Cannes é Só Glamour? Veja Os Perrengues Além Das Festas

Cannes é só glamour? Veja os perrengues além das festas – 25/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quem vê os sorrisos de Cate Blanchett e Emma Stone no tapete vermelho pode até pensar que o Festival de Cannes é puro glamour, uma celebração do cinema feita com looks caríssimos, taças de espumante e festas na praia.

Ou, ao menos, uma reunião harmoniosa entre artistas e cinéfilos, em que estes passam os dias vendo filmes dos maiores nomes do cinema mundial, meses antes de eles estarem disponíveis para o público universal. Um sonho em celuloide.

Mas não é muito assim. Por trás da mitologia e do marketing que transformaram o evento, que encerra sua 77ª edição neste sábado (25), num dos eventos mais luxuosos da cultura, há muito perrengue. Tanto para meros mortais, quanto para o tá escalão de Hollywood.

Para ir a Cannes e realmente aproveitar a extensa programação, é preciso estar disposto a terebrar mão do sono e das refeições. As primeiras sessões começam às 8h30 e as últimas podem ir até as 2h da manhã. Para entrar na sala, é preciso chegar com antecedência razoável e enfrentar filas, mesmo que o ingresso já tenha sido guardado.

No caso das exibições da sala Debussy, a segunda maior, a fileira é feita na rua, o que é um problema quando o Sol potente da Riviera decide desabrochar ou quando o tempo muda bruscamente e faz chover sobre os cinéfilos –o clima costuma variar bastante na primavera francesa.

Para as galas no Grande Teatro Lumière, aquelas às quais a equipe do filme comparece, os ingressos são limitados, e é tradição em Cannes que cinéfilos ou moradores da cidade fiquem do lado de fora da sala, por horas, segurando plaquinhas em que pedem entradas.

Isso tudo com a vestimenta exigida para essas sessões —smoking, vestido longo e salto tá, já que o ingresso costuma se materializar em cima da hora. Ao chegar no Palácio dos Festivais às 8h, quando ele abre, já é provável ver gente querendo tíquetes para galas que só acontecerão 12 horas mais tarde, por volta das 20h.

Apresentar um filme no evento também significa se comprometer com uma agenda extensa e apertada, em peculiar porque estúdios e distribuidores não pagam estadia para que as estrelas permaneçam na Riviera Francesa nos 12 dias de programação.

Elas costumam chegar na véspera ou no dia da première e ir embora no seguinte, cumprindo uma agenda de três diárias que inclui horas de preparação do look do tapete vermelho, a sessão de gala, uma sarau de première, sessões de fotos, coletiva de prelo e entrevistas individuais com jornalistas –que, a depender do tamanho da produção, pode lucrar um dia a mais.

“Não há lugar uma vez que Cannes, mas é muita coisa. É excitante e tenso, incrível e estressante, peculiar e esgotante”, descreveu Jesse Plemons no dia de prelo de “Tipos de Gentileza”, um dos filmes mais esperados desta seleção competitiva de Cannes. No ano pretérito, ele passou pela mesma experiência, representando “Assassinos da Lua das Flores”.

Até mesmo Meryl Streep, que não apresentou filme e foi a Cannes unicamente para ter sua curso celebrada com uma Palma de Ouro honorária, brincou com a rotina. “Fui dormir às três da manhã” e “estou de ressaca”, disse ela no pintura do qual participou, sem perder a simpatia, mas sugerindo que um levantar da leito mais tarde lhe foi refutado.

E para os membros do júri, uma vez que Xavier Dolan, presidente na Um Evidente Olhar, a história não é muito dissemelhante. Ao ser questionado pela revista francesa Les Inrocks o que nunca esquece de trazer a Cannes, respondeu “ansiolíticos”. E também disse que passou dias chorando na leito depois da recepção amarga de um de seus filmes, “É Somente o Termo do Mundo”, há oito anos.

Quanto às festas, Gary Oldman, em Cannes para apresentar “Parthenope” na competição, entregou o jogo quando um jornalista disse ter visto o ator entusiasmado numa delas. “A verdade é que eu sou obrigado a ir a essas coisas”, disse ele rindo.

São várias as festas que se espalham pela costa azulada da cidade. Os filmes grandes sempre têm uma própria, que costuma ser mais exclusiva, mas há ainda eventos organizados pelo próprio festival e por suas vestígios paralelas, marcas de bebidas alcoólicas, grifes de voga, patrocinadores, distribuidoras, produtoras, órgãos públicos e pelas próprias celebridades.

A qualidade das comemorações, a maioria em restaurantes na praia, varia absurdamente. Em algumas, nem há open bar, e é preciso remunerar pela própria bebida. Outras, mais caprichadas, têm cardápios temáticos e fartos, além de lembrancinhas.

No meio-termo, formando a maioria, há vinho à vontade e charcutaria. Sempre com DJs e bandas, que sofrem para pôr os convidados para dançar.

No ano pretérito, a sarau posteriormente a estreia de “Indiana Jones e a Relíquia do Direcção” teve a presença de ninguém menos que Harrison Ford. Mas o planeta da franquia ficou poucos minutos por ali, numa superfície reservada e distante dos convidados da Disney.

E há muita gente que pula as festas, simplesmente porque a escolha fica entre farrear ou ter algumas horas a mais de sono. Roncos, aliás, vão se tornando segmento da trilha sonora nas sessões conforme o festival avança, muito uma vez que tosses e espirros.

A isenção não aguenta o ritmo, afirmou uma farmacêutica em frente ao Palácio dos Festivais, enquanto pegava uma caixa de remédio para gripe e dizia que muitos “festivaliers”, uma vez que são chamadas os frequentadores do festival, apareceram para comprar o medicamento nessa reta final.

Contribui para isso a alimento pobre e em horários desregulados. Ao sentar para uma repasto no bairro medieval de Le Suquet, é geral ver homens de smoking e mulheres de vestido tentando se lastrar em saltos altíssimos nas ladeiras de pedrinhas da segmento histórica da cidade, a caminho das galas que acontecem lá embaixo.

Uma loira num vestido prateado, avistada por nascente repórter, não só conseguiu, uma vez que dava mordidas vorazes e apressadas num sanduíche sem perdão, daqueles prontos vendidos no mercado. Sanduíches estes que são a base de alimento de muitos “festivaliers”, em peculiar jornalistas, que enganam a miséria com baguetes de salame, pãezinhos com patê e saladas em marmitinhas plásticas.

Isso porque, há pouco tempo, entre uma sessão de filme e outra, os restaurantes no entorno da sede do evento costumam permanecer sempre lotados e com os preços inflacionados. Os ônibus da cidade também enchem no período do festival —há sessões também em outros pontos da cidade—, perturbando a rotina de quem é morador.

O tal Palácio dos Festivais, aliás, pode até ser enorme e opulento, ostentando os sempre belos cartazes da mostra de cinema na frontaria, mas divide a parede com um cassino decadente, num contraste que sintetiza muito o que é o Festival de Cannes.

Folha

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