Como Grelo Virou Mais Ouvido Do País Sem Subir A

Como Grelo virou mais ouvido do país sem subir a um palco – 23/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na última sexta-feira (16), quando subiu ao palco pela primeira vez na vida, o cantor Grelo já era o proprietário da música mais escutada do país. O vídeo publicado nas redes sociais é impactante —ele surge ajoelhado, agradecendo aos céus, enquanto a plateia em Imperatriz, no Maranhão, levanta os braços e berra em coro o refrão de “Só Fé”.

O atual ocupante do topo da lista de mais tocadas do Spotify é um goiano de 26 anos, compositor de hits para a escol do sertanejo, que canta Racionais em ritmo de seresta e versa sobre o prazer da vida cotidiana. No refrão de sua música mais conhecida, diz que só precisa de moeda “para comprar o mé [álcool], o leite das crianças e o Modess da mulher”.

O Grelo existe há tapume de um mês, mas Gabriel de Ângelo, pessoa por trás da persona, já se considerava um vencedor antes de se lançar uma vez que tradutor. “O show foi mágico, mas não sonhei com isso”, diz. “Eu estava confortável com minha curso na formação. Já sou consagrado, tenho 508 músicas gravadas.”

Responsável de sucessos sertanejos há seis anos, Grelo fez uma gaudério com os amigos Henrique & Juliano —uma das maiores duplas do país, agora empresários do cantor. Comprou um teclado novo, programou sonoridades de seresta e saiu cantando músicas que patroa, incluindo “Vida Loka pt. 1”, clássico dos Racionais MCs.

Os vídeos caseiros desse momento, em uma pescaria, viralizaram. “De repente os áudios estavam em todas as plataformas, alguém subiu”, ele diz. “E já estava no ‘top um’ dos virais, nos ‘em subida’. Me falaram que ‘se você não lançar sua curso, alguém vai lançar e lucrar moeda em cima de você’.”

Apesar de conceber no sertanejo, o Grelo canta seresta. Herdeiro da modinha, de origem erudita e europeia, segundo o pesquisador José Ramos Tinhorão, esse estilo no Brasil se transformou através da população negra e da cantiga popular, com possante apelo romântico.

Desde o século pretérito, tornou-se um gênero próprio no Maranhão, muito conectado ao brega e aos sons de teclado. Eternizada em “Morango do Nordeste”, por Lairton e seus Teclados, hoje a seresta está na base da música de artistas contemporâneos do arrocha, entre eles Nadson o Ferinha e Raquel dos Teclados.

“Sempre amei seresta”, diz o Grelo. “Viajo oito, nove horas escutando todas da Raquel, de Washington Brasílico… É brega mesmo. Quem não gosta acha que é loucura. Dimas e Seus Teclados é contra-senso, dá vontade de trespassar correndo pelado no meio da rua.”

A teoria, uma gaudério a princípio, era botar Racionais e Charlie Brown Jr. na seresta. Deu tão manifesto que ele compôs três músicas para o estilo, já uma vez que Grelo, além de reunir um repertório que vai de Ana Carolina a NX Zero, passando por uma formação de Marisa Monte com Moraes Moreira eternizada por Cássia Eller e raps do obstruído —”Eu Queria Mudar”, dos brasilienses Pacificadores, e “CL Aparecida”, dos goianos CL a Posse.

“Escuto muito rap, todos que você puder imaginar —Sabotage, Tribo da Periferia, Cirurgia Moral—, e desde rapaz, sempre gostei”, diz Grelo. “Fiz [o repertório] uma vez que se a pessoa tivesse viajando de carruagem comigo. Vem um Tião Carreiro, depois um Racionais, uma Cássia Eller, volta pra outro rap e por aí vai.”

O Grelo nasceu em Anápolis, há tapume de 60 km de Goiânia, onde mora até hoje. Seguiu a curso do pai de torneiro mecânico, mas também vendeu capinhas de telefone e espetinho e trabalhou num lava-jato.

Se envolveu com música na igreja e já tinha alguns rascunhos de canções quando um companheiro perguntou se podia terminar um deles e tentar vender. “Forçar a Barra”, sertanejo que retrata um pós-término, foi gravada pela dupla Ciro Netto e Manuel, de alcance lugar.

“Lembro que peguei R$ 5.000 da minha secção da venda. Ganhava R$ 1.700 na carteira [de trabalho], logo era três vezes o meu salário”, diz. “Comecei a me mexer, fui na empolgação e depois vi a veras do mercado.”

Até emplacar hit detrás de hit, Grelo —uma vez que compositor, ele assina De Ângelo— passou um período tentando entender uma vez que poderia se diferenciar dos outros autores. São dezenas de milhares concorrendo para estar no repertório dos cantores mais populares.

“Tento falar de coisas do dia a dia. Não falo do firmamento, das estrelas ou da lua. Sento e crio um cenário. Por exemplo, acabei de ser largado pela mulher, o que vou fazer? Vou a qualquer lugar esfriar a cabeça? Chegando lá, pedi uma cerveja? Veio um companheiro conversar?”, ele diz. “Não adianta falar que comprei um milhão de flores e mandei entregar. Ninguém faz isso. Tem músicas assim, mais figurativas, que são lindas, bonitas de escutar. Mas sou da turma que fala as coisas uma vez que nós fazemos.”

Dessa abordagem vieram “Quarta Cadeira”, gravada por Matheus & Kauan com Jorge & Mateus, “Alô, Ambev (Segue Sua Vida)”, por Zé Neto & Cristiano, que também cantam “S de Saudade” com Luíza & Maurílio e “Volta por Inferior”, por Henrique & Juliano. Só no Spotify, a soma dessas quatro músicas lançadas entre 2019 e 2020 extremo o bilhão de reproduções.

E o Grelo —neste caso, De Ângelo— não parou mais. Ao lado de Eduardo Pepato, produtor sabido pelo trabalho com Marília Mendonça, entre outros sertanejos, ele é coautor das três músicas mais tocadas nas rádios no ano pretérito. Isso inclui “Erro Gostoso”, hit na voz de Simone Mendes.

No projeto a que dá voz e rosto, Grelo tem outra face. O nome vem de apelidos relacionados à magreza, uma vez que “magrelo” e “grilo”, de que foi chamado a vida toda —além da gaudério com o termo popular para clitóris. A cobertura de seu álbum, “É o Grelo”, traz o cantor segurando um teclado, de regata e óculos Juliet —levante, típico do funk.

“Tem um pouco de humor e de verdade”, diz. “O teclado é pela seresta, o Juliet é pelo rap, e pelo funk que ainda vou gravar. Tentei juntar tudo numa pessoa só, com a minha verdade. Saio de regata mesmo sendo magro, não estou nem aí. Aceitei meu corpo, não quero tomar petardo. Se eu fosse triste com a magreza, ia ser infeliz. Não tem uma vez que mudar a genética.”

Grelo encarna diversas expressões culturais do Brasil, da seresta nordestina à música urbana de São Paulo, tudo sob o tempero goiano. Mas sua força, em privativo do hit “Só Fé”, está também no oração de encontrar a felicidade em coisas simples.

“Dizem que romantizo a pobreza. Não existe isso. A pessoa está tão corrompida pelos dias de hoje —em que você só é feliz quando tem moeda— que quando você diz o contrário é estupidez”, afirma Grelo. “Começaram a descobrir que simplicidade é tristeza, que você ser humilde é ser medíocre —e não tem zero a ver.”

Evangélico desde rapaz, o Grelo diz que segue os ensinamentos da Bíblia na medida do verosímil, mas “isso não quer proferir que quem não siga está incorrecto”. Sua verso é quase um contrasenso numa era de ostentação de vidas luxuosas nas redes sociais e coaches e bets prometendo enriquecimento fácil.

“Todos os coaches na internet falam que você precisa ser milionário, montar seu negócio, ter carruagem de R$ 100 milénio. Pregam que felicidade é moeda 24h por dia. Tem que ter alguém puxando pra veras. O Grelo veio falar que você precisa ter a melhor moradia, o melhor carruagem, o sonho te move. Mas vamos curtir ao supremo a vida —fazer uma piada, dar um amplexo na mãe, jogar uma esfera”, diz.

“O que mais tenho hoje é companheiro rico depressivo, tomando remédio pra dormir, pra pactuar, pra rir. Portanto, realmente, felicidade não está no moeda, né?”

Folha

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