Como Hermeto Pascoal Virou Um Dos Maiores Músicos Do País

Como Hermeto Pascoal virou um dos maiores músicos do país – 05/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Demorou 88 anos, mas um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos —aliás, do mundo— finalmente ganha uma biografia. Em 15 de maio, sai, pela editora Kuarup, “Quebra Tudo! A Arte Livre de Hermeto Pascoal”, do jornalista Vitor Nuzzi.

Resultado de seis anos de pesquisa e mais de 50 entrevistas, incluindo um longo prova do próprio Hermeto, “Quebra Tudo!” conta a saga de um menino albino e zambaio, com problemas de visão e autodidata em música, que nasceu em 1936 em Olho D’Chuva, pequeno povoado de Lagoa da Canoa, na região de Arapiraca, em Alagoas, para lucrar o mundo com sua música livre e genial.

Célebre por usar, além de instrumentos tradicionais porquê teclado, flauta e violão, itens inusitados porquê chuva, xícaras, sua própria barba e outras bugigangas que inventa e improvisa, Hermeto se comunicava desde gaiato com o mundo procedente, tendo pássaros, peixes e sapos o primeiro público.

Responsável do livro sobre Geraldo Vandré, “Uma Melodia Interrompida”, finalista do prêmio Jabuti, Nuzzi conta a história de Hermeto desde a puerícia em Olho D’Chuva.

“Fui para lá, ainda é um lugar muito ermo”, diz o responsável. “Conversei com parentes e pessoas que conheceram Hermeto e a família dele, e as histórias são incríveis. O pai de Hermeto tocava sanfona, mas o menino basicamente aprendeu tudo sozinho. E se Olho D’Chuva ainda é um lugar solitário hoje em dia, imagina em 1936?”

Nuzzi conta que o sobrenome da família era Da Costa, mas o menino ganhou, no cartório, o nome de Hermeto Pascoal porque o pai se chamava Pascoal da Costa. “Não sei se foi um erro do cartório ou uma confusão com os nomes”, diz Nuzzi, “mas o indumento é que o cartório registrou o nome dele porquê Hermeto Pascoal. O irmão mais velho de Hermeto, Zé Neto, tem o sobrenome Da Costa”.

Aos 14 anos, Hermeto e Zé Neto, também albino, foram tentar a sorte porquê músicos em Recife e logo atraíram a atenção de outro gênio músico —e também albino—, Sivuca, que disse sobre Hermeto: “Logo que o vi, percebi que ele tinha dentro dele o queima sagrado da música”.

Do Recife, Hermeto foi para o Sudeste, onde tocou em muitas boates e gravou discos no Rio e em São Paulo. Formou vários grupos, sendo um dos mais famosos o Quarteto Novo, ao lado de Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros.

No Rio de Janeiro, a família se instalou numa lar no logo remoto bairro Jabour, na Grande Bangu, zona oeste do Rio. A lar logo se tornou um ponto de encontro para músicos e lugar de experimentação sonora para Hermeto.

Nuzzi acredita que o grande salto criativo na curso de Hermeto ocorre na viradela dos anos 1960 para os 1970, quando ele passa dois ou três anos nos Estados Unidos, a invitação do par Airto Moreira e Flora Purim e volta com a teoria de libertar cada vez mais a sua música das amarras do comercialismo. “A mudança é nítida”, diz Nuzzi.

“Antes desse período nos Estados Unidos, Hermeto usava cabelo limitado, parecia tímido. Lá, ele mergulha no jazz, grava com Miles Davis e outros músicos geniais e retorna transformado. Tanto que, em 1973, de volta ao Brasil, grava um disco absolutamente fundamental, ‘A Música Livre de Hermeto Pascoal’. Ali o Hermeto se encontra”.

Outros momentos marcantes da curso do músico no período são, segundo o biógrafo, o show no Festival Internacional de Jazz realizado em 1978, em São Paulo, quando Chick Corea, John McLaughlin e Stan Getz fizeram questão de dar uma “canja”, e o concerto em 1979 no Festival de Montreux, na Suíça, que resultou não só no álbum “Hermeto Pascoal Montreux Ao Vivo”, porquê numa participação improvisada e antológica com Elis Regina.

Acompanhada exclusivamente por Hermeto ao piano, Elis interpretou três canções clássicas da música brasileira —”Asa Branca”, “Corcovado” e “Pequena de Ipanema”— que depois foram incluídas no álbum “Elis Regina: Montreux Jaz Festival”, lançado em março de 1982, logo em seguida a morte da cantora.

“Essa noite com a Elis foi um presente que ganhei da vida”, diz Hermeto. Nuzzi conta que Hermeto foi literalmente empurrado ao palco por Claude Nobs, organizador do Festival de Montreux.

Além de um relato fascinante sobre a geração do universo músico de Hermeto Pascoal, que resultou em seus memoráveis shows e gravações com sons de animais e da natureza, “Quebra Tudo!” conta a história de vida de um artista que batalhou muito para poder chegar ao estágio de ter totalidade liberdade criativa sobre sua arte.

Folha

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