Em “A Morada do Dragão”, o embate é entre duas feras que querem proteger seus filhotes.
Não dragões, mas as ex-amigas do peito Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower, que na novidade temporada da série abandonam qualquer traço de carinho que já nutriram uma pela outra. Agora arqui inimigas, elas tomam partido na combate dos filhos, cujas travessuras adolescentes acabaram num assassínio não premeditado entre eles na primeira leva de episódios, de 2022.
O segundo ano do seriado prelúdio de “Game of Thrones”, que volta a ser exibido pela HBO neste domingo, leva a picuinha de madrasta e enteada afora dos seus castelos, o que faz com que outras castas metam o bedelho neste grande caso de família.
Ainda que “A Morada do Dragão” agrade a audiência ao apostar no mesmo misto de espadas e fofocas de “Game of Thrones”, ela tem uma diferença notável —o que impera cá são os dramas de duas mulheres, Rhaenyra e Alicent, que flutuam sobre os homens da história.
É um progresso frente à primeira temporada, quando as duas orbitavam o rei Viserys, pai de Rhaenyra e marido de Alicent. Agora, com ele morto, elas se enfrentam pela diadema, a primeira para seu próprio desfruto, e a outra para indultar o fruto mais velho.
“É isso que torna ‘A Morada do Dragão’ única no cenário de fantasia, e dissemelhante da série original”, diz Ryan Condal, cocriador e roteirista da produção. “A razão de termos escolhido recontar essa história, e não outra [do universo de ‘Game of Thrones], é o vestimenta de termos duas mulheres no núcleo, mesmo que sob o controle do patriarcado, lutando contra ele.”
Outro papel importante é o de Rhaenys Targaryen, tia da protagonista Rhaenyra, conhecida porquê a Rainha que Nunca Foi —no pretérito ela disputou o trono com o irmão Viserys, mais novo que ela, mas perdeu justamente por ser mulher.
“Desde que ‘Game of Thrones’ estreou, em 2011, o mundo mudou muito. Houve o Me Too”, diz a atriz Eve Best, tradutor de Rhaenys, mencionando o movimento em que mulheres denunciaram casos de assédio e afronta cometidos por homens da indústria do audiovisual. “Hoje vemos toda uma geração de mulheres ascendendo a cargos de governança.”
“A discussão da série é tão palpável que me faz relacioná-la com a Câmara dos Comuns, do Reino Unificado, [câmara que reúne parlamentares britânicos], um envolvente tão masculino e machista. É muito parecido com o que interpretamos no set de gravações, porquê as cenas no recomendação do reino em que Rhaenyra [que luta pela coroa] é intimidada ou ignorada por um grupo de homens.”
Seguir numa toada mais feminina faz com “A Morada do Dragão” atenda também a uma demanda antiga dos fãs de “Game of Thrones”, que por uma dezena acumulou prêmios e prestígio, mas também uma mesma reclamação —a de que exagerava nas cenas de violência e afronta sexual com mulheres.
O auge da polêmica ocorreu num capítulo da quinta temporada, de 2015, quando a personagem Sansa Stark é estuprada pelo marido numa cena tachada de desconfortável por muitos. À idade reclamavam também que a série pregava a teoria de que as garotas da série dependiam de violências desse tipo para terem alguma evolução no seu círculo narrativo.
“A Morada do Dragão” já tinha sido mais comedida nesse sentido desde sua estreia, e a julgar pelos capítulos liberados aos jornalistas com antecedência, a série volta com a promessa de frear ainda mais nas cenas de crueldade —porquê no primeiro capítulo, quando a lente da câmera é desviada de um assassínio bárbaro.
“‘Game of Thrones’ construiu sua reputação cruzando seu limite e portanto criando outro para cruzar de novo. Brutalidade e sexo são intrínsecos a esse mundo, e precisa possuir uma razão para inseri-los na história, mas não queremos ser gratuitos cá”, diz Condal, o roteirista.
Ele escreve os episódios de “A Morada do Dragão” usando porquê base o livro “Queimação e Sangue”, publicado no Brasil pela editora Suma. A obra é de George R. R. Martin, a mente por trás deste universo hipotético.
O noticiarista não esteve envolvido com a novidade temporada de “A Morada de Dragão”, porém. Condal diz que ele anda ocupado escrevendo “vários livros e outras séries de TV”.
Martin está há anos prometendo concluir “As Crônicas de Gelo e Queimação”, romances que deram origem a “Game of Thrones”, de quem quinto e último volume foi publicado em 2011. A vagar virou piada entre segmento dos fãs, que dizem temer que ele morra antes de finalizar a obra que mudou sua vida.
Apesar disso, Martin é tido porquê um dos nomes mais relevantes da fantasia contemporânea. Um dos autores mais muito pagos do mundo, seus calhamaços venderam milhões de exemplares e ajudaram a levar a fantasia épica para as prateleiras mais visadas das livrarias.
Um dos seus méritos foi gerar uma história em que é difícil definir quem é bom ou mau, o que fez “Game of Thrones” despertar amores e ódios por seus personagens zero maniqueístas. Essa pegada segue em “A Morada do Dragão”.
“Somos criaturas complexas”, diz Steve Toussaint, ator que dá vida a Corlys, lorde dos Velaryon, aliados da protagonista Rhaenyra. “Existem políticos que eu não suporto ouvir discursarem, mas que com certeza são adoráveis entre seus amigos. Nos cabe tentar retratar isso de forma leal porque é porquê o mundo opera.”
Se nos tempos de “Game of Thrones” os fãs se dividiam entre torcer para alguns poucos mocinhos, em “A Morada do Dragão” é mais difícil resolver se é a madrasta ou a ingresso quem merece prosperar.
A própria HBO se aproveitou disso para propalar a série ao gerar vídeos em que as bandeiras dos dois exércitos da série foram colocadas digitalmente em pontos turísticos de vários países. Um dos escolhidos foi o bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, que segura a bandeira verdejante da família de Alicent, enquanto o Fortaleza de Chapultepec, na Cidade do México, foi enroupado com o símbolo preto de Rhaenyra.
Essa anfibologia da personagens inflama até o elenco. Fabien Frankel e Matt Smith, que dão vida a Daemon Targaryen e Sor Criston Cole, de lados opostos na série, debatem durante a entrevista.
“Não consigo ver nenhum traço de malvadeza na Alicent”, diz o primeiro, de quem personagem é um pau-mandado dela. Smith, até portanto um braço-direito de Rhaenyra, lembra ao colega de uma série de escrúpulos da personagem.
“As pessoas existem na anfibologia que permeia o mundo. Essas figuras não são boas, nem más, não são diferentes nem indiferentes. Elas são tudo ao mesmo tempo, e isso é ser humano”, diz o ator.