Foi com a regravação de um sucesso dos anos 1980, “Escrito nas Estrelas”, que Lauana Prado conquistou o topo das paradas do Spotify no Brasil por duas semanas e dominou as rádios no primeiro semestre deste ano, ao lado de nomes superlativos uma vez que o de Gusttavo Lima.
A artista goiana substituiu o timbre agudo de Tetê Espíndola, autora da versão original, pela voz rasgada e grave que é uma de suas principais características, numa estratégia que espelha, de certa forma, sua própria curso, iniciada em 2012, quando foi semifinalista do primeiro The Voice Brasil, da TV Mundo.
Prado, finalmente, tem se pautado por resgatar a tradição, regravando não só “Escrito nas Estrelas” uma vez que uma série de clássicos do cancioneiro brasiliano, mas sem se prender ao pretérito, rompendo com estereótipos do sertanejo.
Num gênero hoje sem nenhuma figura de sucesso que não seja heterossexual —ao menos publicamente—, ela diz que contrariou recomendações dos profissionais com quem trabalhava e preferiu relatar ao público que é bissexual e que não faz secção da lado conservadora.
A artista de 35 anos mantém relacionamentos com mulheres em frente às câmeras e, nas últimas eleições, há dois anos, declarou suporte a Lula e criticou Jair Bolsonaro, indo contra a maioria dos colegas do sertanejo —em sua maioria em prol do ex-presidente.
“Sofri resistência, ouvi que não ia tocar mais em tal sarau. Mas, uma vez que cidadã e uma mulher que é mais do que uma artista, senti que tinha o recta de me expressar”, ela afirma, em entrevista por videoconferência, de sua moradia no interno paulista. “É gostoso sentir que não escondo zero do público.”
Prado diz que não teve prejuízos financeiros. Ela está, por exemplo, entre os escalados para penetrar a Sarau do Peão de Barretos, o templo do sertanejo, no interno paulista, em agosto. O evento tem a tradição de receber a visitante de políticos conservadores, uma vez que Bolsonaro, que são exaltados pela maior secção do público ali.
“Tem artistas que são parceiros de vida, frequentam a minha moradia, mas levantam bandeiras diferentes. E está tudo muito. A maioria dos contratantes conseguiu entender isso”, diz Prado. “Os mais intolerantes saíram perdendo, porque eu atraio público. Precisamos ter maturidade para não ofender ninguém ou tornar isso uma guerra, até porque zero pode invocar mais a atenção do que a música.”
Sua discografia reflete isso. Para o novo álbum, “Transcende”, que está sendo lançado por etapas desde junho, Prado fez parceria com nomes de diversas inclinações políticas, de Nando Reis, notadamente desempenado à esquerda, à dupla Zé Neto e Cristiano, que há dois anos se viu no núcleo de uma polêmica sobre cachês pagos a sertanejos por prefeituras depois de criticarem Anitta e a Lei Rouanet.
O nome de seu novo álbum, diz Prado, vem da teoria de transcender as barreiras do sertanejo e unir figuras diferentes. A gravação do projeto, que aconteceu no ginásio do Ibirapuera, na capital paulista, contou ainda com a presença de Simone Mendes, e da dupla Cristinas, formada por duas mulheres que ela conheceu num de seus shows e decidiu empresariar.
Prado não se diz secção do chamado “queernejo”, uma vertente do sertanejo que surgiu quase uma dez depois de ela principiar a trovar para reunir artistas da comunidade LGBTQIA . O subgênero, que tem uma vez que seu principal expoente Gabeu, rebento de Solimões, da dupla com Rionegro, tem dificuldade de estourar a bolha queer, por não ter investimento de gravadoras ou patrocínio de marcas.
Isso não quer expor, no entanto, que a música camufle sua bissexualidade. Exemplo disso é “Pegada Fraca”, tira lançada há murado de dois anos, que ela dedica tanto a homens quanto a mulheres. “Essa vai para todos os meus ex e para todas as minhas ex”, canta.
Mas a sertaneja diz que sempre rejeitou a teoria de sua vida amorosa pautar sua curso, ainda que possa despertar curiosidade do público. É uma escolha rara num momento em que o identitarismo se tornou um elemento medial no mercado do entretenimento. “Já sofri preconceito, mas, à medida que você mostra seu trabalho, ele vai caindo por terreno. Meu maior trunfo é minha música, e não quem eu sou”, ela afirma.
Prado, que começou a curso empresariada por Fernando Zor, da dupla Fernando e Sorocaba, estreou no topo das paradas com “Cobaia”, lançada há murado de cinco anos com Maiara e Maraísa.
Os versos carregados de sofrência —”quando for beijar alguém/ testa esse ósculo em mim”— a aproximam do maior nome do feminejo, Marília Mendonça. Mas, em algumas das faixas de “Transcende”, é notável que agora ela quer ir além do sofrimento. Para isso, a cantora dobrou a aposta na voltagem sexual dos romances conflituosos que canta, uma vez que em “Nivelado”, na qual diz não possuir problema em trespassar só para transar.
Prado ainda destaca as faixas “Modo Varão”, sobre “uma mulher que se decepcionou e agora não se envolve mais emocionalmente com as pessoas com quem se relaciona”, e “Sombra Desconhecida”, a primeira que lançou.
“Essa conta a história de alguém que terminou, mas volta à porta da moradia do ex e fica em incerteza se a pessoa está seguindo em frente, transando, ou sofrendo para voltar”, diz ela, que também passou por um término, no término do ano, ao romper com a influenciadora Verônica Schulz.
Sua voz, no entanto, é o que realmente a diferencia das outras mulheres do sertanejo, afirma Eduardo Pepato, um dos produtores mais requisitados do sertanejo, que assina a produção do trabalho.
“A gente usou muito violão, concertina, sanfona, instrumentos que dão a sensação de acústico”, diz ele. “Não tinha mulheres com essa voz no mercado, com esse ‘drive’, que é uma vez que chamamos a voz rasgada. Ela nem precisa expor seu nome no início das músicas, uma vez que muitos artistas fazem. Sua voz é inconfundível.”