O Meio Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ) recebe a partir de quarta-feira (4) a exposição A.R.L. Vida e Obra, do pintor e fotógrafo do Rio Grande do Setentrião Antônio Roseno de Lima, que transformava lixo em arte. A mostra, que já passou por São Paulo, Belo Horizonte e Província Federalista, ficará no Rio de Janeiro até 28 de outubro. Com classificação livre, a exposição poderá ser visitada de quarta-feira a segunda-feira, das 9h às 20h.
O artista saiu de sua cidade natal Alexandria (RN), onde nasceu, em 1926, e foi para o estado de São Paulo, deixando para trás a mulher Cosma e cinco filhos, com objetivo de ter uma vida melhor. Passou a morar em uma comunidade na cidade de Campinas, onde conheceu a segunda mulher, Soledade, que ficou com ele por 40 anos. Ali, o artista desenvolveu e criou a própria arte. Ele morreu em 1998. Sua arte era considerada porquê arte bruta, termo galicismo criado por Jean Dubuffet, para nomear a arte produzida livre da influência de estilos oficiais e imposições do mercado da arte que, muitas vezes, utiliza materiais e técnicas inéditas e improváveis.
Início
Em Campinas, Roseno fez um curso de retrato e começou a trabalhar a partir das fotografias que tirava em preto e branco, disse a produtora da exposição, Amanda Grispin. “Ele passou a fazer intervenções nas fotografias, a matizar e, depois, passou para as telas. Ele não tinha formação acadêmica nenhuma em artes, não tinha técnica nenhuma, mas começou, de livre e espontânea vontade, a expressar coisas do cotidiano a partir da arte. Tudo virava suporte da pintura: resto de lata de tinta, sobras de cadeira. Tudo que ele pegava no lixo transformava em tela para poder pintar”.
Em 1988, segundo Amanda Grispin, o artista plástico Geraldo Porto o encontrou em uma feira de antiguidades no Meio de Convívio Cultural de Campinas, vendendo objetos e as telas. “Naquele momento, Geraldo Porto teve a certeza de estar “diante de um artista vasqueiro”, disse a produtora.
Amanda Grispin disse que o que chamou a atenção do artista plástico Geraldo Porto foi o indumentária de que Roseno usava suporte completo. Na frente estava a pintura e detrás uma série de informações que o artista julgava importante, porquê datas de instalação de eventos ou lugares, santinhos, notas de quantia, além de palavras soltas ou abreviadas.
“Ele era semianalfabeto e morador da periferia. O que ele conseguia redigir era traslado. Ele dava para as pessoas obras e balas em troca dessa escrita”, disse Amanda Grispin.
Roseno assinava A.R.L. por conta da dificuldade em redigir. Porquê pagamento por algumas telas, ele recebeu enciclopédias, de onde tirava datas de instalação de estados, por exemplo. “Tudo era importante para ele expressar no quadro, na segmento de trás do suporte”, explica Amanda.
Dentre as mais de 90 obras que o público poderá saber no segundo caminhar do CCBB RJ, com curadoria de Geraldo Porto, está a série Presidentes. “Para ele, personalidades notáveis de diversos setores eram presidentes. Ele tirava das enciclopédias vários nomes de pessoas que não foram presidentes, de indumentária, do Brasil, mas que, para ele, representavam alguma coisa de notável. Um dos destaques foi Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação, por quem o artista tinha grande veneração. E também por voar. O sonho dele era voar”.
Daí, a frase famosa de Roseno que estampa a exposição “Eu queria ser um passarinho para saber o mundo inteiro”.
Vida e Obra
A exposição é dividida na vida e obra do artista. Na primeira segmento, são exibidas as primeiras fotos. Na segmento que inclui a série Presidentes, pinturas de bêbados, mulheres e santas, recortes da cidade que ele também desenhava, e flores, frutos e animais.
Haverá à disposição do público três reproduções em 3D, visando facilitar a acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Para prometer o chegada a um número maior de visitantes, a mostra traz QR Codes nas fichas de identificação de todos os seus quadros, possibilitando a audiodescrição de cada um deles. Há também duas instalações com projeções. Uma delas mostra imagens do artista, de sua vida e dos eventos que fotograva na cidade, porquê casamentos e formaturas. Na outra instalação, há obras de Roseno em movimento.
Amanda Grispin ressalta porquê interessante na exposição as frases que Roseno reproduzia nos quadros. Ele sempre escrevia na segmento de trás do quadro “Nascente estampa foi fundado em 1961”, data que considerava porquê o início de sua curso artística porquê pintor e fotógrafo e coincidia com o curso de retrato que fez com um pintor espanhol, em São Paulo. Colocava também bilhetinhos detrás dos quadros. Escritos com as mais diversas letras, esses bilhetes avisavam sobre os materiais, processo de geração, realização, conservação da pintura e aconselhavam: “Quem pegar esse estampa guarda com carinho. Pode lavar. Só não pode escorchar. Fica para filhos e netos. Tendo zelo, dura meio século.” Amanda afirmou que “vários dos quadros dele têm essas frases interessantes”.
A produtora-executiva recordou que na dez de 1990, quando Geraldo Porto começou a levar Roseno para exposições em galerias de arte, saíram na mídia notícias de que o artista tinha qualquer distúrbio mental. “Ele ficou muito chateado e passou a colocar também detrás dos quadros que era um varão muito inteligente”.
Geraldo Porto fez a curadoria da primeira exposição de Roseno na Galeria de Arte Contemporânea Morada Triângulo, em São Paulo, em 1991. Logo depois, uma televisão alemã fez material sobre Roseno que foi veiculada em toda a Europa, durante a Documenta de Kassel, uma das maiores e importantes exposições da arte contemporânea e da arte moderna internacional, que ocorre a cada 5 anos na cidade de Kassel, na Alemanha. O artista morreu em 1998, quando boa segmento de suas obras já estava em coleções no Brasil e no exterior.
Outra segmento, que ficara com a família de Roseno, em Campinas, acabou descartada pelos próprios familiares, que pediram que o caminhão da prefeitura jogasse os quadros fora.