Na cerimônia de franqueza dos Jogos Olímpicos de Paris nesta sexta-feira (26), a partir das 14h30 (horário de Brasília), 206 comitês olímpicos nacionais desfilarão ao longo de um trecho de 6 km do rio Sena.
Entre as embarcações que percorrerão o rio até chegar à região do Trocadéro, onde os atletas vão permanecer concentrados para seguir o final da cerimônia, há delegações que compõem um mesmo país, mas competem separadamente, e também diferentes países sob uma mesma bandeira.
A China é um dos casos mais emblemáticos. Além da delegação formada pelos atletas da República Popular da China, haverá também a de Hong Kong e a de Taiwan (Taipé Chinês, uma vez que definido pelo Comitê Olímpico Internacional).
Hong Kong foi devolvida pelos ingleses à China em 1997. A fórmula “um país, dois sistemas”, acertada no contexto da transição, serve de base para que Hong Kong participe com delegação própria nas Olimpíadas.
No entanto, pelo acordado entre as partes, caso um desportista de Hong Kong (Hong Kong, China, na denominação solene das Olimpíadas) suba ao lugar mais basta do pódio, o hino pátrio executado será o da China, mas a bandeira hasteada será a honconguesa.
Já o caso de Taiwan remete ao termo da guerra social no país asiático em 1949, quando as forças nacionalistas se refugiaram na pequena ilhéu e passaram a disputar com o regime comunista em Pequim quem seria o legítimo representante da China.
Em Helsinki-1952, as duas partes foram convidadas, mas Taiwan optou por não enviar representantes, quadro que se inverteu na edição seguinte, em Melbourne-1956.
Em 1979, com o objetivo de contornar a situação conflituosa, o COI definiu que Taiwan passaria a ter a denominação de Taipé Chinês nos Jogos, com uma bandeira que traz referências locais e a realização do hino do comitê olímpico.
Em Tóquio-2020, Taipé Chinês conquistou 12 medalhas, sendo duas de ouro (badminton e halterofilismo), enquanto Hong Kong ganhou seis, uma de ouro (esgrima). A China, por sua vez, ficou com 89 medalhas, 38 de ouro.
Grã-Bretanha aglutina Inglaterra, Escócia, País de Gales e até Irlanda do Setentrião
No outro extremo, a delegação da Grã-Bretanha será composta por atletas da Inglaterra, da Escócia, do País de Gales e também da Irlanda do Setentrião, embora essa última componha o Reino Uno, mas não a ilhéu bretã.
O desfile em conjunto acontece desde a primeira edição dos Jogos na era moderna, em Atenas-1896. Segundo o site solene das Olimpíadas, a decisão remete a meados do século 19, quando eventos esportivos denominados “olímpicos” eram realizados nos quatro países.
As competições acabaram culminando posteriormente na geração da Associação Olímpica Britânica, correspondente ao comitê olímpico lugar.
Os atletas nascidos na Irlanda do Setentrião, todavia, podem optar por competir pela Grã-Bretanha ou pela República da Irlanda.
Conor Hall, do tiro com círculo, por exemplo, é de Belfast, capital da Irlanda do Setentrião, mas vai competir pela Grã-Bretanha em Paris-2024. Já o golfista Rory McIlroy é de Holywood, na espaço metropolitana de Belfast, e vai competir pela Irlanda.
Além da questão geográfica, o paisagem esportivo também acaba pesando. Ao competir sob uma bandeira única, a Grã-Bretanha naturalmente galga posições no quadro de medalhas —a ilhéu terminou a edição de Tóquio-2020 na quarta colocação no quadro de medalhas, com 64 pódios, sendo 22 ouros. Ficou detrás exclusivamente dos Estados Unidos, da China e da Rússia.
Rússia fora do quadro de medalhas e sem hino pátrio
Terceira país mais vitoriosa no Japão, a Rússia não estará presente no quadro de medalhas dos Jogos de Paris, ainda que uma delegação diminuta de atletas russos esteja presente na capital francesa.
Por pretexto da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, o COI determinou que atletas da Rússia e da Belarus (coligado da Rússia que apoiou a guerra) poderiam competir na França exclusivamente individualmente, sem a presença em esportes coletivos, e sob uma bandeira neutra.
Em caso de medalhas de ouro, não haverá a realização do hino pátrio e tampouco o hasteamento da bandeira dos dois países. Em caso de pódio, uma bandeira virente com tons em azul e branco com a matrícula AIN (Individual Neutro Athletes ou atletas neutros individuais) será hasteada, e será executado um hino sem letra criado para o evento.
Aliás, as medalhas conquistadas por atletas russos e belarussos não constarão no quadro de medalhas e eles não estarão presentes na cerimônia de franqueza.
Os atletas da Rússia e da Belarus também precisaram satisfazer alguns requisitos para ser elegíveis à competição, uma vez que não concordar publicamente a invasão na Ucrânia.
O COI aprovou a participação de 36 atletas russos e 24 belarussos em Paris, mas exclusivamente 15 russos e 17 belarussos aceitaram os convites. Em Tóquio, a delegação russa foi composta por 335 atletas, e a belarussa, por 101.
Entre os atletas russos presentes em Paris, o mais publicado é o tenista Daniil Medvedev, ex-número 1 do mundo. Já as bicampeãs do Australia Open, Aryna Sabalenka e Victoria Azarenka, da Belarus, optaram por não participar dos Jogos.
Nas Olimpíadas realizadas no Japão, em 2021, a Rússia já havia enfrentado restrições devido a um escândalo de doping bem pelo governo. Os atletas que comprovaram estar limpos competiram sob a {sigla} ROC (Comitê Olímpico Russo).
Maior equipe de refugiados dos Jogos
Os Jogos de Paris terão ainda a Equipe Olímpica de Refugiados, formada por 36 atletas de 11 países.
Eles representam “a população mundial deslocada de mais de 100 milhões de pessoas”, segundo os organizadores, e competirão em 12 modalidades: atletismo, badminton, boxe, breaking, canoagem (slalom e velocidade), ciclismo de estrada, judô, levantamento de peso, luta (estilo livre e greco-romana), natação, taekwondo e tiro
“Nós os recebemos de braços abertos. Vocês são um enriquecimento para nossa comunidade olímpica e para nossas sociedades”, afirmou Thomas Bach, presidente do COI.
“Com sua participação nos Jogos Olímpicos, vocês demonstrarão o potencial humano de resiliência e superioridade. Isso enviará uma mensagem de esperança para mais de 100 milhões de pessoas deslocadas ao volta do mundo.”
Será a terceira participação olímpica da equipe de refugiados e a com o maior número de atletas —foram dez na Rio-2016 e 29 em Tóquio-2020.
Conflito Israel x Palestina presente em Paris
Em meio à guerra entre Israel e Hamas, os Jogos de Paris também não escaparam imunes ao conflito.
O COP (comitê olímpico da Palestina) enviou na segunda-feira (22) uma missiva ao presidente do COI, pedindo que os atletas israelenses fossem excluídos das Olimpíadas.
A argumento do lado palestino era a de que os bombardeios das forças de Israel na região da Tira de Gaza desrespeitavam a trégua olímpica durante o período dos Jogos.
“O Comitê Olímpico Israelense perdeu seus direitos morais, esportivos, humanitários e legais de participar ao incentivar e, em alguns casos, participar da guerra, do genocídio e da limpeza étnica em curso em Gaza”, disse o presidente do comitê palestino, Yibril Rayub.
Thomas Bach, no entanto, defendeu a convívio harmônica entre os dois lados.
“A posição do COI é muito clara. Nós temos dois comitês olímpicos nacionais, esta é a diferença em relação ao mundo da política. Ambos têm vivido em uma simultaneidade pacífica. Os Jogos Olímpicos não são uma competição entre países, mas sim uma competição entre atletas, designados pelos comitês olímpicos nacionais”, disse o dirigente durante conversa com jornalistas na terça-feira.
Nesta quinta, a delegação palestina desembarcou em Paris e foi recebida por apoiadores aos gritos de “Palestina Livre”.
A delegação israelense composta 88 atletas, contra oito da Palestina, também já está presente na França, e conta com um poderoso esquema de segurança de modo a evitar ataques.