Cacique Raoni Recebe Honraria De Macron E Pede Demarcações A

Cacique Raoni recebe honraria de Macron e pede demarcações a Lula

Brasil

O cacique Raoni Metuktire, líder do povo kayapó e um dos representantes indígenas mais reconhecidos internacionalmente, foi condecorado, nesta terça-feira (26), em Belém, com a ordem do cavaleiro da Legião de Honra da França. Entregue pelo presidente francesismo, Emmanuel Macron, a medalha é a maior honraria concedida pela França aos seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global.

A Legião de Honra foi criada por Napoleão Bonaparte em 1802 para premiar méritos militares e civis reconhecidos pela República Francesa. O evento, que ocorreu na Ilhéu do Combu, uma das maiores da capital paraense, marcou o primeiro dia da visitante solene de Macron ao Brasil, que segue até a próxima quinta-feira (28), em uma extensa agenda de compromissos em diferentes cidades brasileiras.

26.03.2024 - O presidente da França, Emmanuel Macron, durante encontro com lideranças indígenas e cerimônia de condecoração do líder indígena Raoni, na Ilha do Combu. Belém - PA. Foto: Ricardo Stuckert / PR
26.03.2024 - O presidente da França, Emmanuel Macron, durante encontro com lideranças indígenas e cerimônia de condecoração do líder indígena Raoni, na Ilha do Combu. Belém - PA. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente da França, Emmanuel Macron, condecora o líder indígena Raoni, na Ilhéu do Combu, em Belém (PA). Foto: Ricardo Stuckert / PR

“Custoso Raoni, esse momento é devotado a você. Várias vezes você foi à França e eu me comprometi a vir cá na sua floresta, estar junto com os seus. Essa floresta, que é tão cobiçada, mas que você sempre lutou para defendê-la durante décadas. O presidente Lula e eu, hoje, fazemos culpa geral com um de nossos amigos”, disse Macron em oração antes de entregar a medalha ao cacique.

Em seu pronunciamento, falado no linguagem kayapó e traduzido por um parente, Raoni cobrou ações do governo brasílico para evitar ameaças ao desmatamento, e pediu que o governo bloqueie o projeto de construção da Ferrogrão. Com 933 quilômetros (km) de extensão, o projeto, ao dispêndio de R$ 12 bilhões, prevê uma ferrovia que ligará Sinop, em Mato Grosso, ao porto paraense de Miritituba. A obra cruzaria áreas de preservação permanente e terras indígenas, onde vivem aproximadamente 2,6 milénio pessoas.

Projeto de ferrovia

“Presidente Lula, me escuta, eu subi com você na posse, na rampa [do Palácio do Planalto], e eu quero pedir que vocês não aprovem o projeto de construção da ferrovia de Sinop a Miritituba, mais publicado uma vez que Ferrogrão”, afirmou. “Sempre defendi que não pode ter desmatamento, não consigo admitir mina. Logo, presidente, quero pedir novamente que você trabalhe para que não haja mais desmatamento e também que você precisa demarcar as terras indígenas”, continuou o cacique, que ainda pediu que o governo amplie o orçamento da Instalação Pátrio dos Povos Indígenas (Funai), órgão federalista responsável pela demarcação de terras das populações originárias.

Raoni falou sobre os interesses econômicos na extração dos recursos naturais, que pode inviabilizar a vida no planeta. “Eu nunca concordei com desmatamento, com extração de madeira, de minério e de ouro, e fico preocupado que o varão branco continue fazendo esse tipo de atividade. Fico preocupado que se esse trabalho continuar, podemos ter problemas sérios no mundo”.

Já o presidente Lula afirmou, em oração, que o Brasil é um país em construção e que a luta pelo recta dos povos indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais ainda não foi resolvida. O presidente criticou os setores contrários às demarcações de terras indígenas no país e afirmou que seus governos foram os que mais ampliaram a destinação de terras aos povos originários.  

“É importante lembrar que os conservadores brasileiros, os latifundiários brasileiros, aqueles que são contra a participação do povo, costumam expressar que o povo indígena já tem muita terreno no Brasil, que tem 14% do território vernáculo. Todos os dias eles falam isso. O que eles não percebem é que os indígenas têm 14% demarcada hoje, mas quando os portugueses chegaram cá, em 1500, eles tinham 8,5 milhões de quilômetros quadrados, era tudo deles. Logo, o trajo de terem 14% legalizados é pouco diante do que eles precisam ter para viver, manter a sua cultura e o seu jeito de viver. Eu tenho certeza absoluta que o nosso governo é o que mais demarcou terreno indígena e vai continuar demarcando terras indígenas e parques nacionais, para evitarmos o desmatamento”.  

Também estiveram presentes na comitiva as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e do Meio Envolvente, Marina Silva, além da presidente da Funai, Joênia Wapichana, do governador do Pará, Helder Barbalho, e diversas lideranças indígenas, incluindo Davi Kopenawa, xamã e líder dos yanomamis.

“Todo o trabalho que os povos indígenas fazem não é uma agenda localizada, é uma agenda global, uma agenda climática, em resguardo das florestas tropicais e do bem-viver no planeta. É um pacto pelo porvir, um pacto pela vida”, destacou a ministra Sônia Guajajara.

Unidade de conservação binacional

O presidente Emmanuel Macron destacou, em uma fala ao final do encontro, que os dois governos têm planos de erigir uma unidade de conservação binacional que se estenderia entre o Brasil e a Guiana Francesa (território ultramarino francesismo que faz fronteira com o Amapá), tornando-se um meio de referência em pesquisas científicas com vistas ao desenvolvimento sustentável. De entendimento com o francesismo, serão investidos US$ 2 bilhões por ambos os países.  

Por meio de uma enunciação intitulada “Chamado Brasil-França à sede climática de Paris a Belém e além”, os países manifestaram o compromisso conjunto de combate ao desmatamento, proteção da Amazônia, restauração e gestão sustentável de florestas tropicais, e desenvolvimento da bioeconomia, incluindo “mecanismos inovadores de financiamento”.

Na chegada a Belém, Lula e Macron foram, em um navio da Marinha, para a Ilhéu do Combu, na margem sul do Rio Guamá. O trajeto incluiu a travessia do rio e a navegação por uma extensão de igarapés, onde os dois líderes puderam ter contato com a Floresta Amazônica preservada.

Antes da reunião com indígenas, eles ainda acompanharam um exemplo de produção artesanal de cacau e chocolate na região. A teoria, segundo o Palácio do Itamaraty, foi mostrar ao presidente francesismo a dificuldade da questão amazônica e as alternativas de desenvolvimento econômico sustentável que existem.

Na próxima lanço da viagem, Lula e Macron inauguram, na manhã desta quarta-feira (27), o novo submarino brasílico construído no Multíplice Naval de Itaguaí, por meio de um entendimento de cooperação tecnológica com a França. 

Fonte EBC

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