Catadora De Papel E Escritora, Carolina De Jesus Faria 110

Catadora de papel e escritora, Carolina de Jesus faria 110 anos hoje

Brasil

Quarto de Lixo, livro mais divulgado da escritora Carolina Maria de Jesus, publicado a partir de diários manuscritos, começa com uma passagem narrando o dia 15 de julho de 1955. “Hoje é o natalício de minha filha Vera Eunice”, anota a autora que ficou conhecida em 1960 por revelar o cotidiano na Favela do Canindé, zona setentrião paulistana, para o restante do Brasil e o mundo. “Eu não posso fazer uma festinha porque isto é o mesmo que querer catrafilar o sol com as mãos. Hoje não vai ter almoço. Só jantar”, segue sobre a previsão para aquele dia.

Apesar da preocupação de comemorar o natalício da filha, não é verosímil saber porquê Carolina se sentia em seu próprio natalício. Não foi publicada nenhuma apontamento relativa ao dia 14 de março, dia em que nasceu no ano de 1914, em Sacramento, Minas Gerais. Se estivesse viva, a escritora faria 110 anos nesta quinta-feira (14).

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus

Carolina de Jesus era muitas vezes retratada “com sentença cabisbaixa, por vezes melancólica” – Registo/Audálio Dantas

Mesmo não sendo verosímil ter certeza sobre os sentimentos de Carolina naquele tempo, o resgate histórico feito para a exposição Um Brasil para brasileiros, do Instituto Moreira Salles, deixa simples que Carolina tinha noção da sua valimento para o mundo. No catálogo da mostra, inaugurada em 2021, os curadores Hélio Menezes e Raquel Barreto contam que a procura por fotos da escritora trouxe um imaginário dissemelhante do que era veiculado pelos jornais e revistas enquanto ela estava viva.

Elegante e orgulhosa

“A pesquisa revelou também um número significativo de imagens que rompem a possante convenção visual sobre a autora”, destaca a dupla no texto. Segundo os curadores, Carolina era muitas vezes retratada “com sentença cabisbaixa, por vezes melancólica”, tendo a favela do Canindé porquê cenário de fundo preferencial.

Em contraposição, Menezes e Raquel contam ter encontrado um grande material, boa segmento anterior ao lançamento do primeiro livro, em que a autora aparece “vaidosa, elegante, consciente de sua presença e orgulhosa de si”.

Carolina aparece sorridente e vestida com muito esmero ao ser retratada ao lado do logo presidente João Goulart, que segura uma das cópias do livro de estreia da autora. Ao todo, foram vendidos 200 milénio exemplares, com tradução para 17 idiomas. O mandatário também ri de forma discreta. A filha Vera Eunice encara a câmera com uma sentença séria, um pouco triste. A foto ilustrou reportagem do Correio da Manhã, em novembro de 1961 e faz atualmente segmento do montão do Registo Pátrio.

São Paulo - Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo. Foto: CCSP
São Paulo - Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo. Foto: CCSP

São Paulo – Carolina Maria de Jesus é considerada uma das mais importantes escritoras do país. Foto: CCSP

A escritora se sustentou em boa segmento da vida, mesmo em um período posteriormente o lançamento no mercado editorial, catando materiais recicláveis. Porém, Carolina sempre acreditou no próprio potencial porquê escritora, enviando originais para diversos editores. Inclusive, a filha Vera Eunice tenta atualmente reaver segmento desse material que não teria sido devolvido à família.

Além de seu título mais famoso, a autora lançou em vida os títulos Moradia de Alvenaria (1961), Pedaços de Miséria (1963) e Provérbios (1963). Há ainda o autobiográfico Quotidiano de Bitita, publicado em 1986, posteriormente a morte da autora, em 1977, de complicações da asma.

A trajetória de Carolina foi acompanhada pelos jornais por décadas. Em várias ocasiões, a escritora se insurgiu contra o racismo. “É próprio dos ditadores não gostar da verdade e dos negros” protestou, contra a exprobação imposta pelo regime de António de Oliveira Salazar, de Portugal, ao seu livro em 1961. A manchete faz segmento do material reunido pelo IMS.

Novas homenagens

O instituto lança no dia em que a autora completaria 110 anos uma página na internet com material sobre a vida e obra de Carolina. Está disponibilizado na íntegra um dos dois cadernos manuscritos do original Um Brasil para os brasileiros, que posteriormente ser editado e publicado na França se tornaria o Quotidiano de Bitita. 

Há ainda cartas enviadas e recebidas pela escritora, fotografias e reportagens. Uma traço do tempo apresenta a trajetória de Carolina, começando pela sua ancestralidade, com o promanação do avô da escritora, Benedicto José da Silva, em 1862, 26 anos antes da extermínio da escravatura. É verosímil ver em vídeo a autora no sítio em Parelheiros, no extremo-sul da capital paulista, comprado com o verba conseguido pelo trabalho porquê escritora.

“Tem uma proposta médio neste site, que é o de ser um ponto de encontro, onde admiradores, estudiosos, leitores e todas as pessoas que se sentem tocadas por Carolina poderão compartilhar aspectos preciosos de sua vida e obra em movimento”, diz a responsável pela concepção do projeto,  Fernanda Miranda.

São Paulo - Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo. Foto: CCSP
São Paulo - Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo. Foto: CCSP

São Paulo – Carolina Maria de Jesus viveu boa segmento de sua vida na favela do Canindé, na zona setentrião de São Paulo. Foto: CCSP

Segundo a filha da escritora, Vera Eunice segue em negociação a geração de um memorial em homenagem a Carolina em Sacramento. Para Vera o novo espaço poderá amparar melhor o montão da escritora que está na cidade mineira De negócio com ela, o lugar que abriga atualmente segmento dos manuscritos de Carolina não tem condições adequadas para preservar o material e permitir o entrada ao público. “A gente já está lutando faz muitos anos pra poder tirar a Carolina da prisão. Ela está na prisão, né? Eles falam que é um registro, mas está na prisão”, ironiza Vera sobre o prédio onde atualmente está o montão, que é uma antiga prisão.

O IMS e o Museu Afro Brasil, na capital paulista, também guardam segmento do material relativo a vida e obra da autora.

Fonte EBC

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