O título “Missão: Impossível”, se ganhasse um “quase” muito no meio, poderia reunir a tarefa que os diretores da franquia têm. Pelo menos é o que sugeriu Christopher McQuarrie, cineasta no comando do oitavo capítulo da saga de agentes secretos, “O Acerto Final”, neste Festival de Cannes.
“Ortografar é puxar uma pedra em uma serra. Encaminhar é descer a serra correndo da pedra. Quanto maior o filme, maior a pedra e menos tempo você tem. Logo ‘Missão: Impossível’ é uma avalanche”, resumiu ele num dos bate-papos desta edição, que costumam reunir mormente estudantes de cinema e artes cênicas, além dos cinéfilos habituais.
“Missão: Impossível – O Acerto Final” é um dos filmes mais quentes da edição deste ano, e ganhou uma sessão próprio nesta quarta-feira (14), encerrada com cinco minutos de aplausos, três anos depois de “Top Gun: Maverick” —outro blockbuster de Tom Cruise que amoleceu o coração de Thierry Frémaux.
Foi com menos pompa, porém, que o longa chegou ao tapete vermelho. Se em 2022 Cruise subiu as escadarias do Palácio dos Festivais escoltado de caças que mancharam o firmamento de Cannes com as cores vermelha, branca e azul, fazendo tremer os pratos em restaurantes do entorno, agora ele se contentou com uma filarmónica que tocou o tema de “Missão: Impossível” ao vivo.
Ainda assim, o pocket show é digno de nota, já que os tapetes vermelhos do festival seguem rígidos protocolos, com pouco espaço para escapadas de roteiro. E Frémaux sabe que blockbusters americanos, por mais longe que estejam da Palma de Ouro, ajudam a manter a mostra relevante, mormente em tempos de streaming ameaçando as salas de cinema.
“Tenho crença no hábito de ir ao cinema, mas o streaming está ameaçando essa experiência coletiva”, disse McQuarrie no bate-papo, em traço com o Festival de Cannes. “Um cineasta que lança seu filme no streaming não sofre a pressão de passar por uma primeira semana em edital, não existe essa urgência de ser uma sensação logo de faceta para continuar atraindo público”, continuou.
“Para mim e para o Tom [Cruise], o repto é fazer arte mas também entreter as pessoas. Não vale a pena recontar uma história se exclusivamente centena pessoas forem vê-la”, afirmou, antes de invocar o protagonista de “O Acerto Final”, de surpresa, ao palco.
Ator e produtor, Cruise é um dos maiores defensores da experiência cinematográfica. Por desculpa do sucesso de bilheteria de “Top Gun: Maverick”, Steven Spielberg, com quem já trabalhou, o responsabilizou por “salvar a pele de Hollywood” logo posteriormente a pandemia de Covid-19. Um ano depois, porém, ele se frustraria com os números inferior da expectativa de “Missão: Impossível – Acerto de Contas Segmento Um”, com US$ 571 milhões (tapume de R$ 3,2 bilhões, na cotação atual) arrecadados globalmente.
Já “Top Gun: Maverick” fez quase US$ 1,5 bilhão, ou R$ 8,45 bilhões, com um orçamento muito menor, graças também a um empurrãozinho de Cannes. Fazer um filme pipoca e receber o selo de um festival tão prestigiado, numa première com todas as extravagâncias que um grande estúdio porquê a Paramount pode remunerar, é para poucos, enfim.
Mas o valor do Festival de Cannes não é reconhecido por completo. Ao menos essa é a sensação que muitos jornalistas que cobrem o evento tiveram. Na véspera da brecha desta edição, um repórter europeu perguntou a Frémaux se fazia mesmo sentido penetrar as portas para “Missão: Impossível” se Cruise e sua equipe não estavam dispostos a dar entrevistas ou ao menos fazer uma coletiva de prelo, exigida para todos os filmes em competição.
O diretor do festival tangenciou, disse que era maravilhoso ter o filme e outras grandes produções americanas na seleção, e matou o matéria. Para a prelo, Cannes é uma oportunidade às vezes única de conseguir entrevistas de filmes estrangeiros, mas diferentemente de blockbusters exibidos em anos recentes, “O Acerto Final” não se preocupou em destinar um dos dias de sua turnê francesa aos jornalistas.
“Missão: Impossível – O Acerto Final” mostra o agente americano Ethan Hunt caçando uma perceptibilidade sintético que prenúncio reprofundar o mundo numa terceira guerra mundial. O longa estreia nos cinemas brasileiros já na próxima quinta-feira, dia 22, aproveitando os holofotes conquistados na Riviera Francesa.