Do território mítico de Guimarães Rosa em um momento indeterminado à Rússia do século 19, da São Paulo de meados do século 20 ao Rio Grande do Sul de hoje. Aos 43 anos, o ator e diretor Caio Blat se façanha por projetos de diferentes épocas e lugares, imaginários ou não.
No filme “Grande Sertão”, de Guel Arraes, que estreia nesta quinta-feira, Blat vive pela terceira vez Riobaldo, figura meão da poema ao lado de Diadorim.
Primeiro, ele interpretou o personagem na montagem para o teatro dirigida por Bia Lessa, que ficou em edital de 2017 a 2019, entre idas e vindas.
Ao término da temporada, Lessa decidiu preparar uma versão para o cinema, que recebeu o nome de “O Diabo na Rua, no Meio do Redemunho”, com estreia prevista para 22 de agosto. Mais uma vez, o ator assumiu a função do narrador-protagonista.
Agora, no longa-metragem de Arraes, ele dá vida a um Riobaldo da periferia de uma grande cidade. É um professor de uma escola pública que deixa o ensino de lado para entrar na gangue liderada por Joca Ramiro, interpretado por Rodrigo Lombardi.
“É uma vez que se eu tivesse me prestes a vida toda para fazer esse personagem. Riobaldo é um cidadão geral, mas que sente as coisas de forma arrebatadora. Está o tempo inteiro se questionando: o que motiva a guerra? O que motiva o paixão? É um Hamlet brasílico”, afirma. “É o personagem mais importante da minha vida.”
O início das filmagens estava previsto para meados de 2020, mas a pandemia atrasou todo o processo em mais de um ano. Essa mudança permitiu, segundo o ator, uma maturação do personagem, com mais ensaios e conversas detalhadas com o diretor. Possibilitou, inclusive, uma expressiva mudança física.
No filme de Arraes, Riobaldo aparece de duas formas. Ora uma vez que protagonista —um sujeito razoavelmente jovem que vive toda a ação, do paixão por Diadorim aos combates uma vez que integrante do grupo de Joca Ramiro. Ora uma vez que narrador —um varão de idade avançada que rememora o que aconteceu, com Blat de barba longa, resultado de dois anos sem barbeador.
“Guel ensaia detalhadamente cada termo, cada entonação”, diz Blat, sobre o diretor, que é seu sogro, pai da atriz Luisa Arraes, com quem o ator é casado e que também está no filme.
Ainda no cinema, Blat se prepara para sua segunda experiência uma vez que diretor. Depois de “O Debate”, lançado no ano retrasado, ele deve filmar no ano que vem um longa-metragem sobre Cacilda Becker, atriz de poderoso presença nos palcos de São Paulo a partir da dez de 1940. É provável que Marjorie Estiano seja a protagonista.
Antes disso, porém, terá uma outra experiência no cinema. Porquê no ano pretérito, faz a curadoria da mostra de longas brasileiros e latinos do Festival de Gramado, que acontece em agosto. Neste trabalho de seleção, que está em curso, Blat tem ao seu lado a atriz argentina Soledad Villamil e o crítico e professor brasílico Marcos Santuario. “A edição terá um espírito de resistência depois de tudo que aconteceu no Sul”, diz.
Na TV, Blat passa por uma período de transição. Em agosto pretérito, anunciou a saída da TV Orbe, encerrando um contrato de 25 anos. Semanas depois, começou a gravar “Venustidade Inevitável”, primeira romance original pátrio da Max. O texto é de Raphael Montes, um dos criadores da série “Bom Dia, Verônica”.
“É um formato inovador, porque são 40 episódios. Estávamos acostumados a fazer novelas de 180, 200 capítulos. Tem mais destreza. Ao mesmo tempo, carrega a estrutura de folhetim”, diz o ator, ao apresentar sua primeira romance fora da Orbe.
Na produção, ele interpreta o cirurgião plástico Benjamim, que vive com Lola, personagem de Camila Pitanga. O par é sequaz do sadomasoquismo.
Quando a romance estrear –a previsão é início de 2025–, Blat estará envolvido mais uma vez com teatro. Vai encaminhar “Os Irmãos Karamázov”, de Fiódor Dostoiévski, numa adaptação feita por ele em parceria com o dramaturgo Manoel Candeias.
Depois de anos lendo “quase tudo” do responsável russo ao lado de amigos, decidiu encenar “Karamázov”, definido por ele uma vez que “um romance explosivo”. O espetáculo deve entrar em edital no Sesc Copacabana, no Rio de janeiro, em dezembro. Em fevereiro de 2025, está planejada uma temporada no Sesc Pompeia, em São Paulo.
Mas nem só os projetos profissionais são manancial de preocupação para Blat, que mantém um relacionamento lhano com Luisa há sete anos. Em fevereiro, a imagem do ósculo da atriz no cantor Chico Chico, fruto de Cássia Eller, se alastrou pelas redes sociais.
“Esse tipo de exposição é chata. Sou humilde, eu e Luisa sempre tentamos dar visibilidade aos trabalhos, não à vida pessoal. Mas isso acontece quando você tem coragem de questionar os padrões e acaba virando notícia”, diz.