“Habemus campionem”. Assim a revista esportiva italiana Guerin Sportivo definia, em 1983, um jovem de 23 anos que voltava aos campos, depois de uma grave lesão no joelho que o impediu de ser vencedor mundial na Despensa de 1982. Foi somente uma das muitas voltas por cima na curso de Carlo Ancelotti, que agora tem a missão de comandar a volta por cima daquela que já foi a seleção mais temida do planeta.
Ao virar treinador, um ex-jogador é sempre influenciado pelos exemplos que teve ao longo da curso. Não faltaram modelos para Ancelotti: Cesare Maldini, Enzo Bearzot, Nils Liedholm, Arrigo Sacchi, mestres que marcaram estação no futebol italiano.
De estilos muito diferentes —do defensivo Bearzot ao fulgurante Sacchi—, parecem ter transformado Ancelotti em um discípulo capaz de conciliar o esquema de seus times às características dos jogadores de que dispõe.
Ancelotti jogou em somente três clubes, Parma, Roma e Milan, além da seleção italiana. Mas duas delas foram equipes míticas, a Roma de Falcão, no primórdio dos anos 1980, e o Milan de Baresi, Paolo Maldini (rebento de Cesare), Gullit e Van Basten, no final da mesma dez e no primórdio da seguinte.
Desde o início da curso, no Parma, portanto na Série B, Ancelotti destacou-se pela perceptibilidade tática. Começou uma vez que centroavante, mas aos poucos foi recuando para o meio-campo, onde sua visão de jogo era mais útil. Na seleção italiana, jogou 26 vezes e fez somente um gol, no Mundialito do Uruguai, em 1981, contra a Holanda.
Logo que parou de jogar, em 1992, aos 33 anos, Ancelotti tornou-se assistente de Sacchi na Itália. Assistiu do banco de reservas à dolorida itinerário nos pênaltis para o Brasil, na decisão do Mundial de 1994, nos EUA. Poderia ter sucedido Sacchi, mas optou pela curso em clubes e nunca chegou a treinar uma seleção vernáculo.
Um pouco de sorte ajudou. Em 1996, Ancelotti assumiu o clube que o revelou, o Parma, na tempo mais rica de sua história, com os milhões da gigante de laticínios Parmalat. O vice-campeonato italiano de 1997 até hoje é o melhor resultado da história do clube.
No primórdio, Ancelotti era sequaz de um rígido 4-4-2. “Antes do Milan, ele era menos descerrado a inovações táticas; com o tempo, porém, ele evoluiu”, conta Paolo Maldini, um de seus melhores amigos, em uma autobiografia de Ancelotti publicada em 2009.
A pedido do todo-poderoso manda-chuva do Milan, Silvio Berlusconi —com quem teve uma relação conturbada—, “Carletto” naturalmente foi parar nos “rossoneri” em 2001. Em oito anos, conquistou duas Champions League, com equipes repletas de jogadores brasileiros, uma vez que Kaká, Rivaldo, Dida, Cafu, Serginho e Roque Júnior.
A partir daí, Ancelotti passou a pertencer à rarefeita prateleira dos treinadores top, que rodam pelos clubes mais ricos da Europa, onde os títulos nacionais são obrigação e o grande objetivo é a Champions: Chelsea (2009-2011), Paris Saint-Germain (2011-2013), Real Madrid (2013-2015), Bayern de Munique (2016-2017).
Nesse período, porém, a Champions só veio uma vez, em 2014, em uma célebre final que o Real perdia para o rival madrileno Atlético até os 47 do segundo tempo.
Em 2021, quando a curso de Ancelotti parecia ter tomado o rumo do segundo escalão europeu –Napoli (2018-2019) e Everton (2019-2021)–, o Real Madrid precisou de um substituto para Zinédine Zidane. A segunda passagem de Don Carlo pelo Santiago Bernabéu foi ainda mais vitoriosa que a primeira: 15 troféus em quatro anos, incluindo as Champions de 2023 e 2024.
No mal afeito Real Madrid, porém, alguns meses sem títulos bastam para desgastar um treinador e, desde o ano pretérito, as partes davam sinais do final da relação.
Enquanto isso, Xabi Alonso, ex-jogador do Real, despontava com um ótimo trabalho avante do Bayer Leverkusen, e o presidente do clube espanhol, Florentino Pérez, não queria perdê-lo para outra equipe.
Junte-se a isso a crise de crédito do futebol brasiliano, iniciada nos 7 a 1 da Despensa de 2014 e que vitimou os treinadores nacionais, vistos uma vez que desatualizados. A invasão de técnicos estrangeiros tornou o antes impensável, um gringo no comando da seleção, pensável.
Essa conjunção astral quase deu frutos em 2024, quando Ancelotti esteve muito perto de um entendimento formal. Uma série de fatores —vazamentos precoces na prelo, os bons resultados do Real, o terror que a família do treinador sentia da criminalidade no Brasil— melou o proclamação solene.
Os maus resultados do Real e da seleção em 2025 reavivaram a hipótese de um final feliz. Depois de um início de negociação marcado por novos vazamentos, que quase puseram tudo por chuva aquém de novo, os astros começaram a se alinhar: o Real Madrid perdeu a Champions, a Despensa do Rei e – muito provavelmente – a liga espanhola. A CBF demitiu Dorival Júnior. As negociações foram conduzidas com um pouco mais de discrição, e, depois de confirmações e desmentidos, finalmente veio o “sim”.
Esta semana, o coordenador técnico do Brasil, o ex-zagueiro Juan Santos, e o coordenador executivo Rodrigo Caetano estarão em Madri para encetar o trabalho com Ancelotti, que assume oficialmente dentro de duas semanas. O italiano deve se mudar para o Rio de Janeiro, uma das principais dúvidas durante a negociação.
Uma das questões que mais renderão fofocas será sua relação com as estrelas da seleção. Ao longo da curso de treinador de clubes, Ancelotti lidou com quase todos os grandes craques brasileiros dos últimos 20 anos, em universal deixando boas lembranças.
No Real Madrid, soube transformar Vinicius Jr. de um driblador errático em um líder temível. Com Endrick, porém, os resultados não foram tão convincentes, e em alguns momentos o italiano não poupou críticas a seu jovem suplente. No comando do Brasil, Ancelotti terá que mourejar com ambos e resolver outras questões, uma vez que o papel de um Neymar veterano e soluções para as laterais, antes ponto potente e hoje gavinha fraco da equipe brasileira.