A partir de hoje (28) até o dia 30 de junho, será realizada a 57ª edição do Festival de Parintins, no Amazonas. A cada dia, o público no Bumbódromo terá a oportunidade de ver uma apresentação dissemelhante dos bois Guardado e Caprichoso.
“Pode-se manifestar que vai ser uma pendência de titãs. A gente vê a concentração do Bumbódromo e as alegorias estão belíssimas. Todo mundo muito entusiasmado, muito motivado. Certamente, o que vem para a redondel vai encher os olhos de quem ver ao vivo, pelas emissoras de televisão ou telões. Vai ser um festival que vai permanecer marcado na história”, disse o secretário de de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, à Filial Brasil.
Guardado
Em 2024, o tema do Guardado é “Segredos do Coração”, com o qual vai falar de origem e ancestralidade. O presidente Fred Góes destacou que o boi remete sobretudo ao “que guardamos nessa caixa de emoções chamada de coração”.
Segundo Fred Góes, o boi vermelho quer mostrar o que a Amazônia é e porquê surgiu, contada a partir do mito do povo indígena Sateré-Mawé.
“Esse mito nos remete à Amazônia intacta, sendo ainda a floresta, os animais e os habitantes chegando. É essa Amazônia que queremos mostrar que está aí sendo degradada. Por que a gente quer mostrar essa origem? Ela está no mito Sateré-Mawé e também está na história geológica da Amazônia. É um mito simples, mas os Sateré-Mawé dizem que aqueles que estão nos nossos olhos, temos que ter desvelo. É um sigilo que deixamos de olhar com mais carinho. É esse carinho que estamos pedindo para que a gente tenha um olhar com essa Amazônia”, contou.
O boi pretende propor ainda que é verosímil sustar a degradação da floresta. “É a esperança de que a gente possa realmente transformar essa Amazônia em uma terreno sem males porquê os povos originários sempre quiseram. Quem cuidou da Amazônia até cá e nos entregou foram os povos originários”, completou.
Neste ano, Guardado completou 111 anos e comemorou conforme as tradições.
“Cá exatamente, onde é esse palco, era a vivenda do rabino Lindolfo, uma vivenda simples de um pescador, de uma pessoa humilde, de geração negra-indígena. Cá foi um quilombo de transfiguração afro-indígena, onde Lindolfo criou seu boi. Portanto, nós estamos registrando um novo momento da projeção da família Monteverde porquê história do nosso boi. Nós não podemos desassociar a influência dessa história do nosso boi Guardado que hoje vai para o planeta, mas tem uma origem de uma pessoa simples, humilde, do povo que fez da sua sabedoria popular esse brinquedo que se transformou no maior espetáculo da nossa região”, informa expedido do site Guardado.
Caprichoso
Em procura do tricampeonato, o boi preto vai para a Estádio com o tema Cultura-O Triunfo do Povo.
“No princípio, as deusas e deuses criaram Parintins, território sagrado de encantarias e mistérios. Suas gentes, sentença divina da geração, passaram a ser dotadas de saberes e fazeres específicos, um talento cuja vocação se faz presente em cada gesto e em cada esquina, em cada vocábulo e sorriso, um brado de luta e emancipação”, diz o site do Caprichoso.
“O tema é muito fundamentado na narrativa do triunfo da vitória da cultura popular”, destacou o presidente do Caprichoso, Rossy Amoedo.
Amoedo adiantou que o boi irá “competir muito possante por esse título”. “Ele é muito importante para todos nós e nos dedicamos muito para que pudéssemos emendar alguns erros passados, amadurecer esse processo e poder fazer uma doação na sua totalidade na construção desse povo que lutou durante meses para fazer levante grande espetáculo”, disse.
No mesmo ano de 1913, nos terreiros úmidos do Reduto do Esconde, no Umbuzal, nasceu o Caprichoso criado por Seu Roque Cid. Com o irmão Antônio, saíram do Crato no Ceará e seguiram para Manaus. Aportaram em Parintins, onde resolveram permanecer. Os outros irmãos Beatriz e Pedro também foram para a cidade e em outubro participaram da geração do Caprichoso.
Torcidas
Em volta do Bumbódromo, a movimentação das torcidas é grande desde o início da semana, para asseverar um bom lugar na Estádio e ver de perto o boi predilecto. De um lado, os fãs do Caprichoso e do outro, do Guardado. É a rivalidade histórica presente no público.
Na cidade, as duas cores se espalham pelas casas e ruas. O transacção aproveita para expor produtos relacionados aos bois para atrair os torcedores.
No Caprichoso, a cor principal é o azul, mas a torcida também veste porquê tons claros de azul, virente escuro, virente mar, violeta, roxo e lilás. No Curral Zeca Xibelão, vivenda do boi, não são permitidas as cores do concorrente.
O vermelho é a cor principal do Guardado, mas nas cores complementares também utiliza tons avermelhados claros, laranja, rosa simples e escuro, rosé e terracota. No Curral Lindolfo Monteverde, não são permitidas as cores do rival.
Quem não escolheu um boi o melhor é usar cores neutras, porquê preto, branco, cinza e amarelo.
A rivalidade é tão evidente que até grandes marcas costumam homenagear os dois. Um exemplo são os refrigerantes e cervejas. Mesmo que o resultado tenha uma cor preponderante coincidente a de um dos bois, as empresas produzem unidades com a cor do outro.
Isso também ocorre com as companhias aéreas, que neste período aumentam o número de voos para região por razão do festival.
Parintins para todo o Brasil
As apresentações dos bois são ricas em venustidade, originalidade e tecnologia.
Para trazer alguma coisa novo nas apresentações e ao público, os bois investem há anos para tornar os movimentos das alegorias, um dos quesitos analisados pelos jurados, cada vez mais realista.
Kennedy Prata, um dos artistas responsáveis pelas alegorias do Caprichoso, conta que, ao longo dos anos, foram desenvolvidos diversos experimentos até chegar na robótica, para dar cada vez mais movimento às alegorias.
Ainda muchacho, Kennedy começou na escolinha de arte do boi e se dedicou à segmento de escorço. Passou pelas áreas de pintura e esculturas, sendo chamado para trabalhar em escolas de samba do Rio e atualmente está na Beija-Flor de Nilópolis, escola do Grupo Próprio do carnaval carioca.
“A gente é remunerado por isso, mas ali existe mesmo a paixão pela nossa cidade e nossa cultura. Ela é mais distante do Brasil todo. Cá é muito difícil chegar o material, que precisa ser trazido por embarcações. É tudo muito longe, mas é um orgulho ser parintinense e levar a nossa cultura para fora”, completou.
As toadas também são um item de destaque dos bois. Ronaldo Barbosa, um dos autores do Caprichoso, explica que o boi traçou uma estratégia um ano antes do festival para dividir nas genéricas, que são as destinadas a animar as galeras, as de trabalho, que são as técnicas orientadas de conciliação com o projeto do ano.
Fazendo uma relação com as escolas de samba, Adriano Aguiar, disse que seria porquê ter um samba-enredo para cada fileira. Uma música da percentagem de frente, da primeira fileira, das baianas, abre alas e do último sege.
No caso do boi, para explicar a temática toda é porquê se fossem pequenos sambas-enredos.
“Tem também as que não são presas a nenhuma temática, que são as que chamamos de toadas de galera. É mais para a torcida, trovar, pular, trasbordar. As toadas de lendas do item Amazônia, de ritual e a tema são totalmente com direcionamento. Por noite vai racontar a história de determinada etnia, de narrativa amazônico e ritual indígena”, disse, acrescentando que as toadas direcionadas são obrigatoriamente diferentes em cada dia.
Cada boi tem que levar para a Estádio 21 itens coletivos e individuais, que são avaliados por nove jurados, que observam se o tema foi muito explicado.
A divulgação das notas e o resultado solene é no próprio Bumbódromo. O resultado da competição é publicado no primeiro dia seguinte ao fechamento das apresentações.
Investimento
O investimento para a realização do festival é cume. Segundo o secretário de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, o governo do estado destinou R$ 3 milhões para cada boi. Já a prefeitura reservou R$ 5 milhões para cada um. Aliás, os bois recebem investimentos com base na Lei Rouanet que alcançam R$ 20 milhões. Os recursos são empregados na realização dos temas defendidos pelos bois.