Coldplay: 'moon Music' é Um Disco Mais Do Mesmo; Crítica

Coldplay: ‘Moon Music’ é um disco mais do mesmo; crítica – 03/10/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quem ouviu a estreia do Coldplay com “Parachutes” em 2000 dificilmente adivinharia a força mercantil que a orquestra britânica ganharia nas décadas seguintes. De um rock mútuo de sonoridade delicada e lenta, a orquestra recalculou rota ao final dos anos 2000 e passou a investir num pop heróico e prazenteiro.

Com trabalhos cada vez mais desinteressantes, o quarteto britânico falta mais uma vez em surpreender em seu décimo álbum de estúdio, o modorrento “Moon Music”, que será lançado nesta sexta-feira (4) nas plataformas de streaming.

Quando o Coldplay surgiu, na viradela do século, com faixas celebradas uma vez que “Sparks” e “Fix You”, o grupo parecia se inspirar em bandas uma vez que os seus conterrâneos Radiohead e os islandeses Sigur Rós —ambos de muito sucesso em seus respectivos nichos, mas sem tanto apelo para as massas. Foi nessa estação que fizeram seu primeiro show no Brasil, em São Paulo, para 6.000 pessoas.

O caminho que a orquestra tomou com o passar dos anos não poderia ter sido mais dissemelhante de seu início. A partir de “Viva La Vida”, de 2008, o Coldplay deixou de lado a melancolia e a veia selecção. Passou a ser uma orquestra prazenteiro, que se aproximava cada vez mais do pop, por meio de parcerias uma vez que as que fizeram com o grupo de k-pop BTS e a cantora Rihanna.

A mudança garantiu que, ao longo das décadas, a orquestra ganhasse o posto de uma das mais proeminentes do pop internacional, com shows ao vivo marcantes e coloridos, uma vez que a clássica apresentação da orquestra no Rock in Rio de 2011 e sua turnê pelo Brasil no ano pretérito.

O único problema: a música do grupo perdeu todas as características que a faziam única, caindo num limbo que parece fadado a tentar deleitar ao mínimo denominador geral. Essa mesma morosidade toma conta de “Moon Music”, que não apresenta nem uma teoria novidade sequer do vocalista Chris Martin e sua trupe.

O próprio single de divulgação do álbum, “feelslikeimfallinginlove” —uma junção de palavras em inglês para um pouco uma vez que “parece que estou me apaixonando”—, parece um déjà vu para algumas das faixas mais recentes da orquestra, uma vez que “My Universe” e “Something Just Like This”.

A batida eletrônica discreta, o refrão com coros e o sentimentalismo barato, tudo está ali. A sensação é que já ouvimos Martin cantando sobre o mesmo instrumental diversas vezes na última dez.

Um dos únicos atributos interessantes de “Moon Music” é o fluxo entre uma música e outra. Cada filete se encaixa perfeitamente na anterior, dando a sensação de que estamos ouvindo a uma grande obra coesa e não só um conjunto de faixas. Mas não tem quase zero notável nos 43 minutos de duração do álbum.

A duração, logo, parece se compelir mais do que o necessário. A primeira filete, “Moon Music”, conta com uma introdução tediosa de som envolvente de dois minutos antes de se apresentar uma vez que uma balada lenta de piano —de novo, zero que o Coldplay já não tenha feito diversas vezes ao longo dos últimos anos.

Os momentos em que o Coldplay parece mais próximo de fazer um pouco que valha a pena ouvir ficam por conta das participações do álbum. A rapper britânica Little Simz faz um verso cativante em “We Pray”, filete com uma levada que lembra hip-hop. Em “Good Feelings”, chamam atenção os belos vocais da cantora nigeriana Ayra Starr.

Mas o tecido de fundo que a orquestra constrói para essas boas performances quase extingue o luz que as participações adquirem. Os temas do grupo tampouco mudaram nestes três anos que eles tiveram para gerar um novo álbum, desde o lançamento de “Music of the Spheres”, em 2021.

Não é uma vez que se houvesse uma falta de assuntos para o Coldplay, que sempre foi envolvido com filantropia e ativismo. Mas, mesmo com as guerras, desigualdades e crises ambientais que se aprofundaram no mundo pós-pandêmico, eles parecem ter pouco a proferir —até a música “One World”, que fecha o álbum, somente repete em loop a frase “one world, only one world” —ou um mundo, só um mundo.

Há alguns dias, Chris Martin disse em entrevista ao locutor Zane Lowe que o Coldplay terá somente doze álbuns antes de fechar sua discografia —ou seja, mais dois álbuns além de “Moon Music”. Se os próximos projetos da orquestra forem tão sem inspiração quanto oriente, talvez seja melhor fechar os trabalhos mais cedo.

Folha

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