Como Foi O Festival De Música De Trancoso, O Met

Como foi o festival de Música de Trancoso, o MET – 11/03/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No meio da mata da Costa do Descobrimento, no sul da Bahia, um monumental anfiteatro a firmamento acessível, levantado em aço e concreto, fez repercutir os sons de violinos, trompetes e fagote sobre o habitual coaxar de sapos por cinco noites seguidas até o último sábado (9).

A décima edição do festival Música em Trancoso, publicado porquê MET, teve composições do russo Sergei Rachmaninoff e da cantora Luedji Luna, do americano George Gershwin e de Caetano Veloso, de Heitor Villa-Lobos e de Mariana Aydar, de Johann Sebastian Bach e de Luiz Gonzaga.

As combinações improváveis fizeram com que alguns espetáculos terminassem com o público levantando de suas cadeiras para dançar na frente do palco. É uma extravagância para eventos do gênero, tornada provável porque o festival põe o erudito em convívio com o popular.

“Acredito num concerto que precisa se reinventar. Temos esse repto de tornar conseguível a música clássica”, diz o maestro e curador Carlos Prazeres, titular há 13 anos da Orquestra Sinfônica da Bahia, a Osba, eleita a melhor orquestra do país no Prêmio Profissionais da Música. “Precisamos convencer o público de que ele terá uma experiência sensorial, para a espírito, dissemelhante de tudo que está viciado.”

Carismático e jovial, de brinco e tatuagem, Prazeres tomava o microfone entre os concertos para descrever curiosidades sobre as composições e seus autores ou invocar a atenção para as histórias por trás das canções.

Antes de apresentar a ópera “Porgy e Bess”, de Gershwin, e os quatro solistas que a interpretariam, na última terça-feira (5), Prazeres explicou detalhes da história de paixão entre um mendigo e uma prostituta num gueto da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, dos anos 1920.

Quando a soprano Marly Montoni, a contralto Ednéia Oliveira, o tenor Geilson Santos e o barítono Davi Marcondes deixaram o palco sob aplausos e assobios, subiu Luedji Luna para a sua apresentação, toda de branco e sob gritinhos da plateia.

“Não sabia da existência desse festival no sul da Bahia, com esse teatro chiquérrimo”, disse a artista. “Eventos assim, fora do eixo, são bons para o território e para o artista.”

Além de ampliar o público da música clássica, o MET tem outros dois desafios —tornar-se mais publicado e, finalmente, ser autossustentável. Idealizado em 2012 pelo bilionário austríaco Reinold Geiger, presidente da marca francesa de cosméticos L’Occitane, o evento teve seus custos majoritariamente bancados por seu fundador.

Esta edição foi a primeira em que as contas fecharam independentemente, com patrocínio de R$ 3 milhões do Banco Santander via Lei de Incentivo à Cultura e uma série de apoios de empreendedores locais.

Enamorado por Trancoso, onde mantém há quase 20 anos uma mansão de veraneio com chalés para dezenas de convidados, ele queria democratizar o chegada à música clássica nas comunidades da região, enquanto se divertia em suas temporadas num dos destinos preferidos dos ricos brasileiros.

“As pessoas daqui ficaram surpresas. Vi gente chorando, emocionada com a música”, diz ele, ao se lembrar da primeira edição do MET.

O projeto ganhou corpo quando Geiger decidiu bancar a construção de uma sede para o festival. A construção em formato de valva, com um anfiteatro a firmamento acessível e outro tapado, foi desenhada pelo arquiteto François Valentiny, responsável por uma das salas de espetáculos do rodeio do célebre Festival de Salzburgo, na Áustria.

“É um projeto totalmente louco, porque normalmente se faz um teatro em uma cidade grande ou perto de uma cidade grande”, ele diz, que investiu muro de R$ 40 milhões na construção, inaugurada em 2014. “Mas queríamos fazer um tanto para a comunidade, e o resultado ficou fantástico.”

O teatro fica no condomínio Terravista, que reúne casas de centenas de metros quadrados, aeroporto privado e um Club Med, além de um prédio incluído com sete salas acústicas dedicadas a aulas magnas de músicos convidados do MET para jovens talentos dos periferia de Trancoso.

Musicistas virtuosos, porquê o violonista espanhol Pablo Sàinz-Villegas e o pianista brasílico Cristian Budu, considerado o melhor do país, participaram desta edição, além de Trigueiro Veloso e Elba Ramalho. Tapume de 20% dos ingressos foram cedidos gratuitamente para alunos das escolas da rede pública da região. Outros 30 foram vendidos a preços populares, por R$ 35. A ingressão tradicional custava R$ 250 por dia.

“Simplesmente transpor para cá o protótipo dos grandes festivais do exterior é relegar a música clássica só para as elites. O repertório popular, ao lado do erudito, cria a sensação de pertencimento do público. Precisamos saber conciliar esses padrões à nossa veras. Isso é antropofagia pura.”

A jornalista viajou a invitação do festival

Folha

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