Como Trump transforma a cultura em arma de propaganda – 28/04/2025 – Ilustrada

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Nesta semana em que o governo de Donald Trump completa centena dias, Jon Voight quer se encontrar com o presidente. O ator veterano de filmes uma vez que “Perdidos na Noite” e o republicano devem debater uma vez que restaurar a chamada era de ouro de Hollywood, que hoje vê uma crise nas bilheterias.

Junto de Mel Gibson e Sylvester Stallone, Voight foi nomeado legado do presidente em Hollywood, “um lugar maravilhoso, mas muito problemático”, nas palavras de Trump. A Califórnia é, finalmente, um reduto democrata de celebridades que apoiaram sua adversária Kamala Harris. Voight afirmou à dependência de notícias Reuters que vai propor um projecto de incentivos fiscais federais para “trazer empregos de volta a Los Angeles”.

Essa infiltração do governo em Hollywood, porém, é vista por especialistas uma vez que mais uma entre várias ações de Trump que compõem uma ofensiva em direção ao setor cultural americano, na tentativa de controlar o que a população acessa nos cinemas, em museus e bibliotecas. Elas se somam ao pacote de tarifas do presidente que deixou as cabeças por trás do mercado da arte de cabelo em pé.

O libido de Trump é que as artes valorizem um suposto pretérito belo e grandioso dos Estados Unidos. Porquê em um monumento aos deuses na Grécia Antiga, estátuas de George Washington, Mark Twain e Martin Luther King Jr. serão dispostas no Jardim Vernáculo aos Heróis Americanos, projeto ainda sem lugar definido, mas orçado em US$ 64 milhões, um tanto que pode se concretizar com o uso de verbas retiradas de museus e bibliotecas.

O projeto receberá recursos do Fundo Vernáculo para as Humanidades, conhecida uma vez que NFH, dependência federalista que financia museus, monumentos históricos e projetos de pesquisa pelo país. Em tese, o órgão é independente do governo, mas neste mês anunciou namoro de 85% de seus repasses depois seu diretor interino, Michael McDonald, expressar que os fundos seriam direcionados às prioridades da Mansão Branca. Entre as instituições que dependem da NFH está a National Gallery, em Washington, um dos museus mais importantes do país e responsável por velar obras de Leonardo da Vinci e Van Gogh.

Em março, Trump incluiu o Instituto de Serviços de Museus e Bibliotecas, o IMLS, em uma lista de sete agências independentes responsáveis por repartir numerário federalista que devem ser desmanteladas “o sumo provável permitido em lei”. O IMLS é responsável por repassar, anualmente, murado de US$ 200 milhões para 123 milénio bibliotecas e 35 milénio museus espalhados pelo país.

O republicano assinou também uma ordem executiva em que acusa museus de reescrever a história americana ao exibirem vestígios com temáticas queer ou com olhar crítico para temas uma vez que raça e gênero. O documento abre caminho para a reconstrução de monumentos confederados —motivo de protestos do movimento antirracista Black Lives Matter depois a morte de George Floyd, em 2020.

Entre os museus repreendidos está o Smithsonian American Art Museum, na capital federalista, que tem uma das mais importantes coleções de arte do mundo. A novidade ordem proíbe “gastos com exposições que degradem os valores americanos, dividam os americanos com base em raça ou promovam ideologias inconsistentes com a lei e as políticas federais”.

“A intenção é cristalina: eles querem branquear a história americana e reescrevê-la a partir de uma perspectiva patriótico branca que apaga negros, mulheres e pessoas LGBTQIA+. Qualquer coisa que vise educar sobre as histórias de racismo agora é considerada uma prenúncio”, diz Julia Bryan-Wilson, professora de arte contemporânea e estudos LGBTQ+ da Universidade de Columbia, em Novidade York.

Em janeiro, com mais uma canetada, Trump já tinha encerrado o programa de Joe Biden que impulsionava iniciativas de pluralidade em instituições federais, o que levou ao cancelamento de algumas exposições, entre elas uma que contava histórias de pessoas queer no Caribe colonial, no Museu de Arte das Américas. Em paralelo, funcionários do Smithsonian disseram que artefatos começaram a ser retirados do Museu Vernáculo de História e Cultura Afro-Americana, em Washington.

Trump também determinou que estilos mais clássicos de arquitetura fossem aplicados a edifícios públicos, em repudiação ao modernismo. A ordem é rechaçada pelo Instituto Americano de Arquitetos.

Quem também já contra-atacou as medidas do republicano é a Associação Americana de Bibliotecas, que processou Trump. O mesmo foi feito por procuradores-gerais de 21 estados. Eles argumentam que as ações são ilegais, visto que é o Congresso que deve determinar uma vez que será feito o repasse de verbas a agências federais.

“Embora a ordem executiva para expulsar o IMLS não censure livros diretamente, ela representa um ataque às bibliotecas dos Estados Unidos, limitando o aproximação das pessoas a recursos e serviços de informação essenciais”, afirma a presidente da associação, Cindy Hohl, à Folha.

A exprobação a livros já virou tradição nos Estados Unidos. Células de ativismo conservador aplaudidos por Trump, uma vez que o Moms for Liberty, agem para banir livros que tratam de racismo, sexualidade e política de bibliotecas. Em estados uma vez que a Flórida, reduto republicano, esses grupos ganham lastro jurídico por meio de leis uma vez que a “Stop Woke Act”, que proíbe escolas e empresas de tocarem nesses assuntos.

Segundo a PEN America, organização que defende a liberdade de frase na literatura, houve 10.046 casos de desterro de livros no ano pretérito, que afetaram 4.231 títulos. “Embora o número de contestações individuais a livros possa estar diminuindo, a quantidade de livros retirados das prateleiras não está”, diz Lee Rowland, diretor-executivo da Coalizão Vernáculo contra a Increpação. “Isso provavelmente levará muitas instituições e artistas a se autocensurarem, seja para conseguirem financiamento, seja para continuarem existindo sem serem notados pelo governo”, acrescenta Elizabeth Larison, da mesma instituição.

No mês pretérito, um cinema em Miami Beach exibiu o filme “Sem Solo”, vencedor do Oscar de melhor documentário. O longa mostra a violência das forças israelenses sobre os palestinos. O prefeito Steven Meiner, portanto, anunciou que iria evacuar o cinema, que fica num imóvel pertencente ao poder público, e bloquear uma verba de financiamento por ter exibido um filme que, em sua visão, é antissemita.

Ainda que Hollywood não dependa de financiamento estatal para continuar gerando bilhões de dólares por ano, a indústria também não quer queimar seu filme com Trump. “Na negociação internacional, ele protege a própria indústria. Nos Estados Unidos, o cinema está mais no campo da indústria do que da cultura”, diz José Roberto Sadek, profissional em cinema e professor da Instalação Armando Alvares Penteado. “Metade da população, mais ou menos, concorda com Trump. Essas pessoas são mercado. Pode ser que alguns temas polêmicos de comportamento sejam evitados por estúdios.”

Mas o pregão de novas taxações para o negócio internacional no início do mês foi um baque e causou possante consumição nos bastidores —principalmente em relação às possíveis réplicas dos países afetados, afirmam pessoas próximas à indústria em quesito de anonimato. E a preocupação continua, ainda que Trump tenha gelado o tarifaço por 90 dias.

Até lá, será cobrada uma tarifa de 10% sobre as importações de todos os países —com exceção da China, que, aliás, detém o segundo maior público de cinema do mundo depois dos Estados Unidos. Porquê retaliação às tarifas de 145% para produtos chineses que entraram nos Estados Unidos, Pequim prometeu diminuir as importações de filmes americanos.

O projecto tarifário de Trump deu um término declivoso à sua lua de mel com bilionários, entre eles donos de big techs e serviços de streaming, uma vez que Jeff Bezos, possessor da Amazon e do Prime Video, e Tim Cook, da Apple e do Apple TV+. Isso no momento em que vários países, inclusive o Brasil, discutem a regulamentação dessas plataformas, o que pode restringir as liberdades que essas empresas têm fora dos Estados Unidos e, consequentemente, sua margem de lucro.

O tarifaço amedronta também o mercado da arte. Por fim, foi a isenção que fez dos Estados Unidos um polo internacional de comercialização de obras —grandes galerias têm sede em Novidade York, e a Art Basel de Miami se tornou a feira de arte mais próspera do mundo.

Se a taxação de Trump recair no setor, o impacto será enorme, diz Jones Bergamin, possessor da Bolsa de Arte, a maior lar de leilões do Brasil. “Vai afetar muito as grandes galerias, que têm altos custos anuais. O volume de vendas vai tombar, mas vão preferir não descair o preço das obras para não passar a sensação de que o artista está perdendo o valor”, diz. A baixa, ele acrescenta, ainda pode diminuir novas aquisições de museus uma vez que o Museu de Arte Moderna e o Guggenheim, que renovam seu montão em grande secção com doações.

Não é por contingência que os artistas que mais têm se posicionado explicitamente contra Trump são astros da música, uma vez que Billie Eilish. A indústria músico depende pouco do esteio do governo, e a taxação quase não atrapalha seus negócios —hoje, os fonogramas são digitais e não pagam impostos de importação, e as estruturas de shows para turnês internacionais ficam a incumbência do país anfitrião.

Folha

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