Comissão Pede Ao Cnj Correção De Certidões De Mortos Pela

Comissão pede ao CNJ correção de certidões de mortos pela ditadura

Brasil

Recriada no início de julho deste ano, por meio de um despacho presidencial, a Percentagem Próprio sobre Mortos e Desaparecidos Políticos retomou seus trabalhos oficialmente nesta sexta-feira (30), com uma cerimônia solene que emocionou parentes das vítimas da violência das forças de repressão do Estado durante o regime militar (1964-1985).

No evento, a presidenta do colegiado, Eugênia Augusto Gonzaga, e o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, entregaram ao representante do Parecer Vernáculo de Justiça (CNJ) um pedido solene para que a instituição responsável por, entre outras coisas, recomendar medidas que aperfeiçoem o trabalho do sistema judiciário, aprove uma solução determinando a correção das certidões de óbitos dos mortos e desaparecidos políticos.

A retificação dos registros emitidos às famílias ao longo de anos é uma das 29 recomendações que a Percentagem Vernáculo da Verdade (CNV) incluiu no relatório que apresentou em 2014. O documento é fruto do trabalho de dois anos e sete meses, durante os quais os membros da CNV colheram depoimentos e analisaram documentos com o objetivo de “esclarecer as graves violações de direitos humanos” ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e “efetivar o recta à memória e à verdade histórica”, promovendo a reconciliação vernáculo.

Brasília (DF), 30.08.2024 - Cerimônia de reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 30.08.2024 - Cerimônia de reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Brasília (DF), 30.08.2024 – Cerimônia de reinstalação da Percentagem Próprio sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Foto: Antônio Cruz/Dependência Brasil

Junto ao pedido ao CNJ, a presidenta da percentagem próprio e o ministro entregaram reprodução de um protótipo de certificado no qual o Estado reconhece a morte não oriundo, violenta, causada por perseguição política pelas forças repressivas do Estado. A proposta, segundo Silvio Almeida, é que o CNJ determine aos cartórios de todo o país que corrijam as certidões de óbito indicadas pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania ou pela própria Percentagem Próprio sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

“Esta parceria com o CNJ é muito importante para podermos satisfazer a recomendação da CNV integralmente, retificando todos os assentos [certidões] de óbito já reconhecidos”, disse a presidenta da percentagem próprio à Dependência Brasil. Segundo ela, em 407 dos 434 casos de mortes e desaparecimentos que a CNV confirmou em 2014, os termos lavrados nos documentos não refletem a real justificação dos óbitos. É o caso, por exemplo, do documento entregue à família de Dinaelza Soares Santana Coqueiro, a Maria Dina.

“Até hoje, não sabemos porquê nossos parentes morreram e onde foram sepultados. No atestado de óbito da minha mana, por exemplo, os espaços destinados a informar a justificação da morte e o lugar onde ela está enterrada contém exclusivamente uma referência à Lei 9.140 [que, em 1995, reconheceu como mortas os desaparecidos políticos entre setembro de 1961 e agosto de 1979]”, acrescentou Diva Soares Santana, cuja mana, Dinaelza, e o cunhado, Vandick Reidner Pereira Coqueiro, foram mortos por militares durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, no Pará.

Dina e o marido eram estudantes universitários na Bahia, tinham pouco mais de 20 anos de idade, militavam no movimento estudantil e, ao se tornarem alvos de perseguição política, em 1974, passaram a atuar na clandestinidade.

“Eles tiveram que desistir suas famílias, os estudos e fugir. Ela se despediu da família com uma epístola, pedindo que não nos preocupássemos e não os procurássemos. Só em 1979, depois a Lei da Anistia, soubemos, por uma entrevista com o [ex-deputado federal] José Genoíno que a Dinaelza e o Vandick estavam entre os estudantes presos no Araguaia, resistindo à ditadura militar”, detalhou Diva, acrescentando que sua mãe viveu por mais 37 anos, até 2016, convicta de que a filha regressaria.

“Durante todo nascente tempo, minha mãe morou no mesmo endereço por crer que a filha voltaria; que a qualquer hora minha mana bateria na porta. Mas a Dinaelza foi morta pela violência do Estado brasílico. E ter isso reconhecido em um documento solene é importante, inclusive para o país. Para provar que houve e há brasileiros dispostos a lutar e a dar suas vidas pela liberdade e pela democracia”, concluiu Diva sobre a prestígio da revisão das certidões de óbito.

Brasília (DF), 30.08.2024 - O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Silvio Almeida participa de cerimônia de reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 30.08.2024 - O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Silvio Almeida participa de cerimônia de reinstalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Brasília (DF), 30.08.2024 – O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, participa de cerimônia de reinstalação da Percentagem Próprio sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Foto: Antônio Cruz/Dependência Brasil

Emocionado, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, celebrou o consonância para retificação das certidões de óbito e a reinstalação da Percentagem Próprio sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, cujos trabalhos foram interrompidos em 30 de dezembro de 2022, às vésperas da posse da atual gestão federalista. De consonância com o ministro, a correção dos registros civis era uma medida há muito esperada, sobre a qual ele teve oportunidade de conversar previamente com o presidente do Supremo Tribunal Federalista (STF), Luís Roberto Barroso.

“A Percentagem Próprio é retomada com respaldo do presidente da República [Luiz Inácio Lula da Silva] e é fruto de uma concertação [acordo] entre os poderes da República. Esperamos colocando a percentagem em uma novidade temporada, na qual possa ampliar seus trabalhos. E decidimos satisfazer integralmente a recomendação da CNV […] É necessário reconhecer a exigência de desaparecidos políticos das pessoas”, comentou o ministro.

Fonte EBC

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