Com Construção Parada, Angra 3 Investe Em Conservação De Equipamentos

Com construção parada, Angra 3 investe em conservação de equipamentos

Brasil

Na Costa Virente do estado do Rio de Janeiro, um imenso canteiro de obras se destaca entre o azul do mar e o verdejante da Mata Atlântica. É a construção da Usina Nuclear Enseada 3, paragem praticamente desde 2015, que espera o sinal verdejante para ser retomada.

No entanto, uma vez que o projeto de construção do que pode ser a terceira e mais potente usina nuclear do país data da dez de 1980, murado de 80% dos equipamentos da usina já estão comprados e precisam ser submetidos a um rigoroso controle de manutenção, para que o tempo de “hibernação forçada” não os comprometa.

A reportagem da Dependência Brasil visitou o canteiro de obras de Enseada 3 a invitação da Eletronuclear e pôde perceber que, enquanto a construção social está paragem, muita atenção é despejada para os 35 galpões que armazenam maquinário. “Viramos especialistas em preservar equipamentos”, diz o engenheiro Bruno Bertini, responsável pelo Departamento de Montagem.

A frase traz um texto de lamentação pelo traje de a obra não deslanchar, mas também tem um proporção de mostra de orgulho, por conseguir manter conservada por tanto tempo uma grande quantidade de maquinário, alguns itens desde 1984.

Angra dos Reis (RJ), 20/06/2024 –Futuras instalações da Usina de Angra 3, na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Angra dos Reis (RJ), 20/06/2024 –Futuras instalações da Usina de Angra 3, na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Galpões guardam 12 milénio volumes de equipamentos, que são inspecionados regularmente – Tomaz Silva/Dependência Brasil

Nos galpões, 12 milénio volumes de equipamentos – a maioria importada – são cuidadosamente alocados, catalogados e inspecionados regularmente. Alguns ficam envoltos em uma espécie de envoltório térmica e expostos à sílica – substância que evita a oxidação.

Uma vez que Enseada 3 é um projeto “gêmeo” de Enseada 2, já aconteceu de peças armazenadas serem usadas para substituir alguma que precisou ser trocada na usina vizinha.

Bertini adianta qual será o procedimento a partir do momento em que a construção for reiniciada: “os equipamentos vão passar por inspeção universal, e serão trocados itens suscetíveis a envelhecimento.”

Interrupção em 2015

A interrupção das obras em 2015 foi motivada por questões orçamentárias, ou seja, falta de moeda. Um freio que ficou mais pesado ainda por culpa de reflexos da Operação Lava Jato nos anos seguintes, que teve uma vez que um dos alvos o logo presidente da estatal, Othon Luiz Pinho da Silva.

Apesar do tempo de obra inativa, o superintendente de construção de Enseada 3, Antonio Zaroni, explica que as partes mecânicas da usina nuclear são as mesmas de Enseada 2, o que faz com que os equipamentos, uma vez que bombas, compressores e geradores não sejam obsoletos. “Os [itens] obsoletos foram substituídos, foram comprados novos, mais atuais. Enseada 3 tem uma vantagem enorme porque a segmento de mecânica, por exemplo, tanques, trocadores de calor, tubulação, isso não sofre obsolescência.”

Zaroni detalha que alguns equipamentos mecânicos mais modernos podem ter pequenas melhorias, mas isso não representa que os adquiridos estejam obsoletos. Ele acrescenta que equipamentos elétricos foram comprados há menos tempo, inclusive alguns sequer foram entregues ainda. “A segmento elétrica, de instrumentação e controle, da sala de controle, retificadores e painéis é toda novidade, zerada. A segmento elétrica é o que tem de mais moderno atualmente”, afirma.

Essa atualização da segmento “inteligente” da usina é a justificativa para o traje de que Enseada 3, quando pronta, terá capacidade de geração um pouco maior que a mana gêmea, Enseada 2.

Retomada

A retomada das obras depende de decisão do governo. A Eletronuclear contratou o Banco Pátrio de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fazer um estudo sobre a viabilidade técnica, financeira e jurídica da usina. O documento é supervisionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e o estudo será medido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), pelo Ministério de Minas e Força e pelo Juízo Pátrio de Política Energética (CNPE), que ficarão responsáveis pela definição da outorga (autorização do funcionamento) e aprovação da tarifa de comercialização da pujança a ser gerada.

Segundo a Eletronuclear, o estudo do BNDES deve ser divulgado em julho. Procurado pela Dependência Brasil, o banco público não se manifestou. Já o ministério informou que “aguarda o relatório sobre o projeto de Enseada 3 a tempo da próxima reunião do CNPE, prevista para leste segundo semestre”.

Antonio Zaroni diz esperar que a epílogo do governo seja conhecida até setembro deste ano, o que permitiria que a licitação para escolha da empresa que terminará a obra seja feita no primeiro semestre de 2025. Assim, o início das obras se daria em setembro do mesmo ano. O cronograma estimado é de murado de 60 meses de construção, fazendo com que Enseada 3 comece a operar em 2030.

Orçamento

Com o estudo do BNDES em curso, a Eletronuclear não informa, em valores atuais, o quanto já foi investido em Enseada 3. O quantitativo informado pela antiga direção da empresa dava conta de murado de R$ 7,8 bilhões.

Para a epílogo da usina, são estimados aproximadamente R$ 20 bilhões, que seriam aportados por meio de financiamentos. Esse valor seria para custos de engenharia, material, manutenção e pagamento de empréstimos contraídos anteriormente. Custos, aliás, que não estão zerados. Mesmo com a obra paragem, murado de 250 pessoas trabalham nos canteiros, grande segmento terceirizada, em atividades de manutenção e obras acessórias.

A teoria é que a usina “se pague”, ou seja, quando a instalação estiver produzindo e vendendo pujança, segmento da receita quitaria o financiamento.

O superintendente Zaroni detalha que 67% da obra está pronta, parcela que representa principalmente a construção social, isto é, a segmento de concreto. Em um passeio pelo canteiro cinza, é provável ver vergalhões expostos, que precisam ser revestidos para não sofrerem deterioração.

Dos equipamentos, murado de 10% estão montados, uma vez que alguns transformadores, trocadores de calor e tanques.

Acreditando que o edital de licitação vá a público em fevereiro de 2025, Antonio Zaroni ressalta que a concorrência será internacional e rigorosa. É uma forma de evitar problemas uma vez que o do consórcio Ferreira Guedes-Matricial-Adtranz, que ganhou uma concorrência em fevereiro de 2022 para terminar ao menos a construção social da usina, mas não apresentou qualificação técnica suficiente para executar a mediação. O contrato foi rescindido em junho de 2024.

“O edital estará com exigências mais altas. Tem que ser empresas que já construíam projetos semelhantes. Estamos mais tranquilos”, disse Zaroni.

Quando concluída, Enseada 3 será a terceira usina da Médio Nuclear Almirante Álvaro Alberto, terá potência de 1.405 megawatts (MW) e poderá gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, o suficiente para atender 4,5 milhões de pessoas. Com a terceira usina em atividade, a pujança nuclear representará o equivalente a 60% do consumo do estado do Rio de Janeiro e 3% do Brasil.

Apesar da pequena participação na matriz elétrica brasileira, Zaroni destaca que, além de ser considerada limpa e cercada de procedimentos que garantem a segurança da operação, a pujança nuclear tem a vantagem de a geração ser praticamente integral e ininterrupta.

“A geração tem um fator de disponibilidade muito supino, a usina fica o ano inteiro gerando 100% da capacidade, diferentemente de outras fontes, uma vez que a hidrelétrica e a solar, que ficam oscilando”, compara Zaroni.

*A reportagem da Dependência Brasil viajou ao Multíplice Nuclear em Enseada dos Reis a invitação da Eletronuclear

Fonte EBC

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