Cate Blanchett Visita Locais Afetados Por Enchentes No Rs

Cate Blanchett visita locais afetados por enchentes no RS – 19/12/2024 – Ambiente

Celebridades Cultura

A atriz e produtora australiana Cate Blanchett esteve no Brasil pela primeira vez nesta semana para uma missão do Acnur (Basta Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Ela visitou locais e pessoas afetados pelas enchentes históricas que atingiram partes do Rio Grande do Sul em maio deste ano, provocando uma crise humanitária.

“Estou muito interessada na intersecção inegável entre desastres climáticos e o deslocamento forçado de pessoas”, afirmou a atriz em entrevista exclusiva à Folha na quarta (18), no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, durante a conexão entre Porto Jubiloso e Londres.

Premiada com duas estatuetas do Oscar e indicada outras cinco vezes ao prêmio, Blanchett já interpretou seres míticos, monarcas, mulheres comuns e outras extraordinárias. Fora das telas, ela é também embaixadora da boa vontade do Acnur desde 2016, posição em que empresta sua visibilidade para dar destaque às histórias de pessoas forçadas a deixar suas casas em procura de segurança.

Essa população atingiu uma zero recorde em 2024: 122 milhões de pessoas.

“Quando fui nomeada embaixadora pelo Acnur, meu queixo caiu quando soube que havia 65 milhões de refugiados no planeta. Hoje temos quase o duplo disso. Três em cada quatro refugiados são deslocados para áreas que são muito afetadas pelas mudanças climáticas”, aponta.

Durante as enchentes de maio, o Governo do Rio Grande do Sul pediu suporte ao Acnur, que tem larga experiência em ajuda humanitária. A escritório da ONU abriu um escritório emergencial no estado, deu treinamento para autoridades locais sobre construção e gerenciamento de abrigos e ofereceu mais 300 casas modulares.

Em outubro, o Rio Grande do Sul se tornou o primeiro estado brasílio a fechar uma parceria com o Acnur para a construção de um projecto estadual de contingência climática.

O tema foi discutido em encontro com o governador Eduardo Leite (PSDB), que presenteou a atriz com um livro de Clarice Lispector (1920-1977). Em setembro, viralizou no país um vídeo em que Blanchett cita a escritora brasileira, nascida na Ucrânia, a quem labareda de “incrivelmente genial”.

Porquê embaixadora do Acnur, Blanchett dedica tempo e numerário à desculpa. Já visitou refugiados em lugares porquê Mianmar, Jordânia, Líbano, Sudão e Bangladesh, sempre em viagens pagas de seu próprio bolso. Em setembro pretérito, fez um apelo por políticas de asilo em oração no Parlamento Europeu.

A atriz diz que sua atuação diante das câmeras e a ação fora delas têm mais pontos em generalidade do que parecem. “Porquê embaixadora da boa vontade, minha responsabilidade é testemunhar a experiência individual das pessoas e enviar essas histórias da melhor forma verosímil. Parece um clichê, mas, porquê atriz, eu também sou uma contadora de histórias”, explica.

Para ela, o deslocamento forçado de pessoas deveria ser tecido de fundo de mais livros, filmes e peças. “Eu senhor fantasia, mas não entendo porquê a urgência do momento presente não está impregnada em cada história que contamos.”

Qual foi a sua missão no Brasil?

Eu li sobre as enchentes no Brasil em maio pretérito e estou muito interessada na intersecção inegável entre deslocamento forçado e desastres climáticos. O Acnur me ofereceu a oportunidade de vir cá e saber os refugiados na região.

É evidente que a população brasileira nativa foi extremamente afetada pelas enchentes, mas também o foram os refugiados, que já haviam sido deslocados muitas vezes e que precisam de suporte.

O que você testemunhou no Rio Grande do Sul?

Muitas histórias profundamente comoventes. Conheci um varão haitiano no vale do rio Taquari, pai de três filhos, que foi deslocado depois o terremoto do Haiti em 2010. Ele é alfaiate e chegou ao Rio Grande do Sul referto de formalidade para reconstruir sua vida, se beneficiou das políticas inclusivas do governo brasílio e das autoridades locais, encontrou trabalho e comprou uma pequena loja de costura.

Na inundação de setembro de 2023, ele perdeu tudo e se mudou para um terreno mais cima. Economizou, comprou novas máquinas, e, mais uma vez, foi totalmente devastado pelas enchentes de maio de 2024.

É um varão de habilidades incríveis e profunda resiliência. Mas, enquanto falava comigo, suas mãos tremiam ao segurar o relatório policial de todas as suas roupas que foram saqueadas depois as enchentes.

Que desafios os eventos climáticos extremos impõem aos refugiados?

Refugiados são incrivelmente resilientes, mas precisam de suporte. Eu me comovi com histórias de mulheres cujos filhos estão traumatizados com as enchentes. Johanna [Moya], uma refugiada venezuelana, me disse que seus três filhos pequenos se escondem embaixo da mesa toda vez que chove poderoso.

Porquê mãe de quatro filhos, foi muito angustiante falar com mães que, além do próprio traumatismo, têm de mourejar com seus filhos impactados de maneiras que desafiam a linguagem.

Vi cachorros que ficam de pé em cima de suas casinhas, que antes foram tomadas pelas águas, e geladeiras instaladas nos andares de cima das casas. São símbolos do que está por vir.

Porquê você vê o cenário atual de cooperação internacional para a crise climática? A COP29 [conferência do clima da ONU realizada no último mês, no Azerbaijão] adiou de maneira frustrante e perigosa a urgência urgente de soluções para a crise climática. Agora olhamos para a COP30 e para o Brasil, que vai sediar o encontro depois de viver esse evento climatológico catastrófico no sul do país.

É realmente importante que essa tragédia brasileira seja usada para evidenciar que mesmo comunidades que não são empobrecidas também são impactadas pelas mudanças no clima e seus eventos cada vez mais devastadores.

Também acho que vamos precisar que o setor filantrópico e o setor empresarial considerem investir nessa interseção de deslocamento forçado e vulnerabilidade climática. Será o caminho do horizonte.

Estou no recomendação do prêmio Earthshot, criado pelo príncipe William, que investe em startups sustentáveis, e estou inspirada com as soluções que estão surgindo de áreas que você pensaria serem relativamente empobrecidas, porque ninguém entende melhor de crise do que as pessoas que foram forçadas a fugir por desculpa dela.

Desde 2016, o número de refugiados quase dobrou. Mais conflitos e guerras eclodiram, fronteiras foram cerradas e eventos climáticos extremos se intensificaram. Porquê enfrentar esse repto?

Tento sempre me apegar ao positivo, porque desistir não é uma opção. A primeira coisa que qualquer sinistro nos ensina é que tudo está interligado.

Parece ter havido um entendimento nas COPs [conferências do clima das Nações Unidas] de que o deslocamento forçado de pessoas está profundamente ligado ao clima. Logo, incluir refugiados na procura de soluções é importante.

Hoje fechamos nossas fronteiras para essas pessoas quando somos coletivamente responsáveis pelas mudanças climáticas. Acredito que os países que pensam poder se isolar hermeticamente de uma crise global coletiva se tornarão cada vez mais irrelevantes.

Existem exemplos contrários?

Fiquei muito comovida com as políticas acolhedoras e inclusivas do Brasil em relação a refugiados e solicitantes de asilo. E acredito que países porquê o Brasil, a Índia e a China se tornarão líderes e impulsionadores da procura por soluções para essa crise. Com isso, se tornarão mais relevantes globalmente do que aqueles países que optarem por fechar suas fronteiras.

A Austrália mantém políticas rígidas para migrantes e refugiados, mas ofereceu refúgio a cidadãos de Tuvalu, ilhota que está desaparecendo com a subida do oceano. Pessoas deslocadas por questões climáticas são percebidas de forma dissemelhante daquelas que fogem de outros contextos de transe?

Sim. E isso é desconcertante para mim. Acho que há uma estigmatização e uma politização de pessoas que vêm de certas áreas. Cresci na Austrália quando era um país multicultural. Ver isso se tornar rígido e excluir certas culturas é bizarro.

Um oração seu viralizou no Brasil por mencionar a escritora brasileira, nascida na Ucrânia, Clarice Lispector. Você disse que ela lhe inspira coragem. Porquê?

Clarice era uma refugiada ucraniana, para iniciar, o que eu não sabia. Da primeira vez que a li, foi uma relação exclusivamente com sua escrita profunda e poética. E o seu multíplice tino de humanidade.

Virou um um ponto de referência para mim, porque ela é curiosa para aprender sobre as coisas que não sabe. E, em sua escrita, tão pronta para reconhecer o que somos porquê indivíduos. Mas, quando você se perde em um esforço coletivo, você se torna maior e mais significativo.

Sou uma grande admiradora de seu trabalho. Demorou um pouco para encontrá-lo em inglês.


Relâmpago-X

Cate Blanchett, 55

É atriz e produtora de cinema. Nascida na Austrália, foi premiada com dois Oscar, quatro Orbe de Ouro e quatro Bafta (British Academy Film Awards). Desde 2016 é embaixadora da boa vontade pelo Acnur (Basta Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Presidiu o júri do 77º Festival de Cinema de Veneza, em 2018.

Folha

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