Caetano De Almeida Desafia Invisibilidade Na Luisa Strina 26/02/2025

Caetano de Almeida desafia invisibilidade na Luisa Strina – 26/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Sobre um pedaço de tecido consumido pelo tempo, pinceladas de tons e intensidades variadas se confundem umas com as outras. Do laranja vibrante que emerge do meio ao branco desgastado que denuncia a idade da pintura, são vestígios de trabalhos que dão origem a uma novidade peça.

Coloridos, diversos e sem padrões necessariamente evidentes, os traços compõem o “Anônimo” de Caetano de Almeida. Foram quase três décadas limpando pincéis sobre a superfície do quadro, uma vez que revela o texto crítico do curador Mateus Nunes.

A interrupção de gestos artísticos encontra perenidade anos no horizonte, projetada em outro molde e material. Tal suspensão, que determina outra forma de se interpretar as menores unidades de uma obra, define a individual do artista em papeleta na Galeria Luisa Strina, em São Paulo.

“Se não fosse a minha boca grande, essa obra ainda seria anônima”, brinca Almeida sobre seu sigilo, em relação por telefone.

A apresentação de Nunes cita raízes italianas e uma recente viagem à Roma, em que o pintor se hospedou na emblemática Piazza dell’Orologio e viu o legado de “fantasmas” inscrito na arquitetura e artes da cidade.

Almeida diz que o calor intenso levava ao refúgio em filmes e livros, que o ajudaram a aprender italiano e inspiraram pinturas uma vez que “8 1/2”, homônima ao clássico de Federico Fellini. Uma vez que em “Roma” e “Pamphilj”, todos realizados em 2024, ele une quadrados e retângulos em uma espécie de mosaico, diferentes em tamanho, eixo e cor.

A relação entre os contornos sugere o encontro entre prédios, quartos, vielas e outros elementos de um meio urbano. É interessante observar uma vez que a mistura de formas menos ou mais preenchidas, até mesmo vazias, produz lacunas e rompe a exatidão da geometria.

“‘8 1/2’ é um fruto do eventualidade que veio dessa teoria de se sentir perdido pela cidade. Se sentir perdido pelos planos”, afirma Almeida. Ele explica que as obras surgem menos da tentativa de resgatar um pretérito familiar que da vontade de testar formatos, profundidades e outros aspectos.

“A realização de um artista é solitária. Eu passo um bom tempo no meu ateliê, olhando para uma parede branca. Me dedico uma vez que se fosse uma religião. Logo receber respostas [do público] é sempre muito potente.”

Esse ideal de solidão também é notável em “Loggia”, peça constituída por uma estrutura imperfeita de tábuas de madeira mais ou menos afastadas umas das outras. Produzida com caixas de feira, ela apresenta um conjunto de vácuos, com espaçamentos fora de simetria, que esconde uma coloração rosa, impressa suavemente sobre a parede.

“Por mais que os quadros gritem, permanecemos invisíveis. A arte é uma forma de se colocar no espaço. Ainda que existam os brilhos, parece que ninguém mais nos vê”, afirma Almeida.

Outro trabalho que manipula a visibilidade é “Algicida”. A sobreposição de diferentes camadas, que exigiram longos quatro anos, retrata o fundo de uma piscina distorcido pela refração da luz. A coloração esverdeada escurece conforme o mergulho e dificulta a cristalinidade dos corpos d’chuva.

Com outras regras, a exposição “Recalque”, do colombiano Gabriel Sierra, questiona a materialidade dos objetos e bases aplicados na arte. Em outra sala da galeria, um projetor exibe, em looping, a gravação de outro projetor, também ininterrupto.

Existe um tino de repetição e esgotamento dessas imagens que repensa a própria natureza da reprodução visual, intermediária entre as palavras e os modos de simbolizar o mundo.

“O mundo não precisa de mais imagens, mas ainda assim as criamos sem razão aparente. Letras podem ser feitas para valer qualquer coisa. Acredito que o mesmo pode intercorrer com as imagens”, diz Sierra.

Ele cita o olhar uma vez que fio condutor da mostra. Outro exemplo é uma retrato, sem título, em que emoldura um olho humano entre duas silhuetas. O artista tenta estabelecer uma troca: da mesma forma que observamos as peças, a sentimento é que elas nos veriam de volta.

Essa duplicidade também é evidente em obras uma vez que “Telhado Rebelde”, mesmo que de outra maneira. Ao montar pedaços de um telhado, Sierra junta pedaços de terracota e vidro para entrelaçar superfícies opacas e transparentes.

Em “Le Creuset”, por sua vez, ele funde um migalho de pirita, porosa e de terminações imprecisas, a uma panela de ferro fundido. É uma vez que se oposição entre estados questionasse o que uma teoria, imagem ou objeto é capaz de reunir.

“A vocábulo ‘Recalque’ pode ter muitos significados. Em espanhol, se refere à ação de repetir um tanto várias vezes. Em português, à falta estrutural de um prédio causada pelo assentamento do solo. Não tenho interesse exclusivamente no significado das palavras, mas na vibração da sotaque e no repercussão que permanece à cabeça em seguida ouvi-las.”

Folha

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