Cannes: Selena Gomez é Primeira Dama Do Tráfico Em Filme

Cannes: Selena Gomez é primeira-dama do tráfico em filme – 18/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Música é segmento fundamental dos dois filmes da competição pela Palma de Ouro que ganharam exibição no Festival de Cannes neste sábado (18). De um lado, Jia Zhang-ke e seu “Caught by the Tides”, que explora canções chinesas ao tecer uma crônica de seu país natal. Do outro, Jacques Audiard e “Emilia Pérez”, um músico com tudo o que o gênero tem recta.

Além da agenda e da musicalidade, os filmes também se esbarram por terem entregue, até cá, as melhores atuações femininas desta edição. No primeiro caso, Tao Zhao, musa do cinema de Zhang-ke, é obrigada a trabalhar o olhar com dedicação, já que sua personagem passa o filme em silêncio. Uma vez que de praxe, está maravilhosa.

No segundo, Zoe Saldaña se põe a dançar e a trovar, mostrando que é uma atriz muito mais completa do que seus vários blockbusters fazem pensar. Mas é a colega de elenco, a espanhola Karla Sofía Gascón, quem rouba a cena. Se vencer o prêmio de atuação em Cannes, uma vez que críticos já estão dizendo ser verosímil, traria a primeira vitória de uma atriz trans no festival.

Elas se juntam a Selena Gomez no exagerado e melodramático músico de Audiard, falado e cantado em espanhol. A cantora vive a mulher da personagem-título, vivida por Gáscon, uma líder do tráfico mexicano que forja a própria morte para realizar uma transição de gênero.

O interessante do filme é que ele expõe, mais uma vez, que esta competição de Cannes está sendo muito feminina, apesar do número insuficiente de diretoras mulheres. Depois que faz a transição, Emilia Pérez larga o violação e tenta extinguir os erros do pretérito, fundando uma ONG que procura desaparecidos pela violência do tráfico.

É uma vez que se ao abraçar seu feminino, ajudasse o mundo hipermasculinizado a ser um lugar melhor. Uma mensagem que, uma vez que o resto do filme, pode toar piegas. Mas tudo muito, porque Audiard está cônscio do ridículo ao qual o gênero com que trabalha se permite.

Há momentos constrangedores, em privativo os números musicais de Selena Gomez, que destoam do resto por terem carinha de clipe de música pop, mas no universal a trilha sonora flui com naturalidade.

Em “Caught by the Tides” —alguma coisa uma vez que pego pelas marés–, é o tempo o inimigo do paixão. Jia Zhang-ke fala novamente sobre ruptura, numa trama que remete muito a seu último longa de ficção, “Paixão Até as Cinzas”.

Em privativo porque o espaço-tempo de ambos se sobrepõe. Ao escoltar casais pelas duas primeiras décadas deste século, os filmes funcionam também uma vez que uma crônica das mudanças aceleradas da sociedade chinesa no período.

Cá, vemos a China no primórdio dos anos 2000, a partir de Qiaoqiao –vivida pela musa de Zhang-ke, protagonista de seus principais filmes, Tao Zhao– e Bin –papel de Zhubin Li, outro parceiro recorrente–, numa relação frágil de paixão. Mas ele quer tentar a vida em outra província, e deixa a mulher para trás. Suas tramas correm em paralelo, até o inevitável reencontro nos anos de TikTok.

Uma vez que a confrontação é inevitável, vale manifestar que “Caught by the Tides” é menos potente que “Paixão Até as Cinzas”, mas embora tenha temas e um desenvolvimento parecidos, não soa repetitivo. Zhang-ke é um historiógrafo de sua China natal, e há muito tempo aproveita os dramas intimistas de suas histórias para mostrar, ao fundo, um país em transformação incessante.

Também foi assim com “As Montanhas se Separam” e “Em Procura da Vida”, leste ainda próximo do filme exibido agora em Cannes por também ter um drama envolvendo a barragem das Três Gargantas uma vez que propulsor de partes da história.

Mas Zhang-ke não acompanha as mudanças temporais de forma sintético. Ele de indumentária gravou o filme ao longo das duas últimas décadas, e usa habilmente a retrato de “Caught by the Tides” para mostrar isso. A proporção da tela e a qualidade da imagem, que vai da textura do analógico à lisura do do dedo, não são, portanto, mera escolha estética.

Soa desnecessário, porém, o recurso de legendas para localizar o testemunha no espaço-tempo. Marcas temporais mais discretas que observamos ao fundo, uma vez que uma sarau de comemoração pela escolha de Pequim para sediar as Olimpíadas de 2008 e as orientações sanitárias de uma comissária de bordo de anos recentes, já cuidariam muito disso.

“Caught by the Tides” é também uma crônica da própria trajetória de Zhang-ke, numa reciclagem de técnicas e temas. Aos 53 anos, ele se firmou uma vez que um dos principais nomes do cinema chinês e, com o novo filme, tenta vencer a Palma de Ouro pela sexta vez. Em 2013, recebeu o prêmio de roteiro por “Um Toque de Perversão”.

Querido pelos franceses, ele tem uma novidade chance agora. Ao olhar para os longas da competição que já foram exibidos nessa primeira segmento do Festival de Cannes, é razoável manifestar que o chinês deve trespassar da Riviera Francesa com mais um prêmio. Talvez não o maior deles, assim uma vez que “Caught by the Tides” também não é seu maior filme.

Folha

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