Como Rino Levi Mudou A Cara De São Paulo; Veja

Como Rino Levi mudou a cara de São Paulo; veja fotos – 24/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Por pouco, Brasília poderia ter sido muito dissemelhante do que é. O projeto de Rino Levi para a capital do país previa complexos de torres organizados ao largo de uma risco reta, um detrás do outro, salpicando de concreto a paisagem virgem do encerrado.

Cada multíplice teria oito edifícios de 300 metros de profundeza —muro de 80 andares—, cortados por ruas internas de 400 metros de extensão, onde estariam comércios, creches, centros de saúde e praças, acessíveis a pé. Os carros ficariam estacionados no térreo.

Era uma proposta radical, e Levi acabou ficando em terceiro lugar no concurso para o Projecto Piloto de Brasília. Mesmo assim, seu projeto teve bastante reconhecimento por arquitetos e é lembrado até hoje.

Agora, o estampa e uma maquete do projeto podem ser vistos numa exposição em São Paulo que recupera a vida e a obra deste expoente da arquitetura moderna brasileira, responsável por mudar, em seus mais de 60 anos de vida, a forma da capital paulista.

Em paralelo à exposição, a editora Monolito lança o “Rino Levi – Designer”, com uma biografia de Levi ilustrada por fotos de era. A publicação dá destaque à uma habilidade menos conhecida do arquiteto, a de designer de móveis, e serve uma vez que texto de introdução ao sofá Olivo, desenhado por ele e posto no mercado recentemente, pela primeira vez.

Na mostra, na Granja Lane, organizada por Abilio Guerra e Renato Anelli, ambos estudiosos do trabalho de Levi e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, o público vê quatro fases da obra do arquiteto —seus projetos não realizados, os que foram construídos e depois demolidos, os preservados e restaurados, e aqueles que ainda estão em pé, porém em ruínas.

Em fotos, vídeos, maquetes e textos, entendemos a pluralidade do vocabulário arquitetônico de Levi. Porquê um profissional de mercado, ele desenhou prédios para diferentes fins —por exemplo, os hospitais Albert Einstein e A.C. Camargo, os edifícios residenciais Prudência e Higienópolis, uma sede do banco Itaú, os cinemas Ipiranga e Art-Palácio e o teatro Cultura Artística, talvez sua obra mais conhecida.

Recém-reaberto depois anos em restauro, o Cultura Artística ganha uma seção privativo no segundo andejar. Há farto material de quando o teatro foi inaugurado, imagens do incêndio que o consumiu e também uma reprodução, em graduação realista, da mão de uma das musas do quadro de Emiliano Di Cavalcanti instalado na frontaria. “Quem chega perto de um mural desses?”, questiona Guerra, um dos organizadores.

Em outra sala, vídeos mostram imagens de drone dos prédios de Levi abandonados e fotografias de seus interiores aos pedaços, feitas por Cristiano Mascaro e Nelson Kon, que tiveram entrada ao Cine Art-Palácio, hoje pichado e com pedaços das paredes caindo.

Ruínas à segmento, a exposição pretende apresentar “um arquiteto que é pouco espargido do público, mas que contribuiu tanto para a construção da cidade do jeito que ela é hoje”, nas palavras de Anelli, o outro organizador.

Fruto de imigrantes italianos radicados em São Paulo, Levi não cresceu nem na mediocracia, nem na periferia. Seus pais tinham recursos suficientes para enviar o jovem para a Itália —sua formação em arquitetura aconteceu em Milão e Roma, de 1921 a 1926, em meio ao desenvolvimento do movimento racionalista, que propunha construções despojadas de ornamentação e com superfícies envidraçadas.

“Ele volta para o Brasil em 1927 com ideias em ebulição, mas não completamente maduras. Foi pegando os serviços que conseguia”, conta Anelli, acrescentando que foi a partir de 1930, depois de Levi visitar a Morada Modernista de Gregori Warchavchik, na Vila Mariana, que o arquiteto se deu conta de que havia público interessado em projetos mais radicais. Só portanto começou a praticar o que aprendeu na Europa.

Em 1934, Levi inaugurou o prédio Columbus, considerado o primeiro prédio residencial de luxo de São Paulo e também um marco na cidade que se modernizava —o arquiteto foi um dos principais agentes no processo de verticalização da capital. O prédio foi demolido para dar lugar à uma garagem.

Ele também empregava em suas obras um concepção hoje muito em voga, a frontaria ativa, mas que na era não levava esse nome e era somente segmento de um bom projeto, que consiste na integração da base do prédio com a rua e os pedestres.

Um exemplo, cita Guerra, é o prédio de escritórios, hoje ocupado pelo banco Itaú na avenida Paulista, na esquina com a rua Frei Caneca, em que a frontaria de vidro do térreo se relaciona com a passeio. O prédio também “tem a marquise que protege as pessoas da chuva, uma gentileza urbana que só acontece no Conjunto Pátrio”, diz ele, ao comentar o legado de Levi para a cidade.

Levi também desenhava casas particulares, a exemplo da que criou para o industrial Olivo Gomes, no início dos anos 1950. Mas seus projetos eram mais do que a estrutura —os desenhos traziam o layout dos ambientes, incluindo móveis fixos e soltos para comporem os interiores.

Para esta morada em São José dos Campos, no interno de São Paulo, ele projetou um sofá longo e sem braços, com o assento de almofadas soltas e o encosto meio flutuando. Sofás semelhantes, com a estrutura em madeira ou aço, apareceram também em outras casas desenhadas pelo arquiteto, mas sempre foram peças únicas, sem nunca ter uma produção em série vendida em lojas.

Até aquele momento, sua peça de mobília mais conhecida era a cadeira do auditório do Cultura Artística, com um sistema de molas que recolhia o assento para liberar espaço no galeria. Esta poltrona não é mais a do teatro hoje.

“Ele nunca se enxergou uma vez que designer de mobiliário, nunca valorizou sua produção uma vez que designer. Ele criava isso uma vez que peça para conceber os ambientes dele”, afirma Fernando Serapião, responsável do livro “Rino Levi – Designer”, acrescentando que na era não havia uma indústria brasileira produzindo designs locais. “Havia dificuldade, nos anos 1950, de comprar peças com qualidade estética no mercado pátrio.”

Levi costumava importar os móveis do par Eames e de Alvar Aalto para mobiliar as casas que desenhava, conta Serapião, de modo que algumas das peças, de tão usadas pelo arquiteto, passaram a ser confundidas uma vez que se fossem de sua autoria. Ele projetou espreguiçadeiras e cadeiras de jantar.

Especializada em traste assinado brasílico, a Dpot fez um resgate histórico e passou a produzir e a vender leste ano o sofá Olivo, tal uma vez que desenhado por Levi. Um réplica está em exposição na Granja Lane, não uma vez que peça de museu, mas uma vez que segmento da mobília de uma sala. E é verosímil sentar, tornando a peça útil, assim uma vez que o arquiteto imaginou.

Folha

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