Camisa vermelha divide opiniões e reacende debate político 29/04/2025

Camisa vermelha divide opiniões e reacende debate político – 29/04/2025 – Esporte

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A possibilidade de a seleção brasileira ter uma camisa vermelha uma vez que seu segundo uniforme na Despensa do Mundo de 2026 desagradou ex-jogadores, reacendeu o debate político sobre a simbologia do véu, além de produzir uma polêmica em um momento no qual a conexão com a torcida está fragilizada.

A teoria não é uma unanimidade na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não só pela tradição de usar o azul uma vez que segunda camisa, mas principalmente pela possibilidade de dividir os torcedores pela escolha de uma cor que não está presente na bandeira do Brasil, o que abriria uma brecha para os críticos fazerem associações políticas.

Desde que o site Footy Headlines informou sobre a mudança, políticos de direita se uniram para criticar a verosímil mudança. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), fruto do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que a troca precisa ser “repudiada veementemente” e repetiu uma frase que seu pai costuma usar em discursos: “Nossa bandeira não é vermelha, e nunca será”.

Edu, ex-ponta-esquerda do Santos e da seleção brasileira nas Copas de 1966, 1970 e 1974, ecoou a sátira. “Zero a ver, não somos um país comunista. E lógico que a intenção disso é totalmente política, mas não tem zero a ver com a história da nossa seleção. Seleção brasileira é virente, amarelo, azul e branco”, disse ele à Folha.

“Fomos campeões do mundo com a amarelinha. A coisa já está muito feia dentro de campo, já temos uma seleção fraca moralmente e psicologicamente. Não precisamos de mais essa”, acrescentou.

Paulo Sergio, ex-atacante da seleção brasileira, vencedor do mundo em 1994, disse que não trocaria o azul pelo vermelho, mas que poderia mudar de teoria caso entendesse o concepção. “A azul representa a nossa bandeira desde que me conheço por gente. Em dez anos de Europa sempre nos reconheceram por essas cores”, afirmou.

Na política, o vermelho é tradicionalmente associado aos partidos de esquerda, uma vez que o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos últimos anos, a direita passou a produzir uma potente conexão com a cor amarela, diretamente ligada à camisa da seleção brasileira, dividindo os torcedores país afora.

“Para alguns grupos, [a mudança] pode ser considerada uma fadiga, sobretudo para esses grupos mais polarizados, à direita, que veem o fantasma do comunismo em tudo”, afirmou o professor Marco Antonio Roble Teixeira, da FGV-SP (Instalação Getúlio Vargas, de São Paulo).

A Nike, com a qual a CBF renovou seu contrato no ano pretérito, estendendo o vínculo até 2038, pelo valor de US$ 100 milhões (R$ 563 milhões) até o término do compromisso, foi alertada sobre isso. A fornecedora de materiais esportivos, no entanto, resolveu seguir em frente com sua estratégia de marketing, que além da cor vermelha levará o símbolo da Jordan, marca controlada pela Nike.

Publicamente, mas, nem a Nike nem a CBF confirmam a confecção da camisa vermelha.





Eu só acho uma coisa: a camisa da seleção em termos de futebol é a coisa mais importante que tem. A bandeira do Brasil é virente, amarela, azul e branco, não tem vermelho. Não que eu não goste do vermelho, meu pai era torcedor do Jabaquara, o Jabuca, que é todo vermelho. Acho que deveria continuar com o princípio de seguir com as cores do Brasil, isso é muito importante

Cássio Brandão, colecionador de camisas de futebol, detentor de um recorde registrado pelo Guiness pelo maior montão do mundo, disse que a confederação poderá seguir um “caminho perigoso”.

“Em se concretizando essa história entramos em um caminho que não paladar, e considero até perigoso. Do quanto se cuida da própria história e do quanto não consegue frear esses movimentos mercadológicos”, afirmou.

“Precisamos ser cuidadosos ainda, a camisa não foi lançada, mas tem uma questão que é um trajo: a camisa de uma região representa muito e a da seleção brasileira muito mais”, acrescentou Brandão.

Nas conversas com a Nike, a CBF teria sugerido lançar a vermelha com um terceiro uniforme para evitar as críticas, mas a empresa não costuma fazer três camisas para seleções por entender que os modelos dois e três poderiam concorrer nas vendas.

Segundo Brandão, na Europa, esse tipo de mudança mais radical não é tão incomum. Ele destaca, porém, que sempre há um propósito além do mercadológico.

“Quando a Alemanha vem para o Brasil jogar a Despensa do Mundo com uma segunda camisa que faz uma referência ao Flamengo, time de maior torcida do país, ela fazia um meneio simples. Um cartão de boas-vindas para ser muito recebido no país. Ali tinha um propósito simples. Nessa do Brasil qual o propósito?”, questiona.

Ao longo de sua história, a seleção brasileira já utilizou uniformes com cores alternativas, que não estão presentes na bandeira do Brasil. Em duas ocasiões, usou inclusive camisas vermelhas, ambas em jogos pelo Campeonato Sul-Americano, competição que em 1975 seria rebatizada uma vez que Despensa América.

A última vez que a equipe canarinho utilizou um véu sem suas cores tradicionais foi em 2023, quando atuou todo de preto no amistoso contra a Guiné. Na ocasião, o uniforme foi usado uma vez que uma forma de protesto contra o racismo no futebol.

Embora a “amarelinha” seja a mais famosa, a camisa azul também traz boas recordações para torcedores da seleção brasileira. Foi o protótipo com o qual o Brasil ganhou seu primeiro título mundial, em 1958, na Suécia. Ao todo, a cor já foi usada em 12 oportunidades durante Copas do Mundo, com oito vitórias para o Brasil, três derrotas e um empate.

Folha

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