Pereira, Paulo Lins e João Emanuel Carneiro.
O longa acompanha o parelha Orfeu, papel de Toni Garrido, e Eurídice, vivida por Patrícia França. Orfeu é um líder na favela onde mora e de sua escola de samba, além de ser um famoso compositor dos morros do Rio de Janeiro.
Enquanto Orfeu se prepara para o Carnaval, se apaixona por Eurídice, e seu paixão provoca ciúmes e violência na sua comunidade. O elenco conta também com Murilo Benício, Zezé Motta e Milton Gonçalves, e as músicas são de Caetano Veloso.
A produção recebeu o Grande Prêmio de Cinema Brasílio de melhor filme e melhor lançamento no cinema, além do prêmio de melhor filme, no Festival de Cartagena.
‘Deus É Brasílio’
Livremente inspirado em um raconto de João Ubaldo Ribeiro –que também colaborou com o roteiro–, Antônio Fagundes faz o papel de Deus no longa. Depois escoltar tantos erros cometidos pela humanidade, ele resolve tirar férias e procura um substituto para permanecer em seu lugar.
Deus procura-o no Brasil, onde, junto de seu guia, o pescador Taoca, vivido por Wagner Moura, eles rodam o país em procura da pessoa perfeita para permanecer no lugar de Deus enquanto ele descansa em uma estrela distante.
‘O Grande Circo Místico’
O longa de 2018 foi o último produzido pelo cineasta. Fundamentado no poema de Jorge de Lima do mesmo nome, “O Grande Circo Místico” é um músico com músicas escritas por Edu Lobo e Chico Buarque.
O Grande Circo Knieps, inaugurado em 1910, conta com cinco gerações de uma mesma família circense. O rabi de cerimônias, Celavi (Jesuíta Barbosa), nunca envelhece, e assim conta as histórias da trupe: suas aventuras e amores, do auge à decadência, misturando o místico com a veras.
Com Mariana Ximenes e Antonio Fagundes, também conta com participação privativo do ator gaulês Vincent Cassel. Foi o candidato brasílico ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2019, além de ter sido exibido nos festivais de Cannes e Gramado.