Como Era Silvio Santos No Jornalismo, Para Casoy E Padrão

Como era Silvio Santos no jornalismo, para Casoy e Padrão – 20/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Liberdade totalidade. Essa foi a exigência que Boris Casoy impôs a Silvio Santos quando o apresentador tentou persuadi-lo a trocar as páginas de jornal pelas telas, para apresentar o principal telejornal do SBT à era, o TJ Brasil.

Morto neste sábado (17), aos 93 anos, o apresentador e possuinte da emissora fez sua gestão se tornar conhecida, também, pelos vacilos da programação jornalística que levava ao ar.

Elencos e horários mudavam sempre, às vezes sem aviso prévio, muito uma vez que o investimento da emissora no setor. Não foi, porém, o suficiente para alongar alguns dos nomes mais respeitados do jornalismo brasílico, que aceitaram trabalhar sob o comando de Silvio.

Para Casoy, a contratação surgiu numa tentativa de replicar o que âncoras faziam na televisão americana, encontrando lacunas no noticiário para dar sua opinião. “Eu achava que faltava justificação a saudação de alguns fatos, e o Silvio não interferiu”, diz ele.

O jornalista chegou a fazer, no ar, comentários contrários à candidatura frustrada do possuinte do SBT à Presidência da República, em 1989. “Eu critiquei com perspicuidade, porque achei que era ruim para o país e para ele. Eu via nele uma figura de sucesso na espaço empresarial e artística, mas não uma pessoa que teria condições de assumir a Presidência, porque ele não tinha nenhuma prática política.”

O jornalista havia sido contratado pelo SBT um ano antes, logo em seguida deixar a redação da Folha, e por lá ficou até 1997. Ao longo de quase uma dezena, ajudou a reformular o jornalismo praticado na emissora, e conta ter visto pouco interesse de Silvio pelo departamento, alguma coisa que avalia ter mudado em anos recentes.

A Presidência da República, aliás, era ponto sério. Pai da Semana do Presidente, em que dedicava secção da programação a narrar os feitos do ocupante do função, Silvio Santos bajulou todos os governos pelos quais passou –embora tenha se mostrado mormente entusiasmado com Jair Bolsonaro.

Sempre que era questionado, dizia que o SBT era fruto de uma licença pública –conquistada durante a ditadura militar, quando fundou o Semana do Presidente–, e que, portanto, deveria respeitar seu “patrão”, isto é, o gerente do Executivo.

Casoy, pelo que conhecia de Silvio, acredita que a explicação vai além. “Ele tinha uma certa visão de cidadania, em que achava que a mando e a jerarquia deveriam ser respeitadas. Era uma visão de patriotismo mesmo”, afirma.

Quase duas décadas depois da contratação de Casoy, Ana Paula Padrão recebeu de Silvio o mesmo chamado para reformular o jornalismo do SBT. Foi também sob a promessa de que ela teria epístola branca para regenerar o departamento à sua maneira que ela deixou a Mundo, em 2005.

Foi unicamente no terceiro invitação que ela aceitou um função na emissora, que pouco antes havia reduzido seu jornalismo a um espaço “simples”, afirma. “Quando ele foi anunciar a minha ida para o SBT, ele me ligou para expressar que queria pôr uma chamada no ar, ‘Mundo perde Padrão’. Eu comecei a rir. Ele curtia esse tipo de coisa, não estava interessado na risca editorial.”

Para ela, o apresentador estava mais preocupado em ver o conjunto funcionando, em pensar uma programação que trouxesse anunciantes e que dialogasse com seu público, que deveria ser o da “família brasileira”. Ela nunca recebeu ordens ou mesmo pedidos para recalibrar o tom político do SBT Brasil, bancada que comandava.

“Eu tenho a melhor sentimento do Silvio em relação a te deixar trabalhar. Ele dizia, às vezes, que não gostava de uma mudança no cenário, que queria uma mudança no horário. Nisso ele mexia bastante, mas era isso.”

Casoy e Padrão falam, ambos, sobre a escassez física de Silvio no departamento de jornalismo. No caso dele, a contratação e as conversas posteriores aconteciam com Guilherme Stoliar, sobrinho do apresentador e na era vice-presidente do SBT. No dela, com seus superiores diretos, embora tivesse início para procurar o patrão quando precisasse.

“É difícil de crer, mas nós nunca o vimos na redação. Nos encontrávamos com ele em momentos festivos do SBT, mas não era um contato superfrequente. Embora todos digam que ele é muito presente na emissora, a minha sensação é de que ele delegava e observava, de longe”, diz Padrão, que deixou o ducto em 2009, quando estava encarregada do SBT Verdade, devotado a longas reportagens.

Os dois jornalistas também concordam que a relação pessoal com Silvio era de extrema cordialidade. Alcançável, o possuinte do SBT é lembrado por Casoy uma vez que uma pessoa comprometida com seus funcionários, e um varão de termo.

“Ele tinha um faro, uma percepção, que era resultado da lucidez dele. Mas tinha muitas idas e vindas, decisões rápidas que transmitiam instabilidade para quem trabalhava lá. Muitas vezes me angustiava. Ele era uma pessoa complexa, e por isso é difícil definir o Silvio, pelos inúmeros fatores que compunham a personalidade dele”, diz Casoy.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *