Carnaval Une Macetada E Cavalgada Com Ivete E Ana Castela

Carnaval une macetada e cavalgada com Ivete e Ana Castela – 11/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Seja na rua, seja na internet, não resta incerteza de que o hit do Carnaval é “Macetando”, que levou Ivete Sangalo pela primeira vez ao topo das mais tocadas nos serviços de streaming. A surpresa da vez é que o sertanejo, pouco atrelado à solenidade do momento, está ganhando espaço.

O gênero está se rendendo aos mesmos elementos que alavancaram “Macetando”, porquê as letras com trechos em que a plateia pode trovar aos gritos sem esforço —no hit de Ivete, “óh, bebê!”, que dá início ao refrão “é a Veveta que tá no comando/ macetando, macetando, macetando”.

Há ainda as dancinhas, populares no sertanejo desde que Israel & Rodolffo lançaram “Batom de Cereja” e tiveram uma coreografia viral criada espontaneamente no Big Brother Brasil, do qual Rodolffo participou, há três anos.

A junção de universos a princípio distantes —o do sertanejo e o do Carnaval— ficou evidente quando Ivete, ao transfixar as festividades de Salvador no ano pretérito, se vestiu de “cowgirl”, com recta às botas de tubo tá e ao chapelão que são o uniforme de Ana Castela.

A mistura também pode ser vista nas paradas musicais. A rainha do axé e a principal expoente do agronejo, porquê ficou divulgado o subgênero do sertanejo que exalta o agronegócio e a vida no campo, dividem neste Carnaval o pódio das mais tocadas. Ivete tem a música com mais reproduções, mas a artista mais ouvida agora é a boiadeira.

A situação foi parecida no ano pretérito. Metade das dez músicas com mais reproduções no Spotify durante o Carnaval foram de sertanejo. A liderança foi de Léo Santana e sua “Zona de Risco”, mas Marília Mendonça e seu hit “Leão”, lançado antes de sua morte, ocupou a segunda posição.

Outras plataformas também atestam a popularidade do sertanejo, que ocupou a terceira posição do ranking do Kwai, o principal concorrente do TikTok, que não divulga seus dados. O gênero ainda liderou as rádios, segundo a Crowley, empresa que monitora as estações das regiões onde há mais investimento publicitário. Os relatórios deste ano de todos esses serviços serão divulgados depois as festas.

Executivos ouvidos pela reportagem dizem que o streaming pode apresentar uma distorção em relação à popularidade de uma música nas ruas, visto que as faixas podem ser ouvidas individualmente ou por grupos que aproveitam o feriado para se reunir, mas não fazem comemorações associadas ao Carnaval.

Eles ainda ponderam o verba que os sertanejos —os mais ricos da indústria músico e ligados ao verba do agronegócio— empenham em publicidade nas rádios e no streaming, que turbinam certas canções e artistas a partir de sua curadoria —seja com o que põem no ar, seja com a geração de playlists oficiais de recomendações.

No ranking do Ecad, instituição que fiscaliza o pagamento de direitos autorais no Brasil, oito das dez músicas mais tocadas do Carnaval pretérito em eventos e shows foram marchinhas. O sertanejo parece não ter penetrado, mas não só ele. Com exceção de “Zona de Risco” e “Eva”, não se vê também pop, funk ou qualquer outro gênero músico.

Ressalvas à segmento, não é de se espantar que o sertanejo agora esteja ganhando popularidade no Carnaval. O conjunto de Michel Teló, Muito Sertanejo, que tocou neste domingo em São Paulo, vai mais longe neste ano, com passagens por Belo Horizonte e Balneário Camboriú, em Santa Catarina. O Carnaval na Cidade, uma das principais festas da capital paulista, escalou ao menos um artista do gênero para cada dia da sarau.

As melodias tá astral, cada vez mais populares entre os sertanejos, combinam com o Carnaval, dizem produtores musicais. Muitas canções do gênero ainda versam sobre romances marcados pela intervalo, pela solidão e pelo desleixo, mas o som que chega aos ouvidos faz com que seja perfeitamente verosímil levar uma mão aos olhos, para enxugar as lágrimas, e outra ao joelho, para rebolar, aceitando, mas subvertendo a sofrência.

Uma das responsáveis por isso foi a bachata, que Gusttavo Lima importou da República Dominicana há cinco anos e viu se espalhar, inclusive pela obra de Marília Mendonça. O ritmo caribenho, marcado por percussão, também geral ao axé, com instrumentos que precisam ser batidos, é uma trilha sonora inegável para dançar.

A tendência se intensificou com a mistura do sertanejo com funk e música eletrônica promovida pelo agronejo.

“Por mais que digam que é sempre a mesma coisa, o sertanejo tem mudado. É uma música atemporal, mas que também está mudando, portanto as pessoas ouvem”, diz o produtor Arthur Gomes, divulgado porquê Maffalda, do coletivo Brabo Music, que produz artistas porquê Pabllo Vittar.

Integrante do mesmo grupo, Guilherme Pereira, divulgado porquê Zebu, acrescenta que uma letra “espertinha” é principal para um hit de Carnaval. “Não faço música pensando nisso, mas, se fosse fazer um tanto para tocar muito agora, faria uma música rápida, mas nem tanto, e com humor.”

Ele lembra porquê exemplo “Paixão de Que”, que Pabllo Vittar emplacou em 2020. “Eu não quero que você se prenda/ no meu paixão, paixão de quenga/ eu sento, tu sente”, diz o refrão, que Zebu ajudou a ortografar.

Antes de chegar ao topo com “Macetando”, Ivete Sangalo já havia se rendido às sentadas. “Tem gente que senta pra tomar/ cá ‘nós’ bebe pra sentar”, diz o refrão de “Cria da Ivete”, sua aposta do ano pretérito.

O agronejo trouxe o que faltava para unir o gênero aos hinos de Carnaval —o duplo sentido das palavras, neste caso vindas do campo, porquê roçar, montar e cavalgar.

Apesar de evidentes, as conotações sexuais não são escrachadas, ao ponto de impedir que essas músicas toquem num programa de TV ou em ambientes que podem ajudar a impulsionar seu desenvolvimento.

Há ainda a preocupação com a performance. As dancinhas não podem ser tão fáceis, porque o duelo perde a perdão, mas não podem ser muito difíceis. E os movimentos devem ser ajustados à verticalidade da tela do celular, para serem compartilhados nas redes, conforme afirmou à reportagem o coreógrafo Flavio Verne, que trabalha com Luísa Sonza, ao comentar a tendência há dois anos.

Para gravar um vídeo no TikTok ou se sentir seguro para reproduzir os passinhos nos blocos, a pessoa precisa ensaiar várias vezes, gravar outras tantas, e para isso precisa reproduzir a mesma música dezenas de vezes, com os plays se somando e impulsionando o hit nos rankings dos serviços de streaming.

“Macetando” conseguiu até silenciar as trombetas do apocalipse, quando Baby do Brasil começou a profetizar em cima de um trio elétrico, numa micareta de Salvador, na madrugada deste domingo.

“Entramos em apocalipse. O impulso tem tudo para sobrevir entre cinco e dez anos. Procure o Senhor enquanto é verosímil”, afirmou Baby, ao que Ivete aproveitou para promover seu hit. “Vou trovar ‘Macetando’, porque Deus está mandando o ‘Macetando’, evidente? É o ‘Macetando’ de Jesus.”

Colaborou Matheus Rocha

Folha

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