Como beleza fatal viralizou com nudez e vilã diva dos

Como Beleza Fatal viralizou com nudez e vilã diva dos gays – 21/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

De cachorrinho a tiracolo, vestindo looks de perua sexy e ofendendo todos ao volta, Lola escandaliza na romance “Venustidade Irremissível”. Assassina, manipuladora e mentirosa, a contraditor caiu no paladar popular apesar de suas maldades —ou justamente por justificação delas—, consolidando o sucesso deste novo tipo de folhetim, pensado para o streaming.

Apesar de o alcance de um serviço pago uma vez que a Max ser subordinado ao do sinal gratuito da TV —não é provável medir quantos assinantes a plataforma tem no país nem quantos deles assistiram à romance—, “Venustidade Irremissível” virou fenômeno pop, originando memes, bordões e até fantasias de Carnaval

O experimento da Max parece ter sido bem-sucedido sobretudo na internet. No Google Trends, utensílio que monitora a relevância de assuntos na plataforma, “Venustidade Irremissível” se manteve adiante de “Mania de Você”, também em sua reta final na fita das nove da Orbe, na maior secção deste mês de março, e Lola teve seu nome três vezes mais buscado que o de Mavi, vilão de Chay Suede no folhetim da TV ensejo.

A romance ainda inspirou festas que exibirão seu último capítulo, nesta sexta-feira (21), às 20h. As sessões acontecem não só em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas em locais uma vez que Cariri, no interno do Ceará. A última vez que um folhetim gerou esse nível de interesse por seus acontecimentos finais foi há mais de uma dezena, com “Paixão à Vida”, que mostrou o primeiro ósculo gay de uma produção da Orbe.

Na programação de São Paulo está a Zig, boate gay que tem festas de música pop e recentemente contratou a britânica Charli XCX para ser DJ, e também a Toca Uma pra Mim, no Tatuapé, bairro mais conservador e com subida concentração de bares voltados ao público heterossexual.

Isso tudo desprezando elementos básicos de uma romance. “Venustidade Irremissível” é uma obra fechada —isto é, gravada por inteiro antes da estreia—, com unicamente 40 capítulos e lançada em blocos semanais que incentivam a maratona, uma vez que as séries —a Max, sem publicar cifras de audiência, diz que o tempo que seu assinante dedicou a “Venustidade Irremissível” aumentou em 30% a cada semana desde a estreia, em janeiro.

“A romance pegou um público jovem, que não estava avezado com o formato, e também o noveleiro tradicional. Pegou o público de esquerda e o mais conservador. Não temos uma vez que calcular, mas parece ter um alcance vasto”, diz Raphael Montes, responsável do folhetim e de livros de sucesso uma vez que “Bom Dia, Verônica”, que virou uma série na Netflix.

Montes nota o interesse pessoal do público LGBTQIA+ por sua história. Enquanto lésbicas se deliciaram com as pegações desenfreadas de Lola, que transa com homens e mulheres, os gays a declararam uma diva, uma vez que já fizeram com outras vilãs de novelas. Seu jeito sujo, elitista e debochado, mas também determinado e empoderado, lembra Odete Roitman, uma referência de contraditor no gênero.

Uma vez que a vilã de “Vale Tudo”, que a Orbe está regravando, Lola é malvada de verdade. Ela despreza o politicamente correto —faz piadas transfóbicas, humilha gordos e transforma pobres em joguete. Para os fãs de “Venustidade Irremissível” nas redes sociais, essa imoralidade é um dos elementos que faltam às novelas de hoje na TV ensejo.

A ousadia da personagem tem a ver com o veste de o streaming não ter de prestar contas a anunciantes, por exemplo. Na TV, as emissoras têm dificuldade de desmandar de temas e abordagens que possam ser consideradas polêmicas demais não só pelo público, mas por marcas patrocinadoras.

“‘Venustidade Irremissível’ provou que o mercado está mais simples para um teor sem amarras”, afirma Monica Pimentel, vice-presidente de teor da Warner Bros. Discovery, dona da Max. “Não dá para viver um vilão que não se expresse uma vez que tal, que não seja cruel. Por isso o responsável exagerou e quebrou as barreiras que deixaram esse gênero tão sem tempero.”

Sem amarras, Montes diz ter tentado tornar seus personagens pessoas reais, entre erros e acertos, e que o julgamento sobre o que dizem ficou a missão do público, numa narrativa sem moralismo. “Deu perceptível porque o Raphael pegou a estrutura tradicional da romance e deu a ela uma vestes novidade”, diz ainda Caio Blat, que vive o par romântico de Lola e cirurgião inescrupuloso Benjamin Argento. “‘Venustidade Irremissível’ é super ‘queer’, fala de vários tipos de relacionamentos, de sexo, tem cenas picantes.”

Assim, o tropa de “lolovers”, uma vez que Lola batizou os fãs da clínica de estética que tem na romance, deixou de viver unicamente na ficção. “Eu me sinto abraçada pelo público gay”, diz Camila Pitanga, que vai escoltar o capítulo final numa dessas festas temáticas, para sentir o calor do público. “Ela é uma mulher que se afirma, com suas cicatrizes, loucuras e deboche, sem pânico de expressar sua personalidade. Essa exuberância se relaciona com o universo gay.”

Fazer de Lola bissexual é também uma estratégia para tornar a romance mais sedutora para esse público. Representa um movimento ousado para o gênero, incomum na TV ensejo, que raramente faz protagonistas não heterossexuais. Uma das únicas vezes que isso aconteceu foi com “Paixão à Vida”, da Orbe, que tinha Felix uma vez que um vilão homossexual.

Outro elemento de sucesso é a nudez. Na trama, Argento e outros homens deixam as bundas à mostra por vários segundos, e Lola, numa das cenas, prende um cubo de gelo entre os lábios e passeia com ele pelo corpo nu do marido, causando uma sinfonia de gemidos.

Apesar de pouco se ver, a romance é bastante erótica. Há sexo heterossexual, mas também gay e lésbico. Há papai e mamãe, mas também chicotadas numa sarau sadomasoquista. Há corpos contornados por lençóis assepticamente brancos, mas também pelo vapor da sauna.

A subida voltagem sexual é mais um meneio à TV ensejo de décadas passadas, que usava os corpos de seus atores para provocar o testemunha, uma vez que foi com Fabio Assunção, nu em “Pátria Minha”, e Isadora Ribeiro, com os seios à mostra na introdução de “Tieta”, que foi cortada na reexibição do Vale a Pena Ver de Novo no ar agora.

“Sexo sempre vendeu, não é novidade”, diz Silvo de Abreu, um dos maiores dramaturgos do país, responsável de “Rainha da Sucata” e ex-chefe de dramaturgia na Orbe. Ele foi contratado para cuidar das novelas da Warner e supervisionou o texto de “Venustidade Irremissível”, mas deixou a empresa antes do lançamento da romance.

“Usar varão uma vez que objeto sexual escandaliza e dá perceptível”, segue, lembrando que fez isso com o ator Mário Gomes em “Guerra dos Sexos”. “Meu raciocínio na idade era ‘se a maior secção do público de romance são mulheres e gays, por que não mostrar o que eles querem ver? Fiz isso por uma questão de marketing.”

Se hoje há mais pudor na TV ensejo, com raras cenas de nudez e tentativas de embalar novelas uma vez que um resultado “premium”, a Max faz o caminho inverso, se aproximando do popularesco com os absurdos pouco críveis e histriônicos de “Venustidade Irremissível”.

A atriz Adriana Esteves, de “Mania de Você”, chegou a expressar que o folhetim seria uma “The White Lotus” brasileira, em referência à série premiada, uma das joias da diadema da HBO, que exibe seu montão na Max. Por outro lado, esta passou por uma repaginação recente, para deixar de ser associada unicamente a títulos mais cabeçudos e adultos uma vez que “Succession” e “Game of Thrones”.

Dessa forma, “Venustidade Irremissível” inflama a guerra que os canais de TV e as plataformas de streaming travam entre si para fisgar o público. O bom resultado não é definitivo —aliás, na Band, onde a trama passou a ser exibida, não houve ganhos de audiência, com dois pontos médios no Kantar Ibope na presença de os 20 da Orbe. Mas a maneira uma vez que a história viralizou nas redes já parece suficiente para transformar a concorrência acirrada do mercado audiovisual num novelão.

Folha

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