Não é de hoje que as lojas de enfeites e de fantasias do maior núcleo de negócio popular do país vendem réplicas da estatueta do Oscar. Mas, com a aproximação do Carnaval, as vendas dessas réplicas cresceram ainda mais nas lojas que ficam ao volta da Rua 25 de Março, na capital paulista. A explicação para isso são as três indicações ao Oscar do filme Ainda Estou Cá, de Walter Salles.
“O Oscar está um top. Trabalhamos com isso há muitos anos para vender para empresas, por exemplo. Mas, neste ano, estamos arrebentando de vender por motivo da [atriz] Fernanda Torres. Tem até um conjunto de rua em homenagem a ela [chamado de A Vida Presta]”, disse Pierre Sfeir, proprietário da loja Festas e Fantasias.
Segundo ele, as vendas dessas estatuetas cresceram em torno de 200% neste início de ano. “Não se vendia tanto quanto agora. O pessoal compra para torcer [pelo Oscar] e para divertir o Carnaval”, ressaltou. “Eu também vou torcer [pelo Oscar], mas sentadinho em lar porque não tenho perna para pular”, brincou.
Na sua loja, a réplica da estatueta está sendo vendida por R$ 24. “Esse é um preço bom e honesto para todo mundo poder comprar”, afirmou.
Um dos que adquiriram uma réplica para pular o Carnaval foi o bancário Pedro Frediano, 26 anos. “Eu e um companheiro vamos fazer uma fantasia em dupla, imitando a Fátima e a Sueli [personagens da série Entre Tapas & Beijos, que eram interpretados por Fernanda Torres e Andrea Beltrão]. Vim à 25 de Março para terminar de comprar as fantasias de Carnaval. E uma, especificamente, era do Oscar, e só me faltava a estatueta”, disse ele à reportagem. “Pensamos em trespassar de Fátima e Sueli no domingo de Carnaval, que é o dia em que vai ter a premiação do Oscar. Carnaval é bagunça, é sarau. E ficamos muito animados com a teoria [dessa fantasia]”.
Pedro ainda não sabe se vai conseguir escoltar a cerimônia de premiação do Oscar, no dia 2 de março, em pleno Carnaval. O filme Ainda Estou Cá, no qual Fernanda Torres interpreta a advogada e ativista brasileira Eunice Paiva, concorre nas categorias de melhor filme, melhor atriz e melhor filme estrangeiro.
“Acho que na hora [do Oscar] vou estar um pouco baleado por motivo do sábado e domingo de Carnaval. Mas vou permanecer por dentro, olhando pelo celular. Estarei no Rio de Janeiro e há uma sarau prometida por lá [em caso de o Brasil conquistar alguma premiação]”, acrescentou.
Propagação das vendas
O Carnaval é uma das principais datas comemorativas para alavancar as vendas na 25 de Março. Levante é o caso principalmente da loja de Pierre Sfeir, que comercializa adereços e fantasias. “Carnaval é sempre o top. Melhor quadra do ano para a gente é o Carnaval. E esse ano está muito bom, muito aquecido, graças a Deus. O Carnaval neste ano é no final de fevereiro e início de março, o que dá mais fôlego para o pessoal gastar”.
Sua expectativa é de que, neste ano, as vendas carnavalescas impulsionem um prolongamento entre 16% e 20% em relação ao ano pretérito. “Tomara que passe ainda mais porque daí teremos uma boa suplente para sustentar o resto do ano”.
Em outra loja da Ladeira Porto Universal, a gerente Vilma dos Santos de Queiroz, 63 anos, disse que as vendas por lá também estão boas. “A gente espera para as próximas semanas aumentar ainda mais”.
Nessa loja, afirmou a gerente, eles também estão comercializando as réplicas das estatuetas do Oscar. “Tem muita gente procurando a máscara [com o rosto da Fernanda Torres], mas essa não temos no momento”, afirmou.
Na tarde dessa terça-feira (18), a diretora administrativa de escola, Jacqueline Pereira, 33 anos, estava na loja comprando adereços para o Carnaval. “Estou comprando decoração para o Carnaval da escola. E estamos tentando gastar pouco”, disse ela, rindo. “Estamos comprando bambolês, colares havaianos e coisas assim. Alguns preços estão muito salgados, mas dá para garimpar muito”.
Nádia Cristina dos Santos Santana, 46 anos, que trabalha no setor financeiro de uma escola, acompanhou Jacqueline nas compras na 25 de Março. “Carnaval é uma sarau popular que está na raiz da família. Logo a gente gosta. Sabor mais de ver, mas me interesso pelos bloquinhos. E aí uso uma tiarinha, um grudar havaiano [para a fantasia], zero muito elaborado. Neste ano ainda não comprei zero, mas estou pesquisando”, disse ela.
Camelôs
Se nas lojas os comerciantes estão celebrando vendas melhores do que no ano pretérito, entre os camelôs da 25 de Março o resultado tem sido muito dissemelhante. Desde o Natal eles vêm reclamando que as vendas diminuíram muito e que nem mesmo esses grandes períodos de festas têm ajudado a alavancar as vendas.
Na tarde de ontem, a reportagem conversou com alguns desses vendedores ambulantes que trabalham na região. Um deles, que não quis se identificar, tem uma barraca de venda de fantasias para crianças e acessórios para cachorros há quase sete anos na 25 de Março.
“As vendas estão fracas, desde o ano pretérito, caíram muito. Em dezembro mesmo, a expectativa era outra, mas não foi boa. Acredito que é culpa do governo e das vendas na internet. O pessoal tem preposto comprar mais pela internet do que vir para a rua”, disse.
Outra vendedora, que está há um ano e meio com uma barraquinha na 25 de Março, também reclamou das vendas neste ano. Ela, que também vende fantasias, disse que “o Carnaval deste ano está horroroso”.
“Não está vendendo muito. Acho que é culpa da inflação. No ano pretérito estava melhor. O que vendo mais é fantasia para adulto, que está na filete de R$ 40 ou R$ 60. Mas, mesmo assim, está difícil. Espero que melhore nos próximos dias porque tenho contas para remunerar e não está entrando numerário. Não sei se as vendas online também estão prejudicando. Vai juntando tudo: inflação e vendas online. Está muito difícil para sobreviver. Cá na 25 [de Março] já não tem tanta gente porquê tinha antes”, reclamou.