Espremido entre os festivais de Woodstock, que aconteceu um mês antes, e o de Altamont, três meses depois, o Toronto Rock and Roll Revival, em setembro de 1969, no Canadá, é muito menos lembrado que seus irmãos mais famosos.
Vindo daquela cidade, o cineasta Ron Chapman não gosta que seja assim. Daí a realização de “Revival 69 – The Concert that Rocked the World”, filme lançado lá fora em 2022 e que agora chega ao Brasil para duas exibições no festival In-Edit, ambas com o diretor presente.
“É uma história incrível que, de alguma forma, se perdeu nas areias do tempo. E, no entanto, foi um festival que a [revista] Rolling Stone chamou de o segundo momento mais importante da história do rock, por pretexto dos eventos que aconteceram naquele show”, diz Chapman à Folha.
Não pergunte qual foi, segundo a revista, o momento mais importante da história, pois Chapman não se lembra. Mas ele é rápido em responder qual foi o evento que colocou Toronto 69 em tal pedestal.
“O festival significou o último prego no caixão dos Beatles. Foi quando John Lennon veio e tocou pela primeira vez sem os Beatles em sua vida. Depois, Paul soltou aquele expedido em que anunciou que sairia da filarmónica antes de John, mesmo que John tivesse saído da filarmónica primeiro.”
“Revival 69” se junta sobre 60 documentários no 17º In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Músico, que acontece entre esta quarta-feira (11) e o domingo que vem (22) em São Paulo.
O evento vai ocupar seis salas da cidade e oferecer uma programação paralela com shows, debates, encontros e sessões comentadas com convidados especiais, incluindo o canadense Ron Chapman, nos dias 17, no CineSesc, às 20h30, e 20, na Cinemateca, às 20h.
A programação é gratuita, exceto no CineSesc, que custará R$ 10. Entre os destaques, há inéditos sobre Lennon e Yoko Ono, a consolidação do hip-hop americano nos anos 1990, o indie rock dos Butthole Surfers, o hardcore do Fugazi, a cantora Peaches e o compositor de trilhas John Williams.
Dos nacionais, destacam-se premières sobre Cazuza, Leci Brandão, Hyldon, Letieres Leite, Julio Reny, Aldo Bueno, Ave Sangria, Júpiter Maçã e o cantor Azulão, além de “Anos 90 – A Explosão do Pagode”, que abre o evento.
O show que Lennon fez naquele festival é muito publicado. O show é da filarmónica Plastic Ono Band, com Yoko Ono no vocal e Eric Clapton na guitarra. O áudio foi lançado somente três meses depois, no álbum “Live Peace in Toronto 1969”, e o vídeo apareceu na obra do grande documentarista D.A. Pennebaker “Sweet Toronto”, de 1971, no qual também figuram Bo Diddley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry e Little Richard.
Com o nome de Toronto Rock and Roll Revival, o festival de indumentária começou porquê um revival, trazendo um line-up de antigas estrelas do rock’n’roll dos anos 1950. Gene Vincent, de “Be-Bop-A-Lula”, era outro deles. Os produtores, no entanto, não conseguiram atrair interesse dos jovens canadenses e estavam vendendo pouquíssimos ingressos.
A saída foi escalar uma filarmónica no auge, que acabou sendo os Doors. Mas não foi suficiente. A dois dias do evento, desesperados, eles ligaram para o escritório de John Lennon em Londres e o convidaram para tocar de perdão. Por incrível que pareça, o portanto beatle aceitou.
É justamente essa história de bastidores o grande trunfo do filme de Chapman. Além das filmagens de idade realizadas por Pennebaker, ele utilizou animação, arquivos de áudio e entrevistas recentes com quem estava lá, porquê Alice Cooper e o guitarrista do Doors, Robby Krieger.
“Minha intenção com o filme era realmente tentar trazer de volta aquela idade o sumo provável. Era provável, em 1969, para um promotor de 22 anos de Toronto, pegar o telefone e proferir: ‘Oi, quero falar com John Lennon’. E falar com John Lennon. Quero proferir, é ridículo!”, fala Chapman.
“E ainda mais ridículo é que John Lennon pegasse o telefone e dissesse: ‘Ah, um festival em Toronto, parece permitido, talvez eu vá tocar. Eu não tenho uma filarmónica, mas quando é? Daqui a dois dias? Manifesto, claro, vou invocar uns amigos para a filarmónica e nos vemos lá’.”
“Essa é a origem do que era o rock and roll, sabe? Quem faria isso hoje, para um público de 30 milénio pessoas? Sim, ele [Lennon] teve a humildade de fazer isso. A pureza que existia naquilo…”
Afora o show de Lennon, há cenas incríveis da gangue de motocicletas que foi recepcioná-lo no aeroporto —cenas filmadas em 8 mm por assistentes de Pennebaker que estavam guardadas em latas no registro e que não haviam sido reveladas.
“Pennebaker era um dos meus entrevistados”, lembra Chapman. “Demorei seis anos para fazer o filme. E portanto ele morreu [em 2019]. É muito engraçado se você olhar o projeto. Eu teria entrevistas com vários artistas, mas foi difícil levantar o numerário. E portanto, oh, Chuck Berry acaba de morrer [2017]. Oh, Little Richard acaba de morrer [2020]. Oh, Jerry Lee Lewis acaba de morrer [2022]. E foi tipo, sabe… não havia mais ninguém para filmar.”