Sergio Mendes, pianista niteroiense que morreu nesta sexta-feira (6) aos 83 anos em Los Angeles, tornou-se uma espécie de mensageiro da música brasileira no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, onde morava havia pouco mais de seis décadas, o que o fez se tornar muito mais reconhecido por lá do que por cá.
Não que no Brasil faltassem admiradores. Para reportar três exemplos, que bastam: Pelé, fã dele antes mesmo de se mudar para Novidade York e tutelar as cores do Cosmos; o genial compositor, saxofonista e arranjador Moacir Santos, que foi professor do pianista; e Tom Jobim.
“A música existe, o paixão existe, Deus existe, quem é oriente faceta? Sergio Mendes já tocou piano para todo o Brasil e também na Europa e nos Estados Unidos. Onde quer que oriente moço se sente, num piano, todo mundo fica sabendo que está diante de um músico inopinado”, disse Jobim nos anos 1960.
Jobim e Moacir dividiram os arranjos das dez faixas do terceiro e mais importante disco de toda a extensa discografia de Mendes —”Você Ainda Não Ouviu Zero”, lançado no verão de 1964 pela Philips. Na companhia do espetacular sexteto Bossa Rio, ele interpretou temas de Jobim e foi o primeiro a gravar “Coisa nº 2” e “Coisa nº 5 – Nanã”, um ano antes do cultuado álbum “Coisas”, de Moacir Santos.
Mendes tocou pela primeira vez nos Estados Unidos em novembro de 1962. Ele e o Bossa Rio foram a primeira atração do famoso show que apresentou a bossa novidade para 3.000 pessoas no Carnegie Hall, em Novidade York. Na plateia, havia estrelas uma vez que Miles Davis, Dizzy Gillespie, Gerry Mulligan e Herbie Mann.
Àquela profundidade, o jazz não era novidade para Mendes, que desde os anos 1950 admirava o estilo. Entre os pianistas estrangeiros, os que mais faziam sua cabeça durante a juventude eram Stan Kenton e, principalmente, Horace Silver.
Em 1964, depois de usar uma vez que laboratório de experimentação e formação os pequenos palcos do Beco das Garrafas, em Copacabana, e de se firmar entre os principais destaques em seu instrumento, ao lado de nomes uma vez que Johnny Alf, João Donato, Dom Salvador e Luiz Eça, Mendes partiu em definitivo para os Estados Unidos.
“Rodriguinho barra limpa, primeiro realista mágico de Niterói, avisa ao tio Lee que a ordem do dia é fralda larga e leite morno.” O que era para ser somente um telegrama de Mendes para o camarada e pintor Wesley Duke Lee celebrando o promanação de seu primeiro fruto, Rodrigo, transformou-se em despedida para o pianista e compositor.
O golpe militar acabara de eclodir no Brasil e, no dia seguinte à correspondência, os militares invadiram o apartamento de Mendes na rua Belisário Augusto, em Niterói, para prendê-lo por julgarem subversivo o teor da missiva.
Além da perseguição, Mendes entendia que o mercado extrínseco ofereceria mais oportunidades para a sua música instrumental —com o balanço rítmico brasiliano, expressividade e harmonias consideradas modernas.
A percepção não falhou. Nos Estados Unidos, depois de dois anos e de alguns discos gravados pela Atlantic e pela Capitol, ele reuniu músicos brasileiros e americanos e formou o conjunto Brazil ‘66, do qual fazia secção também sua mulher, a cantora Gracinha Leporace.
O sucesso mundial veio em 1966, com o álbum “Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brazil ‘66”, de quem carro-chefe era o samba “Mas que Zero”, escrito por Jorge Ben Jor. Mendes se orgulhava de pela primeira vez uma música cantada inteiramente em português ter chegado às cinco mais tocadas da paragem de sucessos da revista Billboard. “‘Pequena de Ipanema’ foi um estrondo mundial, mas cantada em inglês pelo Tom e pelo Sinatra”, dizia.
Com o Brazil ‘66, o pianista gravaria mais oito discos. Nas décadas seguintes, foi fazendo adaptações na formação do conjunto e, também, reciclando o nome do grupo, que nos anos 1970 passou a se invocar Brazil ‘77 e, depois, Brazil ‘88, mesclando à brasilidade de seu piano a elementos do R&B e da estética pop americana.
A mistura, que lhe rendeu com o disco “Brasílio” o Grammy de melhor álbum de “World Music” em 1993, despertava críticas negativas no Brasil. Os descontentes alegavam que Mendes passara a fazer música brasileira “para gringo ouvir”.
Preferências e opiniões à secção, o pianista seguiu amealhando admiradores estrelados de diferentes gerações, entre eles Stevie Wonder, Erykah Badu, Frank Sinatra, John Legend, Sarah Vaughn, Justin Timberlake, passando por Janelle Monae, Gilberto Gil, Milton Promanação, Hermeto Pascoal, Marcelo D2, Carlinhos Brown e Seu Jorge.
Boa secção dos fãs mais novos chegou à obra de Sergio Mendes por meio do álbum “Timeless”, gravado em 2005, com destaque global para a regravação de “Mas que Zero” feita pelo pianista com o grupo Black Eyed Peas.
O disco teve produção de Will.i.am, que foi à morada do pianista fazer o invitação da colaboração. “Abri a porta, e Will estava segurando uma caixa com minha discografia completa. Quando um faceta uma vez que ele diz que é meu fã de carteirinha, penso, sem vaidade, que a música é mesmo atemporal”, disse Mendes, em 2010.
Naquele mesmo ano, pude constatar o reverência que Mendes despertava em ícones da música mundial. Nos bastidores do North Sea Jazz Festival, em Curaçao, no Caribe, vi lendas uma vez que George Benson e Lionel Ritchie pararem tudo o que estavam fazendo para abraçá-lo o e se derramarem em elogios.
Sergio Mendes se apresentou duas vezes na Moradia Branca. Em 1971, para o presidente Richard Nixon, e em 1982 para Ronald Reagan. No cinema, trabalhou nas trilhas sonoras de “Pelé”, lançada em disco em 1977, e das animações “Rio” e “Rio 2”, de Carlos Saldanha. Em 2020, o pianista teve sua trajetória retratada no documentário “Sergio Mendes: In The Key of Joy”, dirigido por John Scheinfeld, com lançamento para o mercado brasiliano no ano seguinte.