Com mais de 40 anos de curso e 15 discos lançados, o cantor-compositor originário de Feira de Santana (BA) Carlos Pitta foi um dos maiores representantes dos ritmos regionais da Bahia, porquê o forró e o xote. Ele trabalhou com nomes icônicos da música brasileira, incluindo Elba Ramalho, Alcione, Dominguinhos e Caetano Veloso. A trajetória profissional começou em 1979, com o disco Águas do São Francisco: Lendas, inspirado na literatura de Cordel. Três anos depois, lançou O Coração de Índio, com músicas de Gilberto Gil e Edu Lobo, em parceria com o poeta José Carlos Capinan, que relembrou a parceria com o companheiro:
“Maravilhoso, antenado com as coisas do mundo. É uma grande perda, Carlos Pitta é uma grande perda”.
O primeiro sucesso vernáculo foi Cometa Mambembe, registrado no álbum Feliz, de 1988. A melodia, presente em todos os carnavais do cantor e compositor Paulinho Boca, marcou uma parceria de longa data entre os dois artistas.
“Tenho cantado em todos os carnavais o Cometa Manbembe, que é um grande sucesso dele, uma música fantástica. E é uma pena que agora levante ano, comemorando os 40 anos de Axé, e essa música tem a ver com o Axé Music, o Pitta nos deixa”, ressaltou Paulinho Boca.
Pitta também se apresentou em países porquê Alemanha, Bélgica, Itália, Estados Unidos e Suíça. Ricardo Marques, diretor músico que trabalhou com Pitta por 27 anos nos carnavais e 20 anos em turnês juninas, relembra momentos marcantes que tiveram o mundo afora.
“Acho que a Bahia perde muito sem a presença, sem a opinião, sem a personalidade de Pitta, que teve músicas gravadas por artistas nacionais e fizemos bastante coisa, televisão, rádio. Tocamos em trem, tocamos, enfim, na Suíça, na Alemanha, nos Estados Unidos, todo o interno da Bahia. Nunca vou olvidar essa experiência toda. O legado é o que vai permanecer e a memória de tudo que ele construiu cá e tenho certeza que a Bahia hoje está de luto, mas a sua obra vai resplandecer para a evo. Muito obrigado, Carlos Pitta”, agradeceu Marques.
O sanfoneiro Géo Barbosa, que tocou com Pitta desde 2013, destacou a munificência do parceiro de palco.
“Viajamos muito por aí, gravei muito com Carlos Pitta, ele me deu um suporte artístico muito grande, pois, nos shows dele, ele me convidava ali para frente do palco e me botava para tocar, para trovar, toquei muitos festivais com ele. Que Deus te receba de braços abertos, Pitta”, desejou Géo Barbosa.
Munificência lembrada também por Ivete Sangalo. Carlos Pitta foi um dos primeiros a reconhecer o talento da cantora baiana, que divulgou um vídeo de reconhecimento nas redes sociais.
“Esse face é muito próprio na minha vida. Ele me deu a mão, me deu carinho, me deu um amplexo e me deu também muita crédito. Ele foi muito importante no meu primórdio e em toda a minha vida. Eu aprendi muitas coisas lindas com ele. Um face da música, enamorado por música, música boa. O primeiro violão que eu toquei emprestado na vida foi de Carlos Pitta. Querido companheiro, afetuoso, muito talentoso. Uma figura que eu vou vigiar muito pra sempre no meu coração”, disse a cantora.
Oriundo de Feira de Santana, segunda maior cidade baiana, Pitta levava para as canções o orgulho da terreno natal em composições porquê Princesa Sertaneja e Todos os Caminhos Levam à Feira de Santana.
A cantora Juliana Ribeiro, também parceira de Pitta em canções, reverencia essa capacidade do artista de levar o sertão da Bahia para dentro do mar de Salvador.
“Para além do compositor, Carlos Pitta é um ser humano nunes, único. Carlos Pitta tinha a capacidade de ler a psique das coisas. Isso me chamava muito a atenção dele. Ele não dialogava com você cá agora, ele dialogava com sua psique. E isso era fantástico. É por isso que ele compunha tão muito. Uma vez ele me chamou para gravar uma melodia dele, que se labareda Rodei, Rodei. Essa melodia de tão boa, mas de tão boa, virou jingle da TV Subaé. E acho que porquê compositor, ele teve a capacidade de inserir o sertão dentro do mar de Salvador. Ele abriu essa baía plural. Em universal, quando a gente fala de música baiana, a gente fala de Salvador e ele não. Ele foi esse face que conseguiu ampliar essa música baiana inserindo o sertão dentro do mar. É um gênio”, declarou Juliana Ribeiro.
Em 2014, Pitta integrou a percentagem julgadora do Festival de Música Educadora FM. O artista baiano Carlos Barros recorda muito desse momento em que esteve ao lado dele.
“Eu conheci Carlos Pitta para além da figura pública que todo mundo da baía conhece em 2014, fizemos um trabalho juntos na Rádio Educadora. Fomos da mesma percentagem do Festival da Educadora daquele ano. E passamos qualquer tempo juntos trabalhando em função do festival e a mel, a ensino, a gentileza da pessoa, para além do grande artista, me saltaram aos olhos”, relembrou Carlos Barro.
Além do talento músico, Pitta é lembrado pela amizade. Laurinha Arantes, primeira mulher a comandar um conjunto de trio elétrico no Carnaval de Salvador e amiga a 40 anos, lembrou emoção. Emocionada que ele nunca deixou de estar ao seu lado.
“É muito mais do que um compositor que eu gravei. É muito mais do que um grande músico, cantor, tradutor, compositor. É muito mais do que um colega de trabalho. Pitta era meu irmão. Ou melhor, Pitta é meu irmão. Esteve comigo em todos os momentos da minha vida, principalmente, nas dificuldades e sem que eu lhe pedisse zero. Ele com a sua sensibilidade percebia o momento exato de se aproximar e de me oferecer ajuda. Pitta era aquela pessoa que eu sabia que estava ali, a qualquer momento que eu precisasse, ele estava ali. Carlos Pitta para sempre.”