Um ano em seguida RaMell Ross terminar de filmar “Nickel Boys”, ele aprendeu a voar.
Ross não sabe se se tornou piloto por depressão pós-grande-projeto, seu libido de testar coisas novas ou talvez exclusivamente por tédio. Mas depois de conciliar o romance vencedor do Prêmio Pulitzer de Colson Whitehead sobre dois meninos negros enviados para um reformatório no sul dos Estados Unidos sob as leis de segregação racial, Ross encontrou, no ar, a sensação que esperava que seus personagens pudessem inferir em seu filme: liberdade.
“Porquê pessoas negras, sabemos que uma das coisas fundamentais que nos foram roubadas é o tempo livre —quando não estamos preocupados com a pobreza ou com a morte”, Ross me disse no início de outubro durante um almoço em um restaurante francesismo no núcleo de Manhattan. “Voar para mim é um luxo americano que oferece uma relação única e uno com a sociedade e o mundo.”
“Nickel Boys” começa com a câmera olhando para o firmamento azul ingénuo. Logo a visão parece virar de lado, demorando-se em um pomar de laranjas próximo, exclusivamente para retornar para cima. O firmamento agora é tomado em um quadro bastante restringido, porquê se filtrado pela perspectiva de uma pessoa deitada no solo inferior.
Nesses primeiros segundos, Ross estabelece um ponto de vista que é tanto sobre ver nosso país através da lente de dois personagens masculinos negros, Elwood (Ethan Herisse) e Turner (Brandon Wilson), quanto sobre sentir que somos os meninos. Essa fusão perfeita da arte de olhar e do ato de ser desafia porquê assistimos a filmes e nos dá uma novidade maneira de testar a humanidade das pessoas negras na tela.
O romance de Whitehead em secção informa a experimentação. Narrado em terceira pessoa, “Nickel Boys”, o livro, é ambientado na dez de 1960 na Nickel Academy, um reformatório suposto fundamentado na Arthur G. Dozier School for Boys na Flórida (inicialmente chamada de Florida State Reform School).
Conhecida por torturar, agredir sexualmente e até enterrar seus alunos negros em sepulturas não marcadas, a escola administrada pelo estado esteve oportunidade por mais de um século, com mais de 81 crianças morrendo lá entre 1913 e 1973.
Apesar de a escola ter uma maioria negra, quando Whitehead se deparou com a história em 2014, os relatos de jornais e o site dos sobreviventes focavam principalmente em seus alunos brancos. Isso o levou a perguntar: “Quem eram os alunos negros? Quais eram suas histórias?”
Whitehead personaliza essa tragédia através da amizade entre Elwood, um estudante introspectivo e politicamente consciente que anteriormente estava talhado à faculdade, e Turner, uma figura carismática e empreendedora que inicialmente ressente, e depois passa a reverenciar, a relação de paixão de Elwood com sua avó. O final inesperado do romance é onde a estética de Ross começa.
“RaMell me disse que estava pensando em fazer nascente filme inteiramente em primeira pessoa”, disse o diretor de retrato Jomo Fray. “Mas rapidamente, em nosso processo de preparação, paramos de usar esse termo e começamos a usar a ‘perspectiva senciente’.”
A teoria “era nos permitir, porquê espectadores, viver a vida simultaneamente com Elwood e Turner, estar no mesmo momento presente deles, estar dentro de seus corpos”, explicou Fray.
Eles abordaram cada cena que apresentava uma pessoa com sensibilidade aumentada. “Não era que RaMell quisesse mostrar a visão, queríamos gerar uma imagem que parecesse ver, o que parece ser a mesma coisa, mas acho que há uma ligeira diferença em tentar gerar a sensação de visão”, continua Fray.
Para se preparar, eles projetaram cenas porquê planos-sequência, compiladas em uma lista de 35 páginas, com espaçamento simples. Essa abordagem significava que a câmera sempre trabalhava em coreografia apertada com os atores.
O documento os ajudou a redefinir conceitos padrão do cinema porquê um golpe ou uma tomada de estabelecimento e deu direções hiperdetalhadas para o movimento da câmera. Eles também usaram uma proporção de paisagem semelhante às antigas telas de televisão. A razão era dupla: manter a conformidade visual entre os atores e imagens de registro de, por exemplo, Martin Luther King Jr. ou cenas do drama de fuga da prisão “Acorrentados”, de 1958, e imbuir suas imagens com uma sensação de confinamento.
Lentes teleobjetivas e outros dispositivos permitiram que a câmera transmitisse deriva e queda —semelhante aos nossos olhos varrendo um campo ou abaixando nossas cabeças. E câmeras usadas por Herisse e Wilson, e em alguns casos pelo próprio Fray porquê se estivesse interpretando seus personagens, proporcionaram totalidade subjetividade.
“É uma conquista impressionante”, escreveu a sátira de cinema dirigente do New York Times, Manohla Dargis, em sua resenha, e os eleitores de prêmios ecoaram seu louvor. O filme conquistou dois Gotham Awards, incluindo um para Ross, e está concorrendo ao Mundo de Ouro de melhor drama.
Embora “Nickel Boys” seja o primeiro longa-metragem de Ross, ele se baseia no sucesso e na sensibilidade de seu documentário experimental de 2018, “Hale County This Morning, This Evening”, sobre dois jovens afro-americanos, Daniel e Quincy, no Alabama.
Filmado ao longo de cinco anos enquanto Ross também trabalhava porquê professor de GED deles, o filme é uma exploração silenciosa, poética e panorâmica das vidas diárias no coração do Cinturão Preto da América. Ele ganhou um prêmio privativo do júri no Sundance e foi indicado ao Oscar.
Antes de Ross e eu nos sentarmos para almoçar, nos encontramos no African Burial Ground, um monumento pátrio no núcleo de Manhattan devotado a mais de 15 milénio africanos livres e escravizados na Novidade York colonial cujos sobras foram encontrados durante uma escavação arqueológica em 1991. Dada a semelhança dessa invenção com a risca da história em “Nickel Boys”, pensei que nosso tour poderia levar a uma conversa envolvente sobre história, memória e luto. E levou.
Mas esta também foi minha segunda vez entrevistando Ross (a primeira foi para o documentário “No Interno do Alabama: A Vida em Hale County”), e eu havia esquecido porquê nossas trocas podiam ser animadas. Quando terminamos no restaurante, 2 horas e meia haviam se pretérito. Ele tem a fluidez de uma mente artística profunda e, para mim, porquê professora, a privança de uma mente acadêmica rápida. Mas ele também é naturalmente caloroso, levemente sardônico e tão interessado em ouvir quanto em compartilhar suas ideias.
Nascido na Alemanha, Ross foi criado no setentrião da Virgínia, e depois se formou na Georgetown University, onde, com impressionantes 1,98 m, jogou basquete pelos Hoyas. Hoje em dia, ele vive em Providence, Rhode Island, onde ensina cinema na Brown University, mas também tem uma vivenda no Alabama.
Ele não exclusivamente anseia por voar para lá (“Quero olhar para todo o Alabama, sabe o que quero proferir?”), mas também é agora o único lugar que ele fotografa. (“Ainda quero fazer outro filme sobre Hale County. Sem pressa”, disse ele. “Pode ser em 20 anos; posso morrer antes. Não sei, mas ainda estou filmando.”)
Enquanto trabalhava em “Nickel Boys”, Ross disse que se perguntou: “E se Turner ou Elwood estivessem fazendo ‘Hale County’ e tivessem uma câmera porquê um órgão recluso aos olhos o tempo todo? Porquê eles a moveriam? Porquê seria? O que veriam?”
Ross tentou imaginar o mundo deles da maneira que eles o imaginariam. Ele portanto “desafiou a mim mesmo a ver melhor por eles.”
Depois de ver ao seu documentário, Aunjanue Ellis-Taylor, que interpreta a avó de Elwood, imediatamente contatou Ross para lhe informar o quanto “Hale County” a havia afetado. Trabalhar com ele em “Nickel Boys” foi ainda mais transformador.
“Estou mais orgulhosa de porquê RaMell responde à falta de narrativas íntimas e complexas sobre a vida negra”, ela me disse. “Uma resposta poderia simplesmente ser que precisamos de mais em termos de volume e diferentes tipos de histórias. Simples, eu levantaria minha mão em concordância, mas ele está dizendo que isso não é suficiente, que a câmera e porquê fazemos o filme também realmente precisam ser interrogados.”
No entanto, subverter as convenções formais do cinema é exclusivamente secção de porquê Ross homenageia as vítimas negras da Escola Dozier. Ele também evita habilmente desumanizá-las ao sugerir a violência que sofreram em vez de destacá-la.
Por exemplo, ele não mostra o agravo físico infligido aos alunos negros quando o superintendente branco da Nickel Academy (Hamish Linklater) os leva para as partes de trás da escola. Em vez disso, Ross revela a brutalidade devastadora compartilhando as experiências sensoriais de Elwood enquanto ele espera na sala ao lado por sua vez de ser espancado.
Ouvimos os sons do chicote e o grito humano, olhamos nervosamente para uma Bíblia no solo e os botões na camisa do menino tremendo ao lado dele. Ao intercalar imagens históricas de meninos negros que frequentaram a escola Dozier com as memórias de Elwood, Ross intensifica a veras do traumatismo racial sem comprometer a honra daqueles que o suportaram.
Ao mesmo tempo, Elwood e Turner são ainda mais vibrantes e vulneráveis na tela porque a abordagem sistemática de Ross conquista a intensidade e a intimidade das atuações de Herisse e Wilson.
“Existem tantos roteiros que li ou tantos filmes que vejo que têm pouca nuance ou anfibologia sobre o que um ser humano está sentindo ou que emoção está sendo expressa”, disse Herisse. “É muito monocromático, mas a atmosfera que RaMell cria é uma liberdade na qual podemos nos expressar em todo o espectro de cores e estar completamente presentes, e dessa forma, nossos papéis dão vida aos nossos personagens.”
Porquê resultado, “Nickel Boys” pode potencialmente expandir o círculo de espectadores que empatizam com seus personagens negros para agora se identificarem com os cidadãos negros da América. “Para os membros da audiência que estão assistindo a tudo isso do ponto de vista desses dois, eles não podem se separar da forma que conseguem com outros filmes”, disse Wilson.
“Eles não podem ser meros observadores. Você é trazido para o íntimo deles, e por desculpa disso, acho que há uma experiência muito privativo que você sente ao ver, onde você se conecta, na falta de uma vocábulo melhor, à humanidade de Elwood e Turner. Você quer que eles vivam o supremo verosímil.”