Cátia De França Lança Disco Que Une Poesia E A

Cátia de França lança disco que une poesia e a Paraíba – 27/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“No Rastro da Catarina”, novo disco de Cátia de França, ganha o mundo oito anos depois de seu predecessor, “Hóspede da Natureza”. A espera, que no relógio do mercado é uma vagar enorme, afina-se com o olhar da cantora e compositora paraibana sobre o fazer artístico. Finalmente, desde sua estreia com o cultuado “Vinte Palavras ao Volta do Sol”, em 1979, até hoje, leste é unicamente seu sétimo disco.

“Já estava há um tempo sem gravar desde ‘Hóspede da Natureza’. Tinha a cobrança do povo, né? Aquela mania que o povo tem de que todo ano tem que lançar, aquela loucura”, diz Cátia, com o falar que carrega a identidade única de sua música. “Em mim não existe isso. Tem que vir lá do cimeira, uma mediação divina. É muito de engravidar da teoria, tem um tempo.”

A mediação divina, desta vez, a fez revirar o baú em procura de material inédito. O resultado é um apanhado que reúne desde uma melodia feita sobre um poema que ela escreveu aos 14 anos até uma finalizada no ano pretérito. A seleção do repertório foi feita por Cátia ao lado de sua produtora, Dina Faria, que assina a direção músico do álbum.

Com as canções escolhidas, Cátia —que mora na região serrana do estado do Rio de Janeiro— foi para João Pessoa gravar o disco, com uma margem formada unicamente por músicos paraibanos. Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço), Elma Virgínia (ordinário acústico, ordinário elétrico e fretless), Beto Preah (bateria e percussões) e Chico Correa (sintetizadores e samplers).

É um disco paraibano, portanto? Sim, mas não só. “Eu não sou daquela que fica querendo permanecer presa as raízes, não”, diz a artista de 77 anos. “A música para mim tem que ser universal, não pode ter rótulo nem fronteira. Sou muito solta porque sempre ouvi muita coisa. A minha pegada tem a ver com Santana. Não o Santana do Forró, mas o Carlos Santana, o guitarrista. E muito José Feliciano também. Eu sou essa gama de coisas.”

Cátia não gravou uma vez que comumente se faz, com os instrumentos tocando separadamente, a voz registrada só depois do instrumental. “Eu rendo mais no experiência, porque eu faço o experiência uma vez que se estivesse num palco em Novidade York. Não sei me poupar”, diz a cantora. “Eu tenho que incendiar os músicos. Porque cabeça de músico é duas coisas, cerveja e mulher. Se eu permanecer apática, eles vão para outro projecto. Logo eu faço uma vez que se fosse o termo do mundo.”

Com produção assinada por Marcelo Macêdo e Chico Correa, “No rastro da Catarina” foi registrado logo ao vivo. “Gravamos uma vez que se fosse na varanda de uma lar grande no interno de alguma cidade brasileira. A gente sentado, e todos te olhando e vendo as emoções, o que tava vindo à tona no rosto de cada um. Sem jerarquia, né?”

As 12 faixas de “No rastro da Catarina” passeiam por gêneros uma vez que samba, rock, tango e ijexá com igual vigor. Os temas tratados nas letras também são variados, mas cabem todos dentro do universo que a artista firmou ao longo de seus 50 anos de curso. A literatura —inspiração primeira desde sua formação com os livros que sua mãe, a educadora Adélia de França, punha na sua mão— marca presença. Ela aparece em momentos uma vez que “Veias abertas”, inspirada no livro “Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, e “Eu”, sobre poema de Florbela Espanca.

O poder de ruína da guerra (“Bósnia”) e da velocidade da sociedade contemporânea (“Academias e lanchonetes”) também são matéria de Cátia. Há espaço ainda para canções de paixão. “Meu pensamento II”, letra antiga já gravada por Cátia e que volta agora com novidade melodia, traz fardo de sensualidade.

Já “Indecisão”, sobre o poema que escreveu aos 14 anos, reflete sobre o esfriamento da paixão. “Isso foi um negócio do cimeira, uma vez que eu digo”, conta Cátia. “Porque com 14 anos você sofre coisas vindas de pai ou mãe, não um paixão não correspondido. Eu era muito novidade para falar de um paixão com essa propriedade, saber da finitude das coisas.”

A perspectiva da rapariga sobre o paixão convive no disco com o olhar sobre a vetustez que aparece em “Malakuyawa” (“Essa pele enrugada é uma vez que trilha/ Planta revelando um país”). O posicionamento político de quem sempre se soube minoria —uma vez que mulher, negra, lésbica e nordestina— se afirma em canções uma vez que “Negritude” e “Em resposta” (“Já reparou que de sim/ Se faz a sua lavoura/ E que de não ninguém vive”).

“Existe toda uma turba de corajosos que enfrentam a situação, mas o mundo continua com uma tendência perigosíssima à direita. E a direita lasca as minorias. Não gosta de indígena, não gosta de preto, de imigrante”, avalia Cátia. “Lá de cima do palco eu tenho coragem, fico com 4 metros de profundidade. Mas no asfalto eu não me exponho muito não, sem me expor eu já recebo muita raquetada.”

Cátia acredita, porém, que a arte tem seu poder —e é aí que ela atua. “Quando uma melodia entra, ela cria uma vez que se fosse um organização dentro de você que começa a gerar frutos, a se expandir. Uma vez que um baobá. E você começa a pensar dissemelhante, a se transformar.”

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *