'clube Zero' Falha Em Provocações E Estilo Asséptico 06/05/2024

‘Clube Zero’ falha em provocações e estilo asséptico – 06/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Clube Zero” começa da mesma forma que outros filmes de Jessica Hausner. Pessoas uniformizadas dentro de um envolvente asséptico, impessoal, enquadrado porquê numa foto de imobiliária.

Jovens de um escola de escol conversam com uma instrutora chamada Novak, interpretada por Mia Wasikowska. Em taxa, a alimento e seus efeitos no corpo e na mente.

Instrutora de uma disciplina chamada “Manducar consciente”, Novak ensina aos seus poucos alunos a influência de se manducar menos. Um dos alunos, Ben, depende de uma boa nota nessa disciplina para conseguir bolsa integral no escola. Ele ainda patroa Elsa, que faz segmento da pequena seita.

O filme não está preocupado, nem precisaria, em explicar por que tal disciplina tão minoritária conta para um pedido de bolsa integral, ou mesmo por que Novak tem todo esse poder dentro do escola. A trama está posta e é com ela seguimos, já antevendo aonde ela vai com o estilo também asséptico da diretora.

A escolha das cores de figurinos e ambientes operam no mesmo mau palato de seu longa anterior, “Little Joe”, de 2019. Mas em “Clube Zero” ela volta a usar e desmandar de um recurso extravasado em seu primeiro longa, “Lovely Rita”, de 2002: o zoom. Muitas cenas contêm aberturas e fechamentos do zoom, de forma lenta, sempre buscando um efeito artístico.

Zero de inexacto com esse procedimento, se tudo não se encaixasse de um modo irritante, em que cada escolha revele um libido de provocar o testemunha menos pela sátira a um estado de coisas do que pela afetação de um mau estilo.

A sátira sempre parece estar soterrada pelo artificialismo no cinema de Hausner, que cerra fileiras com o cinema de outros provocadores atuais porquê Ruben Östlund e Yorgos Lanthimos.

Parece incrível que no cinema dito autoral destes tempos, exista essa premência da certeza de um estilo gélido, que afaste o testemunha, recorrendo eventualmente a imagens-choque, porquê vômitos ou outras excreções.

No cinema de Hausner, grande segmento dessa certeza está na trilha sonora, movida a percussões, palmas, notas estridentes e até estrondo de animais.

Em uma cena réplica, ainda nos primeiros vinte minutos do filme, quatro jovens anoréxicos, entre eles, duas moças também bulímicas, todos da seita de Novak, ficam olhando mal-parecido para os outros jovens, que se serviram de refeições em quantidade, digamos, normal.

Dentro do mesmo refeitório, Novak chega a importunar, delicadamente, seu aluno Ben, que comia uma repasto normal com garfadas generosas. Zero do que fala nesse momento é estranho a qualquer pessoa que já tenha consultado uma nutricionista, mas fica a sensação de vigilância, até mesmo vexação.

Numa das conversas robóticas entre Novak e a diretora do escola, a primeira informa que alguns alunos respondem menos aos aprendizados que outros. Uma constatação óbvia, mas a diretora da escola e a diretora do filme reagem porquê se fosse um problema inesperado.

Em outro momento, quando eles resolvem não manducar mais, também pelo combate à miséria no mundo, os jovens pegam comida, sentam-se à mesa, levam o garfo até perto da boca para recusar a comida em seguida, num gesto performático.

Em seu cinema, raramente há uma preocupação com a dramaturgia. É porquê se o rompimento da frieza de encenação e das bobagens performáticas descritas supra causasse qualquer distúrbio em todo o filme.

Mesmo que a intenção de evitar esses distúrbios –o cevar e o da direção– crie um paralelo interessante, sente-se que um pouco espanou na máquina de provocar operada por Hausner.

Mia Wasikowska compõe uma personagem de horror com falas mansas e jeito meigo. Mas sua tradução não consegue salvar o filme de uma direção que peca pela automação, mais do que pela frieza.

O filme parece satirizar muitas coisas sem qualquer contundência: o escola de elites, a manipulação dos jovens e a inépcia de segmento da juventude atual, o etarismo, a cultura vegana, a premência doentia de pertencimento, o domínio dos pais no funcionamento de uma escola.

A contundência só existe nos momentos de choque. Hausner parece presa demais a convenções que ela própria estabeleceu em filmes anteriores, que provocam certa irritação, num meio caminho entre a explosão e a ironia.

Quanto à recepção, imagina-se que não haverá meio caminho. Ou se detesta, ou se adora “Clube Zero”. Se o número dos que ficarem em posição neutra for grande, o filme terá fracassado miseravelmente. O clube dos malvadinhos tem mais uma sócia.

Folha

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