A diplomacia brasileira trabalha pelo cessar-fogo na Palestina desde o início da guerra. A morte em volume de crianças, mulheres e homens civis e a devastação de comunidades inteiras vêm intensificando os apelos.
Mas, o confronto desigual e massacrante prossegue, fundado em um suposto recta de resguardo interminável que vem sendo exercido pelo extermínio de civis, em nome da famigerada “Guerra ao Terror”.
É verdade que muito se tem dito sobre essa guerra. Uma vez que brasileira e paulista, gostaria de invocar a atenção para outra guerra mais próxima —para a qual também devemos pensar em um cessar-fogo. Descendo a serra do Mar há um banho de sangue em curso que tem resultado em consequências drásticas para toda a população, em privativo a negra.
Refiro-me aos índices recordes de obituário policial na Baixada Santista desde a morte de um policial da Rota, em fevereiro. Dezenas de pessoas foram mortas por forças policiais, em uma retaliação infinita que ultrapassa os envolvidos no confronto e vitimam comunidades inteiras.
Segundo dados oficiais —os quais, em tempos de gana, são passíveis de uma ainda maior subnotificação—, em menos de dois meses deste ano já são mais de 50 pessoas mortas pela PM na região. O número representa o triplo do registrado na cidade de São Paulo, que tem quase seis vezes mais habitantes que a Baixada.
Some-se a isso mais de 700 presos, muito porquê mais de 250 mandados de prisão em descerrado, incontáveis feridos e três policiais mortos. E, repito, exclusivamente em janeiro e fevereiro de 2024. Uma verdadeira guerra em curso, que engana segmento da população, pois promete segurança e entrega terror para todos os envolvidos.
Fosse uma atuação estatal eficiente, a Polícia Militar não estaria preocupada em vingar-se matando pessoas, independentemente de quem sejam. Não é essa a função da polícia e, além de desumanizante, gera violência que se volta contra os agentes. O Brasil é um dos países em que mais policiais morrem no mundo e a política da projéctil —histórica em comunidades periféricas— tem sido um enorme fracasso, que produz mortes de agentes do Estado.
Quanto à população, é importante expor que, embora não haja um objectivo solene definido para pessoas negras por segmento do Estado, é esse grupo social que vem sofrendo consequências radicalmente desproporcionais porquê resultado do confronto. Tanto vêm sendo essas as pessoas sumariamente julgadas e executadas quanto são a maioria absoluta de moradoras das comunidades afetadas pelo envolvente de profunda instabilidade e pânico.
Sou uma mulher negra santista, tenho irmãos e sobrinhos negros que vivem em bairros periféricos na Baixada. Meu sobrinho é um bom menino, quer ser fotógrafo e padrão; nunca se envolveu com droga, trabalha e estuda. Mas zero disso importa para as balas perdidas e execuções sumárias. As mulheres da família não podem imaginar vê-lo trespassar de mansão sem ficarem com o coração apertado, com pânico que lhe aconteça alguma violência em qualquer esquina.
Em conversa com Claudio Silva, o Claudinho, que é ouvidor da Polícia Militar, tomei ciência de casos muito preocupantes. Crescem as mortes de civis denunciadas pela população porquê realização sumária. Um exemplo foi a morte de José Marcos Nunes da Silva, catador de materiais recicláveis que, segundo sua família, não tinha envolvimento com violação e implorou desmontado para não morrer, sem sucesso.
Uma investigação independente e rigorosa do Ministério Público há de revelar muitos outros casos. Há que se debater ainda o papel de membros do poder público para estabelecer a interrupção desse morticínio, já que não só se omitem porquê comandam essas operações. Serão essas pessoas responsabilizadas?
O desenvolvimento social na região começa com um cessar-fogo, escoltado de políticas públicas de moradia, serviço, ensino, saúde, assistência social e saneamento obrigatório, entre outras, que visem a construção da humanidade e do bem-estar da população lugar. Esta, embora zero tenha a ver com os agentes envolvidos nessa guerra, paga o preço salso por ser constituída de pessoas negras, pobres e desconsideradas pelas políticas de Estado.
Dito isso, que sigamos com a pressão pela sossego na Palestina e alertas para a veras sangrenta do nosso país, que também precisa de um cessar-fogo.
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