Nos anos 1970, Chico Buarque, que completou 80 anos no mês pretérito, decidiu produzir uma estratégia para driblar a exprobação da ditadura militar, que o sufocava artisticamente e dificultava o lançamento de suas canções, simplesmente por serem creditadas a ele.
Assim, nasceu Julinho da Adelaide, heterônimo que Chico usou para lançar músicas de grande sucesso sem levantar suspeita entre os censores, porquê “Jorge Maravilha” e “Acorda Paixão”, ambas com letras críticas à ditadura.
Chico assumiu o heterônimo para conversar com o camarada e jornalista Mario Prata, na vivenda de seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda. A entrevista ao extinto jornal Última Hora, à quadra pertencente ao Grupo Folha, empresa que edita a Folha, foi publicada em 7 de setembro de 1974.
A teoria era fomentar a fantasia de que Julinho da Adelaide era um novo e promissor nome da música popular brasileira —por mais que artistas, amigos e fãs soubessem que Julinho e Chico eram, na verdade, a mesma pessoa.
Leia aquém a entrevista na íntegra, publicada sob o título “O samba duplex e pragmático de Julinho da Adelaide” e disponibilizada em áudio, há 12 anos, num CD rememorativo.
Nos bares do Rio de Janeiro, nas praias badaladas, na favela da Rocinha e mesmo na vivenda de alguns milionários e ainda em algumas delegacias de polícia, Julio Cesar Botelho de Oliveira talvez não seja muito publicado. Mas Julinho da Adelaide é figura das mais notórias, simpáticas e comentadas do momento. Não se admite mais uma sarau ou rodada de samba sem a presença de Julinho da Adelaide.
Seu nome passou das crônicas policiais para as sociais quando cantores famosos começaram a se interessar pelo seu samba. Chico Buarque gravou “Jorge Maravilha”, o MPB-4, “O Milagre”, e Nara Leão deverá gravar uma música novidade.
Uma vez que começou a permanecer publicado em São Paulo, esteve cá no primórdio da semana para tentar mostrar o seu trabalho nas casas de samba. Não lhe deram muita chance. Três dias depois encontrei em cima da minha mesa um bilhete assinado por Julinho e que terminava assim: “E porquê a barra não está dando por cá, eu e Leonel vamos amanhã para Portugal. Parece que a barra lá tá melhor ‘pru’ meu samba”. Junto ao bilhete a retrato de sua mãe, nos áureos tempos do “Orfeu Preto”, no Teatro Municipal do Rio.
Julinho da Adelaide – Eu não estou avezado com o clima de São Paulo. Devo expressar que esta é a segunda vez que venho. A primeira vez faz muito tempo, foi na quadra dos festivais. Inclusive, tenho um vestuário interessante para racontar: eu estava na plateia quando o Sergio Ricardo jogou aquele violão. Acertou cá, ó.
Mário Prata – Esta cicatriz é do violão?
É. Inclusive, eu pedi para não fotografar por isso.
Mas são duas cicatrizes.
É que pegou o cabo cá e a caixa cá deste outro lado. Eu tenho a pele queloide, entende?
Quer expressar que você é um sujeito marcado pela música popular brasileira?
Sou. Foi aí que eu despertei para a música, inclusive. Eu não tinha ainda muita vocação músico. Quer expressar, eu já tinha feito a letra do “Juca”, que o Chico Buarque de Hollanda gravou. Juca foi autuado em flagrante, porquê meliante, lembra? Foi um caso que aconteceu comigo. Mas foi no festival mesmo que eu despertei. Eu vim de ônibus.
Nesta quadra, você ainda não estava nem pensando em edificar vivenda na Gávea, não é?
Não, isto é um pouco de confusão que estão fazendo. Quem está construindo é meu irmão, o Leonel. Meu irmão é procurador.
E esta segunda vinda a São Paulo? Você está cá profissionalmente? Eu soube que você está com três músicas novas.
Três, não. Tenho muito mais que três, devo expressar isso. Não tenho culpa se as pessoas pedem sempre as mesmas. Em universal pedem “Labareda o Ladrão”, “Jorge Maravilha” e “O Milagre”. Mas eu tenho muito mais músicas. “Labareda o Ladrão” teve um problema com a exprobação e “O Milagre” teve também. Eu queria, inclusive, aproveitar e expressar que eu não quero produzir nenhum problema com a exprobação, porque, através do Leonel, eu tenho um diálogo muito bom com eles, entende? O Leonel sendo meu procurador, me quebra todos os galhos em todos os sentidos.
Qual a profissão do Leonel?
Na carteira tá comerciário, mas ele não exerce a profissão, não. Ele trabalha mais porquê meu procurador, tem boas relações e tal. Tem, inclusive, boas relações na polícia. Portanto, em relação à exprobação, eu tenho esta posição: eu acho bobagem as pessoas falarem que a exprobação prejudica, quando eu acho que o negócio de fazer samba, tem que se fazer muito samba. Eu faço muito samba, entende? Faço vários por dia, mesmo. O sujeito que trabalha lá, o trabalho dele é vituperar música. Eu saudação muito o trabalho do face. Quando termina o dia, perguntam: quantas músicas você censurou hoje? O meu trabalho é fazer música. Quantos sambas você fez hoje? Oito, nove. O dia que eu faço dez eu vou dormir em silêncio com a minha consciência. Cada um no seu ramo.
Mas você realmente faz oito ou nove sambas por dia?
Faço. E faço samba duplex também.
Antes de falar sobre samba duplex, por que você só foi desvelado agora? Por que só agora que estão cantando as suas músicas?
Porque eu estou profissionalmente na jogada tem pouco tempo. O responsável jovem é difícil, meu. Eu, por exemplo, andei em todas as fábricas e não consegui zero. É simples que minha voz não é muito boa pra trovar. Eu não sou cantor e hoje em dia todos os compositores são cantores. Eles que defendam a matéria-prima deles. Eu não posso fazer isto, portanto tenho que procurar as fábricas. Mas ficavam me empurrando de um face pra outro. Um dia, na Phillips, eu acabei no Departamento Gráfico, lá no Rio. Fui de porta em porta. Cheguei até a falar com o Roberto Menescal, responsável do “Barquinho”, conhece?
E estas cicatrizes, atrapalham muito?
Embora eu não seja cantor, um dia eu pretendo gravar um disco. Você vê, gente que não canta muito porquê o Chico Buarque, o Vinicius de Moraes, o Antonio Carlos Jobim, estão cantando. Quer expressar, a minha voz não é muito boa, mas outro dia eu ouvi o disco do Nelson Cavaquinho e ele é mais rouco do que eu e gravou um disco. Eu posso ter que gravar um dia, entende? Aí a minha foto vai atrapalhar a vendagem do disco, não é? É simples que eu não vou pôr na envoltório a minha foto. Assim, uma destas menininhas bonitas da rua Augusta pode comprar pensando que é um sujeito bonito e vende mais o disco, não é? Com a minha face eu acho que vai vender menos. Portanto, é melhor não ter a face do que ter a face que eu tenho.
Não vamos falar nisto.
Eu fico muito nervoso quando eu falo nisto. Se quiser, tira a retrato de costas. Ou portanto tira do meu irmão. O Leonel se ofereceu, inclusive, para brotar na envoltório, se um dia eu fizer um disco.
O Leonel está com você cá em São Paulo?
Não. Vem amanhã. Ele me mandou porque disse que leu nos jornais —ele lê muito jornal— que cá em São Paulo tem muita vivenda de samba, que lá no Rio não tem. Lá só tinha uma, o Sucata, mas era um show já montado e que não podia entrar e trovar no meio. Cá, me parece, as pessoas podem chegar e pedir a vez para trovar. Vou lá e já vou logo avisando antes para me desculparem por não ser um bom cantor. Tenho muita música para mostrar. Fiz uma chegando cá, hoje.
Você faz a música e a letra junto?
Faço tudo junto, simples. É simples que eu faço samba duplex. Quase todos os meus sambas são duplex.
Samba duplex, o que é?
São sambas que você pode mudar. Nascente que eu fiz agora você pode mudar. É sobre o problema da meningite, porque o Leonel me avisou: vai para vivenda de samba, mas zelo com a meningite. Me explicou o que era, porque eu não leio muito jornal. Aí eu fiz o samba pelo caminho que diz assim: “eu fui para São Paulo com a Judith e só saí de lá com a meningite”. Eu sei que tem agora umas propagandas de vir pra São Paulo nos fins de semana e eu não quero prejudicar ninguém. Portanto, se der problema, eu mudo “eu fui para São Paulo com a meningite e só saí de lá com a Judith”. Fica, inclusive, porquê se São Paulo tivesse curado a minha meningite. Faço também adaptações de sambas antigos. Eu tenho umas ideias para o Vinicius de Moraes, que eu admiro muito, aliás.
Você conhece ele?
Pessoalmente, não. Eu estou procurando um contato com ele porque eu fiz uma adaptação daquele samba dele, “Formosa”, conhece? Mudei pra “China Patriótico”. Já estou com bastante tarimba neste negócio.
Mas você diz que não lê jornal, porquê é leste negócio de ‘China Patriótico’?
Eu leio só o que o Leonel manda. Ele já dá o serviço todo, entende? Se eu permanecer o tempo todo lendo, eu acho que eu não vou poder me expressar muito. Eu sou um pai, entende?
Quer expressar que o Leonel é uma figura importante na sua vida?
Eu devo toda a minha curso e minha vida a duas pessoas. À minha mãe Adelaide, a quem devo inclusive o meu nome —meu sobrenome é Oliveira, mas Oliveira todo mundo é. Portanto eu sou Da Adelaide. Cá ela pode não ser muito conhecida, mas no Rio é, e muito. E devo ao Leonel, que é quem orienta agora a minha curso.
Fala um pouco da Adelaide.
Adelaide foi a pessoa que me orientou a minha vida inteira.
Existe um boato de que ela teria sido uma das mulheres do Vinicius.
Eu não posso falar assim da minha mãe, não é? “Uma das mulheres do Vinicius”, o que é isto? Em todo o caso, que ela conheceu o Vinicius, conheceu. A minha mãe é uma mulher muito honesta. Ela casou mais de uma vez, mas casou sempre, viu? Quando ela viajou para a Alemanha, ela casou com um luterano. O Leonel é luterano por pretexto disto. É loiro e é luterano. Ele agora alisou o cabelo e está dizendo que ele é parecido com leste tal de Roberto Redford. Mas ele não é muito parecido, não. O nariz dele é igual ao da minha mãe, grossão. Ele é loiro sarará, sabe? Parecido, fisicamente, com o Ademir da Guia. Só que agora alisou o cabelo e tá achando que é artista de cinema.
E a Adelaide?
Mamãe esteve lá na Europa, com a Brasiliana. Ela é casada na Igreja Católica Apostólica Romana, na igreja Católica Brasileira, é casada na Igreja Luterana e tem mais uns três casamentos aí. Eu sou fruto da Igreja Católica Brasileira.
Do primeiro casório?
Terceiro.
Se a sua mãe foi com a Brasiliana, ela é mulata mesmo?
Mulata retinta, quase preta. Quase sangue puro.
Mas e você com esta cor mais clara?
Meu pai, que eu não cheguei a saber. Ele morreu pouco depois de eu nascer. O nome dele era F. Botelho. Nascente F. nem minha mãe sabe o que é.
Ele fazia o quê?
Meu pai? Meu pai trabalhava em jornal. Era copidesque, naquele tempo.
Portanto você teve uma origem assim já um pouco cultural. Você recebeu uma certa formação.
Eu sempre tive muitos livros, apesar de morar na favela. Mas eu não tenho nenhuma vergonha disto. Tem muita favela lá no Rio que é melhor que estas coisas que estão fazendo agora. Se muito que eu aluguei um cantinho pra escritório da firma que tenho com o Leonel. Eu vi até um pregão agora, no pausa daquela romance, o “Espigão”, onde eles anunciam muito estes novos apartamentos de sala e quarto. Menor que o barraco onde me criei, entende?
Quer expressar que já está pintando um dinheirinho?
Diz o Leonel que sim. Eu ainda não pus a mão neste quantia porque o Leonel acha que não é lícito pegar o quantia e fazer alguma coisa agora. É melhor empregar, entende? E ele empregou. Parece que o quantia já vai dar uns dividendos. É isso, né?
E aquela vivenda que você está fazendo lá na Barra? É com quantia da vendagem?
Não sou eu que estou construindo. Quem comprou um terreno lá foi o Leonel e vai edificar uma vivenda agora. Mas isto é problema dele. Ele tem os bicos por fora, além da participação nos meus lucros.
Cá em São Paulo ainda não, mas no Rio você é muito publicado. No Degrau, no Antonio’s, no Final do Leblon. Uma vez que é que se deu esta transposição da favela para as colunas sociais e de músicas? Quem é que te deu esta força?
Isso eu devo ao Leonel. Ele é muito ligado ao pessoal do Rio. O Zózimo Barroso do Amaral é porquê se fosse irmão dele, do Jornal do Brasil. O Carlos Imperial, da revista Amiga. Ele vive me falando dos amigos dele de jornais. Tem muita gente aí que é camarada dele. Bloch, um negócio assim. Portanto, eles me promovem. O Leonel é um face 100%. Você precisa saber ele.
Mas mesmo assim você ainda é uma figura pouco conhecida no Brasil.
Ainda sou, devo revelar isto. Confio em Deus que, com a ajuda Dele e do Leonel eu vou chegar lá.
Você não seria uma geração da prelo carioca? Uma vez que é que você vê isto?
Por qualquer tempo eu fiquei meio magoado com isto.
Seu pai foi um copidesque no Rio. Você não estaria sendo lançado pela prelo carioca, que tem penetração vernáculo?
É simples que a prelo carioca me ajuda muito, mas eu tenho o meu trabalho. Eu vim cá para mostrar o meu trabalho, entende? Não é só badalação, não. Nascente negócio de só badalação em jornal não dá camisa a ninguém, já me dizia o Leonel. Tem que se fazer as coisas. Eu vou lançar o meu primeiro compacto duplo que vai ser gravado agora, finalmente. Eu tenho feito uma média de cinco a seis sambas por dia. Com leste trabalho eu acho que vou levar um grande empurrão na minha curso e daí por diante eu acho que todo mundo vai se interessar em gravar música do Julinho da Adelaide.
Quem é que está cantando música sua, hoje, Julinho?
O Chico Buarque cantou num show que ele fez no Rio. Foi muito bom porque deu quantia na SBAT, o “Jorge Maravilha”. Tem também o MPB-4 e a Nara Leão. Eu entreguei umas outras músicas aí, que eu não sei se estão cantando, pra uma porção de gente. Eu tenho vários estilos, sabe? Mandei música para o Tim Maia, para a Angela Maria. Não sei se estão cantando porque eu não tenho muito controle. O Leonel que sabe.
Mas você tem realmente uma produção muito boa ou está se utilizando de nomes porquê Chico e MPB-4?
Mas, ô face, escuta. Você vai me desculpar, mas eu já disse que não sou cantor. Eu preciso dos cantores pra lançar meu nome, entende? O Chico Buarque eu não devo zero a ele e nem ele deve zero a mim. Ele tá faturando em cima do meu nome e eu estou faturando em cima do nome dele. Acho que isto é normal. Não acho que seja aético da minha segmento, entende? Eu sou é pragmático.
Aético?
Parece que a origem desta vocábulo é luterana.
Julinho, cá em São Paulo, o pouco que se sabe de você são histórias mirabolantes. O próprio Chico falou no show dele, não sei se você sabe, que você é uma figura das crônicas policiais que passou para as crônicas sociais. O seu pretérito…
Vou lhe explicar isto. Eu sou muito tímido, conforme você deve ter percebido, e o Leonel, com esta história de ele ser procurador e sendo uma pessoa descontraída, muitas vezes ele faz coisas impensadas. E aí, quando vão perguntar o nome dele, ele diz: Julinho da Adelaide. Só porque tem procuração minha. Portanto, é justo que eu pague pelas coisas boas e ruins que ele faz. E olha que não acontece muita coisa ruim com ele porque ele tem relações muito boas na polícia.
E você já foi recluso?
Algumas vezes. Eu raconto isto, inclusive, no samba “Labareda o Ladrão”.
Na medida que você mesmo diz que é muito pragmático, leste negócio de carregar o nome da mãe não é uma jogada oportunista da sua segmento? Pra sensibilizar uma segmento do público?
Não, de maneira nenhuma. Eu me chamo Julinho da Adelaide porque todo mundo só me labareda assim lá no morro. Acontece que a minha mãe é mais famosa do que eu lá no Rio. Ainda é. Minha mãe é célebre. Eu vou te racontar o que ela já fez. Minha mãe estava no primeiro elenco do “Orfeu Preto”. Foi amiga íntima de Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim e Oscar Niemeyer, que fazia o cenário do “Orfeu” no Municipal. Do Haroldo Costa também. Ela conheceu mais intimamente o Oscar. Tanto é que há cinco ou seis anos a gente morava ali na Favela da Rocinha quando começaram a erguer o Hotel Vernáculo. Aquele rotundo. Mamãe dizia pra mim: “Tá vendo, fruto? Tá vendo, Julinho? Aquilo é homenagem do Oscar para mim”. Inclusive agora botaram uma porção de homenagens na Barra. Ela lembra dele muito muito. É simples que ela está mais velha agora e não pode receber muita homenagem. Eu estou sabendo que não é homenagem do Oscar Niemeyer pra ela, mas não vou tirar esta ilusão dela, né? É bonito ela permanecer pensando assim. Mamãe tem muita imaginação. Mas continuando, depois ela viajou com a Brasiliana, casou com o luterano, foi presa na fronteira do Tibete por pretexto de um monge, aprendeu a fazer cassoulet e a feijoada branca. O feijoeiro branco dela é publicado lá no morro. Portanto todo mundo perguntava assim: qual Julinho? O Julinho da Adelaide.
Mas a própria prelo carioca está achando que você está usando o nome da sua mãe para se promover. Tanto é que o Leonel não se labareda Leonel da Adelaide.
Leonel Kuntis. Mas pode ser que daqui uns tempos a Adelaide passe a ser a Adelaide do Julinho. Não tenho zero contra isto.
Uma vez que vai ela?
Mamãe está muito muito. Fazendo aquele feijoeiro cada vez melhor. Ela tem um quiosque. A vivenda dela, uma vez por semana, enche de gente.
Ela é neta de escravos, não é?
Neta de escravos. A mãe dela foi beneficiada pela Lei do Ventre Livre. A gente tem uma gratidão muito grande pelo José Bonifácio, o Moço.
Uma vez que foi o seu primeiro contato com o Chico?
Eu trabalhava na Phillips. Na fábrica, lá no Eminente da Boa Vista, na Phonogram, na prensagem de disco. Lá eles tinham um time que dia de sábado jogava contra os compositores, contra esta gente assim, e eu estava sempre nesta pelada e fui conhecendo o pessoal. Fiquei conhecendo o Silvio Cesar, fiquei conhecendo o Maestro Erlon Chaves, fiquei conhecendo o Paulo Sérgio Valle.
Mas porquê foi? Você chegou para o Chico e mostrou a música, deu uma fita, cantou para ele, porquê é que foi?
Não, eu não falei direto com ele. Falei antes com um rapaz integrante do conjunto vocal MPB-4. Eu estava entrando na espaço e aquele mais baixinho, gordinho, chamado Rui, me deu uma pancada por trás e o juiz não deu pênalti. Na hora que eu estava caindo no pavimento ele foi lícito. Me pediu desculpas. Eu aproveitei que ele tinha puxado conversa e falei: eu sou compositor. Ele não deu muita globo e ainda marcou o gol. Mas, porquê eu tenho amizade e o primeiro contato já estava feito, eu consegui prensar um acetato por camaradagem do pessoal da Phonogram. Nascente acetato tinha duas músicas, o “Jorge Maravilha” e “Labareda o Ladrão”. Parece que eles gostaram, mostraram para o Chico e cada um gravou uma.
O Chico tem cantado a sua música e tem oferecido a entender que a música é dele. Ele se refere a você porquê se você fosse uma figura mitológica.
Não sei, rapaz. Nascente pessoal que tem o nome feito, pode fazer muita coisa e não adianta eu permanecer cá reclamando, entende? Uma vez que eu já disse, eu sou pragmático. Eu preciso dele e ele de mim. Portanto eu não vou me colocar contra ele porquê você está querendo. Talvez o dia que eu for mais publicado eu faça a mesma coisa. As pessoas têm que tirar proveito do que lhe cai nas mãos, não é? O Leonel que me disse isso.
Eu queria que você se definisse, já que usa tanto a sentença “pragmática”.
Eu não sei. Pra falar a verdade, o Leonel que mandou eu expressar que eu sou pragmático. Quando perguntassem coisa mais complicada, pra expressar isto. Por exemplo: “O que você acha da exprobação?” Sou pragmático. Ele falou ecumênico, também. Disse que quando me perguntassem o que eu acho de Cuba, para eu responder que sou pragmático e ecumênico. Senão eu me meteria em complicações. Mas eu não posso definir exatamente porquê eu sou. Eu sou pragmático, pô!