Cannes: Karim Aïnouz Exibe O Nordeste Em 'motel Destino'

Cannes: Karim Aïnouz exibe o Nordeste em ‘Motel Destino’ – 22/05/2024 – Ilustrada

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O calor dos trópicos aqueceu a ensolarada, mas não exatamente quente Riviera Francesa nesta quarta-feira (22), quando o cineasta cearense Karim Aïnouz levou às telas do Festival de Cannes seu novo filme, “Motel Sorte”, que concorre à Palma de Ouro nesta 77ª edição.

Um ano depois de disputar o prêmio com “Firebrand”, drama histórico britânico, ambientado nos corredores gelados e escuros da golpe de Henrique 8º, Aïnouz retornou à mostra de cinema mais importante do mundo com um trabalho que é o extremo oposto. Saíram as luzes frias da Inglaterra e entraram as solares do Nordeste brasiliano.

“Eu saí daqui, passei uma semana em Berlim [onde mora] e já fui ao Brasil filmar ‘Motel Sorte’, e agora estamos em Cannes de novo. Semana que vem, já vou vulgarizar ‘Firebrand’ nos Estados Unidos. É um bom problema o que eu vivo, esse de ter sempre um filme no mundo”, diz Aïnouz, no terraço do Palácio dos Festivais, sede do evento, poucas horas antes da passagem pelo tapete vermelho.

A cor potente predomina na paleta de “Motel Sorte”, um thriller erótico que recorre a uma variedade de tons e luzes para ajudar a narrar sua história tensa, sexy e violenta.

A trama acompanha um rapaz –Heraldo, vivido pelo estreante Iago Xavier– que foge de um grupo de criminosos em Beberibe, a 80 quilômetros de Fortaleza. Quando o cerco aperta, ele procura guarida num motel de margem de estrada, onde conhece Dayana, personagem de Nataly Rocha.

Não morosidade muito até notarmos a química entre os dois. Mas ela é casada, e divide a gestão do pernoite com um ex-policial truculento, Elias, na pele de Fábio Assunção, único ator de fora do Nordeste no longa.

“Eu passei em frente ao tapete vermelho e fiquei imaginando Jean-Paul Belmondo, Alain Delon, todas essas figuras que já passaram por ali, logo eu estou muito feliz, sobretudo pela história desse festival”, diz Assunção, em sua primeira aparição em Cannes. “E estou feliz por estar num filme do Karim, num retorno dele ao Ceará. Tem um sabor maior.”

Elias é um varão violento e machista, e vamos entendendo, ao longo de “Motel Sorte”, que o matrimónio e a sociedade que mantém com Dayana não funcionam porquê uma parceria, mas porquê uma imposição tóxica.

Conforme o filme avança, as cores vão se saturando e os corredores do motel, numa incessante sinfonia de gemidos, vão ficando claustrofóbicos. Um antro do prazer, que antes punha o testemunha no papel de voyeur, vira, repentinamente, uma prisão.

A partir da descida dos protagonistas ao inferno, “Motel Sorte” vai discutindo temas porquê violência contra a mulher, racismo e desigualdade social. “Mas o filme não é um drama social. Ele traz questões sociais importantes, mas é, antes de tudo, um filme de suspense, com corpo próprio”, diz Aïnouz.

“Por muito tempo a gente foi réprobo a fazer um cinema de drama e de verdade, e eu acho que não há porquê fazer cinema sem falar do inconsciente, do libido, dessas questões que estão no DNA do cinema.”

O cineasta já havia festejado, quando a seleção deste Festival de Cannes foi anunciada, o traje de o seu longa ser uma janela para que o resto do mundo veja o Nordeste. Depois de conceder algumas entrevistas à prensa estrangeira, ele diz a leste repórter que muitos jornalistas perguntaram, com interesse, que lugar era aquele onde tinham filmado, que não era nem Rio, nem São Paulo.

Para “Motel Sorte”, Aïnouz não exclusivamente montou seu set de filmagem no Ceará, porquê também chamou mão de obra sítio e desenvolveu o roteiro a partir das pesquisas de um grupo de estudos fundado ali, por ele mesmo, há alguns anos.

“Eu vim para Cannes pensando muito que eu estava representando muita gente no Ceará. Minha família, meus amigos, as pessoas do meu bairro. Não tem maneira melhor de referenciar do que ser. Há um caminho para a arte brasileira, e podemos chegar com ela do outro lado do mundo”, diz Iago Xavier.

“Nós passamos por muitas dificuldades na superfície da cultura, logo estar num festival deste porte é um tanto para celebrarmos enquanto cinema vernáculo. E filmar no Ceará tem seu charme, ficamos muito orgulhosos pelas imagens que estão no longa”, completa Nataly Rocha.

A última vez que o Brasil ganhou a Palma de Ouro em Cannes foi há 62 anos, com “O Pagador de Promessas”. Mais recentemente, em 2019, Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Rebento venceram o prêmio do júri por “Bacurau”, enquanto Aïnouz, na paralela Um Claro Olhar, embolsava o prêmio supremo da mostra com “A Vida Invisível”.

Folha

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