Como Carabao Virou Uma Das Maiores Aparelhagens Do Pará

Como Carabao virou uma das maiores aparelhagens do Pará – 31/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O relógio já passava das 3h da manhã quando as caixas de som acopladas numa estrutura gigante em formato de búfalo entoaram “Minha Presa”, uma música de Zezé di Camargo antes de se juntar ao irmão Luciano. A fita não tocou porquê ela veio ao mundo, mas com batida de brega paraense e ensopado em graves do tipo estoura peito.

Foi um momento típico da aparelhagem Carabao, uma das atrações do festival Psica, que aconteceu de 13 a 15 de dezembro em Belém. O grupo de DJs levou a estrutura traste de búfalo, com arquitetura que imita cornos nas laterais do palco, para dentro do estádio Mangueirão.

O Carabao surgiu há exclusivamente dois anos, mas já se tornou uma das maiores aparelhagens do Pará. Além de um momento de rock doido, vertente mais atual, dançante e acelerada do tecnobrega, ela se destaca por ter um repertório com músicas que batem fundo na psique.

Isso significa um resgate de sucesso românticos —internacionais, nacionais ou versões em português de músicas estrangeiras. Não são exclusivamente hits antigos, mas também sofrências atuais do sertanejo, forró, brega e arrocha.

É mais ou menos o que os paraenses chamam de bregas “saudade” e “marcantes”. “Saudade é um ritmo que tu dança muito agarradinho”, diz Tom Sumo, principal de DJ e pai da aparelhagem, horas antes de subir no palco. “Já marcante é mais solto, a rapariga rodando, tu puxa ela pra cá, vai pra lá.”

Definir os estilos musicais não por sonoridade, mas pela maneira que se dança, diz muito sobre porquê a música é feita e consumida em Belém. Mais ainda no caso de uma aparelhagem, que têm a função de animar uma sarau —no caso do Psica, elas fecharam a programação em todos os dias de festival.

Mas Tom dá exemplos de músicas de cada um desses ritmos. “Minha Presa”, de Zezé di Camargo, é uma das faixas do tipo “saudade”. Já “Foi no Teu Olhar”, um tecnobrega da orquestra paraense AR-15, pode ser definida porquê “marcante”. Os nomes também ajudam a entender —”saudade” compreende canções mais antigas, e “marcantes” são mais novas.

O diferencial do Carabao, diz Tom Sumo, foi juntar numa mesma aparelhagem esses dois estilos. Ele passou 28 anos tocando num projeto chamado Carroça da Saudade, e depois outros quatro em curso solo. Testou a novidade proposta num evento chamado Dança do Alô antes de levá-la ao Carabao.

“Tinha aparelhagens que tocava só ‘saudade’, e muito pouquinho ‘marcante’. Eu uni as duas coisas. Os novos curtem uma marcante e depois esperam os mais antigos curtir um dança e fica assim —bom para os novos e para os antigos”, ele explica.

Nessa proposta, há um olhar privativo para relíquias que fazem secção da trilha sonora das ruas de Belém. São músicas essenciais da tradição do brega nortista, ligadas à jovem guarda a influências latinas, das décadas de 1970 e 1980, porquê “Ao Pôr do Sol”, de Teddy Max, e “Minha Amiga”, de Mauro Cotta.

Elas entram num caldo que passa indiscriminadamente por “Anna Júlia”, do Los Hermanos, “Pagode Russo”, de Luiz Gonzaga, “Cavalo Manco”, da orquestra Calypso, e “Recife”, de Reginaldo Rossi. Também inclui sucessos radiofônicos vindos de fora, porquê “I’m Yours”, de Jason Mraz.

Quase zero é tocado do jeito que foi lançando. “Think Twice”, de Céline Dion, ganhou um tratamento de reggae, enquanto outra secção do repertório surgiu mais vertiginoso e com batidas de tecnobrega.

Liderado por Tom Sumo, o Carabao tem outros três DJs, que funcionam quase porquê uma orquestra e se revezam no comando das picapes. No Psica, eles pareciam uma versão caipira e amazônica do Kraftwerk —quatro homens com chapéu de boiadeiro em cima de um búfalo tecnológico comandando a plebe.

Eles se apresentam sobre o bicho —Carabao é uma espécie de búfalo— que é um símbolo da ilhéu do Marajó, no Pará. É daí que vem uma das vinhetas da equipe —”o furioso do Marajó”. A estrutura no palco treme conforme a música e solta fumaça porquê se o bicho estivesse enfurecido com o som.

Se secção dessa abordagem de som e visual também é aplicada por outras aparelhagens, a subida veloz do Carabao passa pelas redes sociais. Graças a um vídeo em que um influenecer pergunta ao rebento se “é Carabao ou rostro mau?”, ao que ele responde, “é Carabao, o rostro mau levou a mamãe”. O áudio viralizou e gerou outros vídeos com essa temática do corno no TikTok.

Tom Sumo também faz provocações sobre relacionamentos em cima do palco. Ele costuma tocar “Nem Perdeu”, sertanejo de Matheus e Kauan —que no Psica surgiu sob um filtro de dub— enquanto brinca com as mulheres da plateia e a letra da música, sobre o refrigério pelo termo de um relacionamento sufocante.

Mas, para o DJ, a explicação do sucesso é menos mundana. “Muita fé e confiar em Jesus Cristo, em Deus”, afirma.

O jornalista viajou a invitação do festival Psica

Folha

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