Sob vivaz direção de Johayne Hildefonso, cantora segue roteiro com músicas de Gonzaguinha, Luiz Melodia, Mauro Duarte, Raul Seixas e Vander Lee. Dhu Moraes em cena no palco do Teatro dos Quatro, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde estreou o show solo ‘O quina da Dhu’
Yuri Deslandes / Divulgação
Resenha de show
Título: O quina da Dhu
Artista: Dhu Moraes
Sítio: Teatro dos Quatro (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 30 de abril de 2024
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ “Uma vez Frenética, sempre Frenética”, ressaltou Dhu Moraes, antes de trovar trecho do samba O que é o que é (Gonzaguinha, 1982), uma vez que se o público presente na plateia do Teatro dos Quatro nas noites de segunda-feira e terça-feira, 29 e 30 de abril, já não soubesse que, sim, a atriz e cantora carioca Dulcilene Moraes, a Dudu, a Dhu, foi uma das seis integrantes do grupo feminino Frenéticas, idealizado por Nelson Motta em 1976 para servir mesas, músicas e alegria para os frequentadores da Frenetic Dancing Days Discotheque.
Pioneiro point carioca da disco music, a discoteca foi inaugurada no mesmo teatro onde, posteriormente 48 anos, Dhu Moraes voltou ontem e anteontem para fazer o primeiro show solo da curso iniciada em 1970, O quina da Dhu.
Aos 70 anos, mas já a caminho dos 71 que serão festejados em 22 de junho, a artista apresentou sedutor show de moldura teatral, arquitetado sob a direção de Johayne Hildelonso.
Sob direção músico do pianista Wladimir Pinho, responsável dos arranjos, Dhu marcou posição política e músico ao seguir roteiro alinhavado por Cecília Rangel e lhano pelo quina a capella de O morro não tem vez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963), emendado por Dhu com outros sambas situados no morro, celeiro de bambas cariocas.
A teatralidade do show O quina da Dhu ficou evidente já na ingresso da artista no palco do Teatro dos Quatro, tocando um bumbo para transfixar alas e pedir passagem para a cena que dominaria com perdão, clarão e formosura.
Reminiscência de músico protagonizado pela atriz com a cantora Adyel em 1991, a invitação do empresário José Maurício Machline, o samba-reggae Cintilação de formosura (Nego Tenga, 1988) foi um dos números mais luminosos do show.
Dhu Moraes interpreta duas canções do compositor mineiro Vander Lee (1966 – 2016) no show solo ‘O quina da Dhu’
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A arregimentação da orquestra em formato de trio de piano, insignificante e bateria – instrumentos a missão de Wladimir Pinho, Kauê Huseni e Michel Promanação, respectivamente – criou clima de samba-jazz para a abordagem de músicas uma vez que Zé do Caroço (Leci Brandão, 1985) e Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963).
A teatralidade vivaz do show O quina da Dhu também saltou aos olhos quando a artista deu voz ao samba Antonico (Ismael Silva) somente com o toque do tamborim de Michel Promanação, que se portou em cena com a elegância de um mestre-sala que reverencia a porta-bandeira no desfile.
No segundo ato do show, Dhu sentou ao lado do pianista Wladimir Pinho para desfiar a lírica popular da música Românticos (1999), emendada com outra joia da obra do compositor mineiro Vander Lee (1966 – 2016), Onde Deus possa me ouvir, entoada por Dhu com a devida melancolia impressa na letra.
Com o reforço de dois backing vocals, André Lemos e Dirce Moraes (mana caçula de Dhu), a cantora seguiu roteiro em que ressaltou o lamento triste do Esquina das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinho, 1976), fez Pérola negra (Luiz Melodia, 1971) luzir em tom jazzy-bluesy e deu voz a músicas menos conhecidas.
Foram os casos de Catavento (Arthur Verocai e Paulinho Tapajós, 1969), Colibri (Chico Anysio, Arnaud Rodrigues e Dhu Moraes) – tema autoral apresentado há 44 anos no álbum As mucamas de Painho (1982), lançado na carona da popularidade de personagem de Chico Anysio (1931 – 2012) em programa de humor da TV Mundo – e de O tempo passou (Joyce Trigueiro e Sandra Pêra, 1983), constituição do primeiro álbum solo da frenética Sandra Pêra, amiga de Dhu.
No terceiro ato, antecedido por arrasadora abordagem instrumental de O preto que satisfaz (Gonzaguinha, 1979) em samba-jazz, Dhu Moraes soltou as feras dos frenéticos dancin’ days.
A atriz entrou pela plateia do Teatro dos Quatro cantando Perigosa (Roberto de Roble, Nelson Motta e Rita Lee, 1977) em espanhol e português, partindo na sequência para esfuziante medley melodramático que costurou Vingativa (Wagner Ribeiro de Souza, 1977) com citações de hits recentes do universo pop uma vez que Baby me atende (Rodrigo Reis, Igor Costa e Matheus Fernandes, 2021), o bolero Infiel (Marília Mendonça, 2015), 50 reais (Naiara Azevedo, Waleria Leão, Maykow Melo, Alex Torricelli e Bruno Mandioca) e Voando pro Pará (Chrystian Ima, Isac Maraial e Valter Serraria, 2023).
Seguiram-se logo, com Dhu já no palco, três infalíveis sucessos das Frenéticas – A felicidade bate à sua porta (Gonzaguinha, 1973 – primeiro single do grupo em 1976), Tudo muito, tudo bom??? Ou mesmo até (Ronan Soares, Rubens Queiroz e Liminha, 1977) e, simples, Dancin’ days (Ruban Barra e Nelson Motta, 1978) – até o gran finale com Tente outra vez (Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, 1975), número do bis que reiterou o clarão e formosura do quina de Dhu Moraes nesse show solo que merece continuar em cena.
Dhu Moraes toca bumbo na brecha teatral do show que apresentou no Rio de Janeiro, no Teatro dos Quatro, onde em 1976 surgiu o grupo As Frenéticas
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♪ Eis as 26 músicas do roteiro seguido por Dhu Moraes em 30 de abril de 2014 na segunda e última apresentação do show O quina da Dhu no Teatro dos Quatro, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):
Ato I
1. O morro não tem vez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963)
2. O que é o que é (Gonzaguinha, 1982)
3. Opinião (Zé Kétti, 1964)
4. Barracão (Luiz Antônio e Oldemar Magalhães, 1952)
5. Zé do Caroço (Leci Brandão, 1985)
6. Cintilação de formosura (Nego Tenga, 1988)
7. O quina das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinho, 1976)
8. Um ser de luz (João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinho, 1983)
9. Antonico (Ismael Silva, 1950)
10. Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963)
Ato II
11. Românticos (Vander Lee, 1999)
12. Onde Deus possa me ouvir (Vander Lee, 2003)
13. Catavento (Arthur Verocai e Paulinho Tapajós, 1969)
14. Colibri (Chico Anysio, Arnaud Rodrigues e Dhu Moraes, 1982)
15. Pérola negra (Luiz Melodia, 1971)
16. O tempo passou (Joyce Trigueiro e Sandra Pêra, 1983)
♪ O preto que satisfaz (Gonzaguinha, 1979)
Ato III
17. Perigosa (Roberto de Roble, Nelson Motta e Rita Lee, 1977)
18. Vingativa (Wagner Ribeiro de Souza, 1977)
19. Baby me atende (Rodrigo Reis, Igor Costa e Matheus Fernandes, 2021) /
20. Infiel (Marília Mendonça, 2015) /
21. 50 reais (Naiara Azevedo, Waleria Leão, Maykow Melo, Alex Torricelli e Bruno Mandioca) /
22. Voando pro Pará (Chrystian Ima, Isac Maraial e Valter Serraria, 2023)
23. A felicidade bate à sua porta (Gonzaguinha, 1973)
24. Tudo muito, tudo bom??? Ou mesmo até (Ronan Soares, Rubens Queiroz e Liminha, 1977)
25. Dancin’ days (Ruban Barra e Nelson Motta, 1978)
Bis:
26. Tente outra vez (Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, 1975)
27. Dancin’ days (Ruban Barra e Nelson Motta, 1978)
Dhu Moraes solta a voz e as ‘feras’ no primeiro show solo em 54 anos de curso, iniciada uma vez que atriz em 1970
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Fonte G1
