Como O Meu Tênis Encardido Cativou Liam Gallagher No Rio

Como o meu tênis encardido cativou Liam Gallagher no Rio – 27/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Se a roda músico rodopiar porquê ela tem sempre girado, a ressuscitada margem Oasis deve trazer suas confusões e seus marcantes clássicos ao Brasil em 2026 ou 2027. Pode ortografar e me cobrar. E, simples, levando em consideração o humor dos irmãos Gallagher, confusões não nos shows, mas as que um tem com o outro.

Com a primeira segmento da turnê de 14 concertos pelo Reino Unificado mais Irlanda, Noel e Liam devem passar ainda em 2025 por alguns estádios americanos. Dizem até que há um show programado para a Cidade do México. As apresentações nos festivais de verão europeus devem ser a partir do Glastonbury em 2026, geralmente em junho. Aí nossa chance começa.

No final de 2026, ou eles se mandam para a Ásia ou vão passar uns dias na América do Sul, onde há um mercado considerável para bandas internacionais. Uma vez que Oasis tem seus shows geridos pela Live Nation, uma das maiores produtoras do mundo, o grupo que liderou o britpop nos anos 1990 pode parar num Rock in Rio. Ou no MorumBis, no plural mais porque não deve ser exclusivamente um show no estádio do São Paulo, que

tem consonância com a Live Nation.

Se assim for, ou se a margem sentenciar se apresentar em 2025 no mastodôntico festival The Town com a Live Nation, o que acho difícil, seria a quinta visitante dos Gallaghers juntos ao Brasil. A primeira foi com dois shows em 1998, e a última, há 15 anos, com apresentações no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Curitiba e em Porto Jubiloso.

As outras duas passagens do Oasis pelo Brasil foram especiais além da conta. Em 2006 foi o dia do “dilúvio” na apresentação única que o Oasis fez em São Paulo, no desvelado estacionamento do Credicard Hall. A margem ficou com tanto dó do público paulistano encharcado que tocou o hino “Supersonic”, fora das setlists daquela turnê, de presente.

O show de 2001 foi no colossal Rock in Rio daquele ano, que tinha ainda R.E.M., Neil Young, Foo Fighters, Red Hot Chili Peppers. Eu participava da cobertura do festival neste jornal e, naquele dia, fui incumbido de escoltar a entrevista coletiva que aconteceria num hotel do Rio, com Noel Gallagher envolvido.

Quando Noel já tinha falado o que tinha de falar e sumido da sala, enquanto outros artistas do festival estavam ao microfone, me avisaram que o Oasis inteiro estava à borda da piscina do hotel, localizada na cobertura.

Guardei o bloquinho de anotações e a caneta, despistei um segurança, me enfiei num elevador, tal qual um hóspede, e fui parar na piscina. Estava a margem inteira lá, pegando um sol, com roupas normais,

isto é, sem trajes de banho.

Me aproximei para um papo de fã, sem caráter de entrevista, para não ser expulso do lugar. Puxei uma conversa sobre o Rock in Rio e os Gallaghers meio respondendo, meio não dando a menor globo para mim. Até que Liam olha para os meus pés e não tira mais os olhos de mim.

Foi quando ele interrompeu minha conversinha e perguntou onde eu tinha descolado o meu calçado, no caso um tênis Adidas de futebol de salão preto e branco, fuleiro, que eu levei exatamente para ralar no festival. Pensava mesmo até em jogar fora quando a cobertura toda acabasse.

Eu respondi que comprei cá mesmo, no Brasil, que talvez aquele padrão não existisse no Reino Unificado nem nos Estados Unidos porque era de futebol de salão, um esporte na era, e talvez até os dias atuais, tipicamente brasílico.

Continuei tentando arrancar afirmações sobre o show, mas quando Noel abriu a boca para manifestar um tanto bom mesmo para a minha reportagem, Liam chamou a atenção do irmão para comentar. “Você viu o padrão do tênis dele?”

Aquele papo não foi para a frente, as afirmações do grupo não renderam, e portanto pedi para tirar uma foto deles, com uma câmera simples daqueles tempos, daquelas que tinham cartão de memória.

No meu hotel, depois, fui ver que a foto de Noel saiu qualquer coisa. Mas a de Liam, por uma ensejo que só o Rio de Janeiro proporciona, saiu estupenda, com o mais novo dos Gallaghers fazendo pose de rock star, cigarro na boca, camiseta regata branca e a pele já vermelhaça do sol poderoso brasílico, com o Pão

de Açúcar e o mar detrás dele.

A retrato acabou virando um pôster, que foi gravado no semanário britânico New Músico Express, e eu acabei faturando umas libras por desculpa disso. E não! Não deixei o tênis “dissemelhante” de presente para Liam Gallagher. Era meu.

Folha

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